Taverneiro 29/06/2017Alta magia histórica? Acho que sim. XD Uma fantasia épica muito muito boa! E orgulhosamente brasileira. XD
Primeiro livro da série Chamas do Império, escrito pelo autor Diego Guerra e lançado pela Editora Draco! Esse livro tem fortes influências de George R. R. Martin e Bernard Cornwell e conseguiu se destacar bastante misturando um mundo brutal e realista com magia, intrigas palacianas e ação.
Tendo como pontos fortes a tensão crescente, uma trama bem intrincada com arcos de personagens se chocando e ainda um mundo de alta fantasia surpreendentemente orgânico, esse é um livro altamente recomendado…
Vamos aos detalhes!
Alta magia histórica? Acho que sim. XD
A criação de mundos é uma parte essencial de qualquer livro de fantasia, então é muito importante saber: Esse mundo é legal?
Sim, é. ^^
Antes, um adendo: por mais que tenha todo um background, o mundo é apresentado de maneira bem moderada, mantendo o foco nos personagens e na trama enquanto lentamente enriquece a história (que é a maneira mais agradável de fazer isso a meu ver). Sem nem perceber no final do livro você já está um especialista no mundo. XD
A formação desse cenário gira em torno dos eldani, uma raça de seres místicos que vivem em comunidades isoladas e tem um grande respeito pela vida. Possuem o dom de criar canções capazes de alterar o mundo a seu redor (acalmando emoções, curando ferimentos…). Em um passado distante essa raça dominava os humanos, até que um homem, Therik, teve a família assassinada pelos eldani e foi executado. Ele retornou da morte como um deus da força e da coragem e liderou os humanos em uma rebelião contra os eldani.
Os humanos venceram e Therik conclamou que os eldani agora se tornariam dhäeni (aqueles que servem) e seriam para sempre escravos dos humanos como compensação pelos seus crimes. Pelo menos é isso que a história conta né…
Muito tempo se passou com os dhäeni escravizados, até que recentemente o imperador declarou a liberdade dessa raça. As grandes cidades do Norte do império adotaram as novas leis, mas o Sul, que tem como divindade principal Therik, reluta em adotar essas leis por causa dos costumes moldados entorno da fé guerreira de Therik e pelo prejuízo da perda de escravos. Esse impasse está levando a uma tensão cada vez maior de guerra civil.
Com o imperador ocupado lutando uma guerra no Norte, ele expõe as “costas” dele para o Sul, que pode aproveitar essa chance para atacar.
“— Hoje acordei me perguntando como saber se não estou encenando. Talvez eu esteja em uma peça; talvez eu seja apenas uma ilusão. Como ter certeza de se, em vez de mestre das marionetes, não somos títeres?
Derek não tinha tempo para adivinhas e nenhuma ilusão sobre ser mestre.
—Sei bem em qual ponta das cordinhas estou atado Ethron. Se fosse você, também não olharia muito para cima; o titereiro pode resolver cortar suas cordas. ”
O Diego acabou usando como “ponto de apoio” para a sua trama a Guerra Civil Americana, e com isso trouxe discussões raciais e políticas para o livro. Ele criou um mundo fantástico que consegue fazer todo o sentido histórico, onde tudo o que é no presente tem alguma explicação lógica em acontecimentos do passado, assim como é no nosso próprio mundo. De quebra o autor ainda entregou um cenário recheado de “bombas a explodir”, perfeito tanto para intrigas quanto para guerras abertas. 😉
A magia existe aqui, mas não é tão presente. Nesse livro podemos ver as canções Eldani, os ilusionismos dos coen (um tipo de artista) e ouvimos falar de outros tipos de magia, como o élan que impregna o ar. Mesmo com os elementos fantásticos muito presentes no livro, à sensação ainda é de baixa magia, quase uma ficção histórica. Você tem um mundo sujo, brutal e magico. Esse tom de “alta magia histórica” é uma característica usada de maneira primorosa pelo autor.
“— Quais os três passos da magia?
— Mentalização, canalização, materialização — Ele respondeu, quase sem pensar. — Deve-se mentalizar o que é real, deve-se canalizar o que é real, deve-se materializar o que é real.
O coen assentiu com a cabeça.
— E de onde vem a realidade?
— De todas as possibilidades. ”
Um pequeno comentário por algo que merece atenção: a criação dos nomes e culturas. O autor tomou o cuidado de diferenciar plurais e singulares em outras línguas, como dhäen (singular) e dhäeni (Plural). Esses pequenos detalhes mostram que foi um livro feito com carinho. ^^
Personagens Carismáticos e Bem Desenvolvidos.
Os personagens aqui são a linha condutora de tudo, e são ótimos. O ritmo de desenvolvimento de personagens no iniciozinho do livro me incomodou um pouco, mas quando engata vai com toda a velocidade.
O protagonismo aqui eu imagino que seja de Krulgar e Thalla, mas é tão dividido entre todo o elenco fica difícil apontar alguém mais importante. Eu vou falar um pouquinho sobre os que mais me chamaram atenção.
Krulgar, o mastim negro, um guerreiro mercenário furioso que tem apenas um objetivo: Assassinar um grupo de nobres que violentaram e mataram uma pessoa importante do seu passado. Eu achei o lance de guerreiro selvagem muito bom, embora isso seja falado mais vezes do que devia.
Khirk, o assassino com a marca Fahin. Ele é um eldani que foi banido de sua sociedade, não possui mais sua voz e é desprezado pelos outros dhäeni. Por algum pecado do seu passado se tornou um fahin, um eldani assombrado por um demônio. Apesar disso ele achou em Krulgar um amigo e companheiro de aventura. Ele é guerreiro MUITO perigoso. É o protagonista da cena de luta (ou devia dizer massacre?) mais legal do livro.
“Havia acabado de matar um homem. Cada pessoa que morria levava consigo um pedaço da Grande Canção do mundo. Caberia ao dhäen preencher aquele vazio; ele, no entanto, já não era capaz de fazer aquilo. Sua voz já tinha sido tomada quando a marca Fahin fora feita em seu rosto. Seu nome havia sido banido para sempre das canções de sua família. Tudo o que tocava virava silêncio e aquela morte era só outra prova disso. ”
Thalla, a sonhadora. Ela tem uma habilidade de invadir sonhos alheios, manipulando levemente e coletando informações. É filha de um nobre do Norte mais está tendo um caso com Oren, um príncipe do Sul. Está usando Krulgar para matar o irmão mais velho de Oren e assim garantir que ele se torne rei da maior cidade do Sul e, consequentemente, ela se torne rainha.
Dhommas e Oren, filhos do rei de Illioth, a maior cidade do sul. Dhommas quer a guerra com o império e a escravização dos dhäeni. Oren por outro lado quer a paz, o problema é que ele é o filho mais novo. Assim que o pai deles morrer (o que não está longe, dadas à saúde frágil e idade avançadas) Dhommas assumira iniciara a guerra.
Tem mais vários personagens que se envolvem na trama de diferentes formas, mas esses são os pontos centrais.
Narrativa F%$#@!
O livro se divide em duas partes principais. Na primeira metade temos os personagens sendo apresentados e conhecendo um ao outro. Por mais que já mostre a habilidade do autor em desenvolver a história com uma “complexidade simples” (introduz bem um mundo grande; mostra, sem excesso, passado e tramas paralelas…) e termine com a melhor cena de luta que estampa o quanto um dos personagens é f#$%, mesmo assim ainda tem um ritmo um pouco estranho. Eu mesmo não tinha reparado até chegar na segunda parte, essa sim muito mais fluida!
Quando os personagens se encontram e as tramas começam a se chocar e se misturar, cara… usando um linguajar mais rebuscado, vira um baguiu frenético! A tensão vai prendendo você na leitura até o final.
Inclusive eu acho que esse livro poderia ter aquele famigerado “Parte 1” e “Parte 2” dividindo o livro. Dada a mudança de clima, seria algo simpático de se ver, mas é só um detalhe estético mesmo.
Sobre as influências…
Esse livro tem uma influência muito forte de George R.R. Martin e Bernard Cornwell (Tendo até uma cena maneiríssima envolvendo uma parede de escudos XD) se você gosta desses autores, pode pegar esse livro para ler que você não vai se decepcionar!
Mesmo assim isso vai de encontro a um dos problemas que eu encontrei no livro. A narrativa é muito boa, os personagens são maneiros, o mundo foi bem feito bem apresentado… eu cheguei muito perto de dar 5 canecas para esse livro, mas as influências me detiveram. =/
Eu senti muito a mão pesada de outros autores e obras aqui. Não estou falando de plagio, estou falando de uma influência as vezes mais sentida, as vezes menos, mas que quando aparecia era evidente demais e isso me desagradou um pouco. Isso é algo muito pessoal meu, acho muito difícil alguém se incomodar também com esse aspecto, mas ainda assim foi algo que me veio a mente muitas vezes enquanto eu lia.
A capa é maneira né?
O ilustrador Camaleão tem vários trabalhos bem bacanas além dessa capa irada, como algumas ótimas HQs pela Draco, além de tirinhas. Vocês podem conferir mais do trabalho dele no blog Camaleão Caricaturas.
Concluindo…
O Teatro da Ira é um Livro muito bom, a narrativa dele é rica e muito bem construída! O seu mundo é fantástico e brutal e os seus personagens são carismáticos. Um primeiro terço com um ritmo estranho e uma influência muito forte de autores maiores em alguns momentos me incomodou, mas ainda assim não foi capaz de me tirar da cabeça que essa é um dos melhores livros de fantasia épica que eu já li! Se você é fã de fantasia pode ler a vontade que eu tenho certeza que vai curtir pra caramba da mesma forma que eu curti! ^^
OBS.: No aguardo do próximo da série… XD
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https://tavernablog.com/2017/06/27/o-teatro-da-ira-de-diego-guerra-resenha/