Wagner47 24/02/2023
Expansão e avanço (e talvez um tapinha nos ombros)
Os Siderais correm perigo.
A Terra corre perigo.
A Galáxia corre perigo.
Mas uma coisa pode salvá-los: o legado de Elijah Baley.
Se passando 20 décadas após Robôs da Alvorada (e com isso Baley não está mais entre nós e que Deus o tenha), o livro se diferencia de seus antecessores já pelo gênero. O suspense policial ficou para trás e temos um sci-fi 100%.
Agora temos também um trio protagonista: a Sideral Gladia e os robôs Daneel e Giskard. Não vou me abster dos spoilers a respeito do terceiro livro e a revelação envolvendo um deles. Portanto se ainda pretende ler Robôs da Alvorada, é melhor parar por aqui.
Amadiro, engasgado com uma derrota de 200 anos atrás, ainda quer sua vingança e a ascensão dos Siderais. O legado de Baley fez com os terráqueos finalmente saíssem de suas cavernas e partissem em direção a Galáxia, mas tem gente que prefere que fique vazia ao invés disso.
Apesar do tamanho, acho o tempo muito bem distribuído entre os personagens e não senti enrolação como seu antecessor. Outro fator positivo é Daneel se tornando cada vez mais humano: essa evolução é algo maravilhoso quando a gente lembra dele lá das primeiras páginas da Série dos Robôs.
Mas acho que o livro tem um defeito enorme e que tem nome: Giskard.
Sabemos agora que é um robô capaz de alterar emoções (apesar de não ser capaz de ler mentes), mas está proibido até certo ponto de executar tais qualidades devido às Três Leis da Robótica. Tal revelação é arrebatadora em Robôs da Alvorada, mas aqui Asimov o usa como um brinquedo novo: é utilizado a todo momento. Inclusive quando os personagens já estão predispostos a fazer algo, Giskard influencia mesmo assim quando não há a menor necessidade e faz questão de deixar claro.
Até mesmo quando Gladia tem um momento todo seu, descobrimos que não é bem assim, atrapalhando todo o desenvolvimento da personagem que tinha muito a crescer.
Não somente as atitudes do Giskard incomodam, como também as coisas que envolvem ele. Baley deixou a mensagem de confiar no robô sob qualquer coisa. Então toda discussão é cedida, me passando a impressão que no fim das contas vai se resolver tudo do mesmo jeito. O comportamento de Vasilia para recuperar sua posse é algo totalmente SEM SENTIDO e me pergunto o que uma roboticista conceituada tinha em mente pra achar que aquilo funcionaria.
Mas o livro também tem outros triunfos além da fluidez. A sequência de acontecimentos é bem delineada e tem um construção bem forte nos objetivos e nas suposições, abordando onde a Galáxia vai parar (se é apenas com terráqueos, apenas com Siderais, com os dois ou se ficará vazia).
Também apresenta ótimos breves momentos de ação e a relação de amizade construída entre Daneel e Giskard é bem sólida.
E a reunião de vilões só para planejar o mal é de uma roupagem bem gostosa de se ler.
Mas o final... Só fiquei com o sentimento que li muito por nada. Estava até inclinado em dar 3 estrelas, mas pesou bastante aqui.
Ainda é uma boa transição que levará às histórias de Fundação.
Mas na real, quanto mais eu paro pra pensar, mais defeito eu encontro.