Pietra Galutty 28/01/2023
"ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem": a sabedoria da grande avó
Clarissa Pinkola Estés (1945-), Ph. D., acadêmica consagrada, poetisa, psicanalista junguiana, especializada em traumas pós-guerra e cantadora (guardiã das velhas histórias na tradição latina). Internacionalmente conhecida pelo seu Mulheres que Correm com os Lobos (1989).
Aqui, aprendemos a não nos deixar dominar por ninharias de grande importância.
"O amor será o remédio mais vital. Você será seu milagre".
"O que é mais provável é que no portal do paraíso queiram saber com que intensidade escolhemos viver; não por quantas "ninharias de grande importância" nos deixamos dominar". (pg. 9).
Em A Ciranda das Mulheres Sábias (2007), Pinkola Estés retoma o estudo do sagrado feminino, agora em reverência maior à maturidade feminina - uma profunda homenagem às mulheres que aprenderam a acumular sabedoria ao longo de suas existências. Com uma linguagem metafórica, que se assemelha às antigas histórias contadas de mães para filhas, a autora cultua as lições que mulheres mais velhas têm a ensinar - é um alento, em meio a uma cultura que valoriza a juventude de forma obsessiva.
"(...) "ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem" - o que significa estar plena de um belo conjunto de paradoxos mantidos em perfeito equilíbrio". (pg. 11)
Ao longo deste curto ensaio, Pinkola Estés revisita histórias onde as jovens não são salvas por príncipes encantados - salvam a si mesmas depois de receberem orientação de uma mulher mais velha, mais sábia (a grande avó). Trata-se de um arquétipo misterioso e irresistível da mulher sábia, do qual a avó é uma representação simbólica. A autora nos aconselha a unir o melhor dos dois mundos, ou seja, duas representações do espírito - o "espírito jovem" e a "alma velha" precisam coexistir, devem ser abraçados mutuamente.
"(...) não se deveria considerar que a heroína mais jovem, muitas vezes ingênua, apesar dos apuros e desafios que enfrenta nas lendas, seja uma página em branco. Como as jovens na vida real, ela geralmente tem uma impressionante sabedoria própria. As vezes, porém, é também dominada pelo medo de seguir o que sua alma sabe". (pg. 18).
"(...) a dupla da mais nova e da mais velha juntas assume a missão de dar bênçãos necessárias uma à outra para seguir adiante, sair-se bem, ser corajosa e audaz, e levar o tipo de vida na qual as almas são bem-nutridas". (pg. 20).
"Numa psique equilibrada, essas duas forças, o espírito jovem e a alma velha e sábia, se mantêm num abraço em que mutuamente se reforçam". (pg. 21).
A sabedoria vem de algo ancestral, tão antigo quanto o tempo, a força do feminino, a vivência e a memória coletiva. O espírito da "grande avó" não é um conceito concreto e fechado, mas uma descoberta que pode ser feita em qualquer tempo da vida.
"Pois a alma de uma mulher é mais velha que o tempo, e seu espírito é eternamente jovem... sendo que a união desses dois compõe o "ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem". (pg. 21).
"Embora fossem derrubada de tantos modos, voltaram a crescer. E vicejaram como árvores em flor". (pg. 63).
"(...) embora a película externa da alma seja magoada, arranhada ou chamuscada, ela se regenera de qualquer modo". (pg. 67).
Ao final, o livro é um grande carinho ao coração. É um ode ao poder da mulher, poder que todas temos e devemos aprender a desenvolver. Um ode à fé que precisamos carregar em vida, apesar das dificuldades, apesar do sofrimento. Tudo pode ser convertido em sabedoria, quase que divinamente.
"Saiba que você é abençoada, apesar das hesitações, quedas, tempo perdido, certezas, perspicácias e mistificações, pois tudo isso é combustível para avançar..." (pg. 23).
"Não importa onde ou como vivamos, não importa em que condições... nunca estamos sem nosso supremo aliado, pois, mesmo que nossa estrutura externa seja insultada, agredida, apavorada ou mesmo destroçada, ninguém poderá extinguir o estopim dourado, e ninguém poderá matar sua guardiã subterrânea". (pg. 48).
"Todas nós pertencemos a uma linhagem longuíssima de pessoas que se tornaram lanternas luminosas a balançar na escuridão, iluminando o próprio caminho e os passos de outras". (pg. 62).