Ronnayse 22/02/2021Quarto de despejo é vida real, é força, é luta, é empoderamento, é refúgio, é denúncia... é tanta coisa que podia passar a vida listando. Por tudo que representa, é uma LEITURA NECESSÁRIA. Mas, porque com tudo isso ainda é tão desconhecido? Por ter sido escrito por uma mulher, e mais: uma mulher preta e favelada. (Preconceito! Presente! Infelizmente.) Publicado pela primeira vez em 1960 e continua atual.
Carolina, em seu Quarto de Despejo: diário de uma favelada, nos conta seu dia a dia na favela, como mãe, catadora de papel, lutando diariamente pelo pão de cada dia - literalmente. Em diversas vezes no livro, vemos sua aflição em conseguir dinheiro no dia para poder comprar comida para si e seus filhos. Por vezes, não conseguia dinheiro suficiente no dia e recorria ao lixo para buscar alimentos.
"é duro a gente vir ao mundo e não poder comer"
"eu lutava contra a escravatura atual - a fome."
"Como é horrível levantar de manhã e não ter nada para comer. Pensei até em suicidar."
"O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora."
O sonho de Carolina era escrever um livro, inclusive, muitas vezes, usava disso no dia a dia: quando alguém não fazia algo bom ela 'ameaçava' colocar a pessoa em seu livro e falar dela (quando ela fazia essa 'ameaça' eu achava até engraçado rs)
"Porque a senhora começou a escrever? Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar, eu escrevia."
No livro, a autora relata a miséria, a fome, a briga dos vizinhos, o interesse/aparecimento dos políticos na favela nos tempos de eleições, enfim, a vida existente na favela do Canindé-SP que era onde ela vivia.
"Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá... isto é mentira! Mas, as misérias são reais."
"não gostamos da favela, mas somos obrigados a residir na favela."
O título do livro, é exatamente como Carolina via a vida na favela: a favela era o quarto de despejo da cidade.
"Eu classifico São Paulo assim: o Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos."
É de uma grandiosidade tremenda a sensibilidade de Carolina. Livro de um relato verdadeiro de força e resistência. E o que torna mais verdadeira a leitura é que vem de alguém que viveu o que está ali escrito - a visão da favela por alguém que viveu dentro da favela.