Mari 11/01/2016
"Do que vale a vida?"
Doze Por Doze é um projeto que une doze autores em um livro. Esses doze autores são responsáveis, cada um, por um conto que se refere a um mês do ano e, juntos, estão unidos para compartilhar histórias e leitores. Conheci o projeto através da Thati Machado, autora de Ponte de Cristal e idealizadora do projeto que dá título ao livro resenhado aqui hoje. Ela me convidou para ser leitora beta do livro e, obviamente, fiquei logo empolgada com a ideia. O livro chegou ontem para mim eu não hesitei em começar a leitura, mas, antes de começar a resenha devo contar algo engraçado que aconteceu: enviei o arquivo por e-mail para meu Kindle e, por obra do destino, ele se converteu para o formato errado, me impossibilitando de conferir a diagramação do e-book e os autores de cada conto por conta da mesma. Achei ruim antes de começar a leitura, mas logo depois de terminar o primeiro conto minha ideia mudou: ler sem saber quem havia escrito e ficar tentando adivinhar quem era o autor de cada conto tornou a leitura ainda mais divertida para mim.
"Eu fui a garota invejada por todas naquele verão, a que viveu um sonho que enfeitou a vida sem cor durante todo o ano."
Salada Mista é o primeiro conto do livro. Estamos em Janeiro e conhecemos Bia, uma adolescente que há um ano tem um único desejo: rever o garoto que roubou seu coração no verão de 2014. Sua melhor amiga, Pipa, organizou um luau em uma noite chuvosa e Bia estava decidida a não ir, mas uma mensagem acaba mudando seus planos. O garoto que ela tanto desejou reencontrar estava de volta e, finalmente, eles teriam outra chance juntos. Mas pode ser que a emoção que ela esperou durante um ano acabe apenas em uma noite.
Nos primeiros momentos do conto Karina Rocha nos reserva um pouco de mistério. Quem é o garoto que fez o verão passado de Bia ser tão memorável? O que será que irá acontecer quando eles se encontrarem? Logo essas perguntas são respondidas e outras surgem - tanto para nós, leitores, quanto para a personagem - e somos surpreendidos. Na primeira aparição de alguém (não quero dar spoilers), percebi que existia algo ali, e não estava errada. A escrita de Karina torna a leitura rápida, mas o final não me cativou. A personagem até justifica algo com o fato de ter guardado algumas lembranças no fundo da memória, mas eu esperava que ela fosse pensar um pouco antes de tirar certas conclusões e fazer a proposta final. O final não é ruim, porém acho que uma mudança de sentimentos como aquela em poucas horas soou forçado para mim, mesmo que nada tenha garantia no final. Não digo que é impossível, claro.
"Os fracos julgam, mas os fortes se arriscam."
Um Carnaval Inesquecível nos apresenta Mel, uma garota que tem milhares de seguidores nas redes sociais que amam suas fotos. Ela acaba de platinar o cabelo e está prestes a tingir as pontas de azul-turquesa, tudo porque essa foi a condição que impôs para embarcar na viagem de Carnaval com a família. Ela odeia Carnaval e odeia ainda mais o fato de ter que ir com a família para Rio das Ostras. Contudo, pode ser que a festa que ela tanto odeia a surpreenda pelos próximos três dias.
Gosto muito da narrativa do Lucas Borges e, por saber que ele era um dos autores do livro, pensei logo: esse conto é dele. E eu estava certa. Eu amo Carnaval, mas são poucas as histórias que se passam nessa época do ano que me agradam. Quando comecei a ler o conto, Mel pareceu meio rabugenta e logo fiquei na expectativa para saber o que aconteceria para mudar sua visão sobre a viagem. O autor conseguiu captar bem o clima de Carnaval; aquela coisa momentânea porém marcante, aquele sentimento real e temporário. Mel possui uma evolução durante o conto e foi bom acompanhá-la mesmo que em poucas páginas.
"Esse garoto parece um enxerido raio de sol em meio à tempestade."
Águas de Março nos levará até o bairro da Liberdade, em São Paulo, em um dia chuvoso.
Conheceremos Noemi e e sua batchan, que migrou para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, e que possui teorias mirabolantes (e engraçadas) sobre como os yankees estão acabando com o mundo. Noemi coleciona suas teorias em um caderno, e essa é apenas uma das muitas coisas que ela coleciona. Ela e sua mãe são voluntárias no Centro de Ajuda Humanitária e lá ela se encontrará com alguém que pode fazê-la colecionar mais uma coisa: amor.
Simples e bonito. Essas são as duas palavras que acredito que possam definir o conto de Mariana Cestari. Gostei da personagem de cara, e acompanhar suas decisões seguintes foi ótimo. Gostei de como o romance aconteceu no seu tempo e de como a autora nos apresentou os personagens. Ela conseguiu construir muito bem a história, características e personalidades em poucas páginas, sem deixar aquele sentimento de que algo falta e, sim, o de quero mais.
"Arrume suas malas e deixe suas amarras todas no fundo do armário."
A Última Vez Que Te Amei começa com as lamúrias de Paula, uma mulher que acaba de ficar solteira e não tem ideia do que vai fazer da vida sem seu ex-namorado - que terminou com ela por mensagem e, na verdade, era um babaca. Sem aguentar mais ver a filha se lamentando, sua mãe decide juntar o útil ao agradável e enviá-la em uma viagem para cuidar da priminha enquanto sua irmã realiza exames de saúde. Paula irá passar dez dias em Nova Iorque com o propósito de cuidar da prima, mas pode ser que seus planos acabem mudando.
Entendo perfeitamente o fato de um namoro duradouro marcar uma pessoa, entretanto, embora Paula se mostrar muito engraçada, devido a tudo o que a protagonista conta, mal haviam passado duas páginas e eu já queria saber quando a situação dela mudaria e ela abriria os olhos para ver que aquilo só estava atrasando sua vida. Mesmo a viagem sendo repentina e de encontrar alguém lá que está ainda mais na pior do que ela, Paula conseguiu se divertir e passar isso para gente. Gostei de como a Carol Estrella a fez mudar de atitude - mesmo achando errado ela só se sentir segura com o que a fez ser frágil - só que o final do conto traz mais realidade e me deixou com vontade de saber o que aconteceria pelos próximos dias.
"Eu não sabia ainda, mas ali também começaria a primavera mais florida que o meu coração já viu... E viveu."
É em uma festa de boas-vindas para a primavera que Temos Nosso Próprio Tempo começa. Melina não queria estar no local, ainda mais pela música alta que tocava ao seu lado por causa do péssimo lugar que escolheu para ficar - e que só ajudava mais no desejo de estar no aconchego de seu quarto escutando música, bebendo café e lendo um livro. Ela se afasta para curtir a diversão dos outros tirando fotos da festa, até que alguém se aproxima puxando conversa. Uma conversa que seria a primeira de muitas.
Gostei muito de Melina e Gael. Yohana Sanfer conseguiu colocar algo especial em seu conto e sua escrita ajuda ainda mais para que a história aconteça naturalmente. Tanto que nem pensamos no tempo em que se passa e, quando nos damos conta, parece que foi rápido demais porque queríamos mais. A autora nos faz um convite no final do conto, e apesar de ser especial, eu queria mesmo é que ela dissesse que há um livro com a história de seus personagens para poder acompanhá-los um pouco mais.
"É viciante, não é? O poder. Eu entendo."
[...] LEIA A RESENHA COMPLETA EM: http://www.magialiteraria.net/2015/12/resenha-doze-por-doze.html
"Era como se todo o objetivo de estarmos ali, para começar, tivesse se perdido."
Nosso Último Verão é o último conto do livro. Mia, junto a suas duas amigas, Aline e Karla, viaja para a praia de Maresias, no litoral paulista, para que aproveitem um último verão juntas. Elas acabaram de terminar a faculdade, mas Aline vai se mudar de cidade com o namorado, Karla vai estudar fora do país e Mia vai continuar em São Paulo - já que é o que lhe resta. Mesmo odiando a ideia de passar os últimos dias do ano em um lugar que é a mistura de duas coisas que odeia (praia e calor), Mia aceita a proposta por causa das amigas, mas ela logo perceberá que não foi má ideia.
O conto de Larissa Siriani foi meu favorito do livro. E eu também tive certeza que era ela quem o havia escrito. Não senti o tempo passar ao lê-lo e gostei bastante de Mia, de sua personalidade e do toque de humor na história. Suas amigas trazem um algo a mais para o conto, já que amizade é o tema principal, e um certo surfista também é um ótimo complemento. O rumo que as férias do trio tomou traz momentos bons e ruins, mas que vieram para fortalecer o que existe entre elas e, principalmente, o que elas são em separado. O romance acontece naturalmente, não é forçado nem possui promessas, mas é real.
"O amor é um milagre nesse mundo perdido e deformado."
Doze Por Doze foi meu livro de contos favorito do ano. Alguns contos podem ter sido melhores do que outros para mim, mas não posso deixar de admirar o cuidado dos autores para que seus contos trouxessem sentimentos diferentes e, principalmente, agradassem a todos os públicos. Gostei mais de algumas histórias do que de outras, sim, mas não há dúvidas de que cada autor cuidou de seu conto para que o livro não caísse na mesmice e isso torna o projeto ainda mais interessante. Temos narrativas diferentes, protagonistas que não se assemelham e meses muito bem representados; cada conto possui seu estilo, sua proposta e sua mensagem, e é isso torna o livro completo.