Kizzy 12/07/2016
Comprei esse livro por uma indicação logarítima de um site enquanto eu fazia compras on line em um sebo e apareceu uma janela: “você vai gostar de”, e foi desses dias que os logarítimos e os marketeiros acertaram em cheio. Eu tinha acabado de voltar de Londres e comprei por curiosidade, e hoje, o que eu tenho a dizer é: sempre tive vontade de conhecer Londres, quando fui voltei apaixonada, agora que li o livro estou obcecada pela cidade.
“Londres” é um romance histórico, desses que eu adoro. Conta através de narrativas recheadas de personagens interessantíssimos, a história de Londres e da Inglaterra desde a formação das rochas, passando pela invasão romana, a idade média, moderna e contemporânea. Antes de ler vi algumas críticas dizendo que o livro era muito mais “estória” do que história, argumento com o qual tenho que concordar, porém, sendo o título da obra “Londre: o romance”, me leva a crer que era exatamente esse o objetivo.
De fato o foco é a narrativa, e dentro dessa narrativa estão permeados os contextos históricos, em alguns capítulos mais em outros menos detalhados. Os personagens históricos nunca eram protagonistas, tirando do autor a responsabilidade de ser biografo e criando com isso enredos interessantíssimos. Aventura de conquistadores, falsários, piratas, navegadores, historias de amor, atores que trabalhavam com Shakespeare, batalhas, Guerras e muita barbaridade, mas também emoção. O texto é muito bem trabalhado, a estrutura genealógica dos personagens que eram sempre descendentes de um capítulo ao outro trazem muita beleza e muita qualidade ao trabalho. Achei adorável ler apesar da extensão do texto e sempre acho que história contada assim é muito eficiente para conhecimentos básicos.
Quanto à parte histórica achei bem abrangente e interessante. A construção cronológica é clara e eficiente, os contextos são bem construídos e os fatos são bem narrados. Para pessoas que só estudaram história da Europa no colégio e por leituras esporádicas como é o meu caso, é bem curioso e esclarecedor. Obviamente, como o próprio autor esclarece no prefácio, um livro que se propõe contar mais de 2000 anos, mesmo que em mais de 1000 páginas, terá de fazer opções e compreendo isso. Porém me chamou bastante atenção a completa ausência de fatos históricos como o trafico de escravos, do qual a Inglaterra foi protagonista e se enriqueceu fortemente, ou o bloqueio Europeu à Inglaterra na era napoleônica, aliás, quase nada se fala de Napoleão Bonaparte, exceto quando ele é derrotado. Tenho que dizer que nessas questões me pareceu um tanto parcial.
Exceto por essa ressalva, a pesquisa me parece de alta qualidade e abrange a formação da região desde os anglo saxões, celtas e Vickings; a invasão romana; as diversas ondas imigratórias e miscigenação da população, o início do cristianismo, a construção de monumentos históricos, a reforma protestante e depois calvinista, os diferentes reinados e invasões, a revolução industrial, a emancipação da classe média, o início do feminismo e a concepção de reconhecimento de Londres como um centro histórico.
De uma forma geral, em se tratando de narrativa o livro é criativo e encantador. Em se tratando de história, pensando na obra como uma fonte de referência e não como um fim em si mesmo (como devíamos pensar todas as obras históricas), vale muito a pena a ler. Recomendo que, ao final da leitura, leia-se novamente o prefácio e a árvore genealógica dos personagens que estão no início. Fica muito mais divertido. É extenso e em alguns momentos parece muito texto, mas vale muito a pena. Dá vontade de voltar para Londres e entrar em cada um dos lugares de novo lembrando de cada personagem que passava por lá.
“Assim, quando cavamos a terra debaixo de nossos pés e encontramos tudo o que sobrou daquele homem e daquela mulher, eu tento lembrar que o que estou vendo e manuseando é uma compressão enorme e interminável de vidas. E algumas vezes, em nosso trabalho aqui, eu sinto como se nós tivéssemos entrado naquela camada de tempo comprimido, aberto aquela vida, até mesmo um único dia, com sua manhã, sua noite, seu céu azul e seu horizonte. Nós abrimos apenas milhões e milhões de janelas escondidas no chão.”