Mari Briese 18/11/2023
O duro dia a dia de quem não tem amanhã
O diário de Carolina Maria de Jesus relata o triste cotidiano da vida na favela, mais especificamente na favela do Canindé em São Paulo, com tristeza e pesar constatamos que apesar de o diário de Carolina ter sido escrito na década de 1950, ainda é uma obra atual.
O livro traz de maneira cruel a amarga realidade da favela, a violência, a miséria, a fome, as inúmeras dificuldades para se ter comida. "O tempo passou, a cidade cresceu, mas a realidade de quem vive na miséria não mudou muito. Isso faz do relato de Carolina uma obra atemporal, sempre emocionante".
Audálio Dantas, o jornalista que viria a descobrir os cadernos de Carolina, conta que foi até a favela do Canindé para escrever uma matéria sobre a favela que se expandia beira do rio Tietê, mas que ao encontrar Carolina desistiu da reportagem e, mergulhou nos vinte cadernos que Carolina guardava em seu barraco, descrevendo o dia a dia da favela.
Além de ter sido traduzido para 13 idiomas, em poucos meses após seu lançamento, o diário de Carolina atingiu a marca de 100 mil exemplares vendidos. Apesar da fama e dinheiro trazidos por meio de seu diário, o que tornou possível para Carolina sair da favela, ainda assim, o retorno financeiro não foi o suficiente para escapar da pobreza.
'O cenário em que foi escrito o diário já não é mais o mesmo. Parte dele deu lugar ao asfalto se uma nova avenida, por coincidência chamada Marginal. A Marginal do Tietê, que pasa por ali até onde meados dos anos 1960 se erguia o caos semi urbano e sub-humano da favela do Canindé , em São Paulo. O resto foi ocupado por construções sólidas, ordenadas, limpas, aprumadas no lugar dos barracos cujos ocupantes foram para outros cantos da cidade, para outros quartos de despejo.'