Agnes Lenz 19/07/2021
Uma narrativa ufanista americana sobre uma missão de telefonemas
O livro narra o que aconteceu com a EDS e a prisão de dois de seus funcionários em Teerã ( Irã) em 1978. Na mesma época o país estava tomado por uma revolução, buscando derrubar o Xá e trazer a liderança de Khomeini. Ken Follett muda alguns nomes, a fim depara proteger os envolvidos, mas diz narrar a história verdadeira. Eu descreveria o mesmo como um romance de não-ficção, mas o próprio autor não usa o termo, então leia para tirar as próprias conclusões. Para mim há dois pontos principais pelos quais não gostei da leitura: a forma como ele se vende e o ufanismo americano.
A começar que o livro é vendido como um suspense, aventura e ação. Isso talvez te leve a pensar que você verá muita ação por parte da equipe de resgate no estilo missão impossível, só que com um pé no chão – já que é uma história real. Diferente disso a história é muito mais voltada para a diplomacia, homens burocratas cansados e telefonemas. Muitos telefonemas. Isso não tira o mérito do feito, claro, mas a forma como os ganchos dos capítulos se dão e a contracapa do livro passam a ideia errada.
Além disso, os Estados Unidos é retratado enquanto o país desenvolvido supremo, já os outros, para usar palavras do livro, países primitivos. O Irã é retratado como um local terrível, com pessoas pouco confiáveis e extremamente mercenárias. Por outro lado, os americanos são dotados de virtudes e uma honestidade incomparável cuja só é maculada pois o Dadgar recusa-se a colaborar com a lei. Enfim, há problemas também quanto as digressões desnecessárias e a exaltação de Perot enquanto o melhor homem do mundo. “Olha, ele é milionário mas é bom. Ele vai tirar seus empregados da prisão. Ele contratou uma pessoa negra. Ele ama a mulher, etc.”
Ao meu ver, faltou uma humanização dos iranianos – para além de Rachid, que apesar de meio caricato, é o melhor personagem na minha opinião – e um melhor panorama do que acontecia no Irã. Quem é o Xá e porque os EUA o apoia se ele é um tirano? E Khomeini é quem? Qual é a dessa revolução? O que o Dadgar tem a ver? Talvez você ache essas coisas desnecessárias, já que a história se limita a contar o resgate de Paul e Bill, mas se há tanta encheção de linguiça como as missões de Simons, por exemplo, ou os momentos em que Follett resolve dizer em vários e vários parágrafos o quanto as esposas (e que representação chata das mulheres nesse livro hein?) estão preocupadas, acredito que teria espaço para isso sim.
No final, a mensagem que fica é que se você tem dinheiro e contatos nem a lei de um país estrangeiro te barra... é isso.