Crítica, eu? 21/08/2018
O Fio do Bisturi
O Fio do Bisturi é a segunda obra de Tess Gerritsen. Lançado originalmente em 1990, o livro só chegou ao Brasil em 2016 através da Harper Collins. A obra conta a história de uma anestesista, Kate Chesne, que busca provar que não cometeu negligência durante uma cirurgia cuja paciente acabou morrendo. Com um advogado famoso defendendo a família da vítima, Kate precisa correr contra o tempo para provar sua inocência e, por isso, acaba descobrindo outros assassinatos. A anestesista termina por conseguir o apoio do advogado que antes lutava contra ela, e os dois vivem uma história de amor com um assassino em sua cola.
Considerado um dos thrillers românticos de Tess Gerritsen, O Fio do Bisturi tem uma narrativa enxuta, rápida e eficiente. Longe de contar com um texto primoroso, o livro acaba perdendo alguns pontos no quesito narração. A escrita de Tess não consegue imergir o leitor na cena nem criar momentos de tensão e suspense. É como se o livro inteiro fosse um relatório inanimado do que aconteceu.
Diferentemente da forma de escrita, a história do livro é digna de cinco estrelas. Uma anestesista tenta provar que não matou sua amiga na sala de cirurgia por negligência e acaba descobrindo uma sequência de assassinatos ligados ao hospital em que trabalha. Nada na trama cai no colo do leitor sem explicação. Tess Gerritsen exerceu a medicina antes de se tornar escritora e oferece grande riqueza de detalhes com relação a procedimentos, medicações e funcionamento de um hospital.
Kate Chesne, protagonista do livro, é superficial e previsível, com características pouco marcantes. É incrível que uma personagem principal tão fraca e óbvia não tenha prejudicado a história de O Fio do Bisturi. A sensação para o leitor é que a narrativa acontece apesar de Kate, não por causa dela, mesmo que ela seja a protagonista.
David Ransom, par romântico de Kate Chesne, é um advogado especializado em processar hospitais e médicos por negligência. Durante todo o livro, paira o questionamento do porquê desse tipo de trabalho. Vale ressaltar que o mistério sobre as escolhas de David é completamente desnecessário, uma vez que acaba se mostrando algo marcante para ele, mas completamente comum. Ransom é, assim como Chesne, completamente unilateral e previsível, além de fazer o tipo macho alfa superprotetor e de apresentar características exageradas demais para serem verossímeis.
O ponto mais alto do livro, como se pode esperar de qualquer romance policial, é a identidade do assassino. Nesse quesito, Tess Gerritsen acertou em cheio. A dúvida é mantida até os quarenta e cinco do segundo tempo e, mais, é levada à prorrogação. A autora consegue fazer isso sem frustrar o leitor e sem perder o fio narrativo. Por outro lado, a cena da descoberta é clichê para os tempos atuais. Talvez não o fosse em 1990, quando o livro foi lançado.
Surpreendendo o leitor, O Fio do Bisturi não se prende somente à trama policial. No fim de tudo, o romance de Kate Chesne e David Ransom aparece com protagonismo na história. E o fechamento do livro é completamente inesperado para um thriller. O elemento surpresa não acrescenta nem diminui nada em relação à história, é apenas “a cereja do bolo”, ou seja, não faria falta, mas já que está lá, ninguém reclama.
O Fio do Bisturi é um livro que merecia mais esforço da parte de Tess Gerritsen em alcançar uma escrita mais bem desenvolvida. A história é boa, os personagens têm algum potencial e a autora mostrou que sabe como construir uma trama. O pecado do livro fica, no entanto, pela forma de escrever pouco criativa e imersa. Talvez uma Gerritsen de 2018, mais experiente e com mais publicações, escrevesse melhor o próprio livro, dando mais vida ao texto e melhorando seus personagens. Na história, porém, Tess não precisaria mexer em absolutamente nada.
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