Victoria.Olzany 16/03/2023
Um bom livro de contos. Alguns destaques particularmente bons:
- "Senhor diretor": uma senhora de 61 anos, professora, aposentada, paulista e virgem passa por uma banca de jornal e se escandaliza com as notícias, publicidades, e matérias expostas ali. Ela segue seu caminho escrevendo, dentro da sua cabeça, uma carta ao diretor do jornal sobre a "decadência" da sociedade, e sobre como parar isso. Ela segue seu passeio enveredando por vários assuntos, enquanto continua a carta: os crescentes debates sobre feminismo, as escolhas de outras mulheres, os jovens e seus fluidos, sua solidão. Esses caminhos a levam a encontrar seus próprios questionamentos acerca das suas próprias escolhas durante a vida, impactados pela velhice.
- A Sauna: um homem de meia idade, então um pintor rico e reconhecido, vai à sauna. Em paralelo, acompanhamos também conversas que teve com sua esposa sobre a sua última companheira. As cenas da sauna e da conversa com a esposa se entrelaçam constantemente através de "pontes" muito bem elaboradas pela autora, imagens do agora e do antes que se assemelham em algum ponto em particular. Além disso, acompanhamos também o pensamento do pintor, que é o que constrói essas "pontes". É muito interessante como Lygia capturou, aguçadamente, as nuances da podridão do pensamento masculino.
Sua mulher lhe dirige muitas perguntas, e suas respostas revelam o quanto ele se ergueu às custas do sofrimento da ex, e também revelam um desconforto entre o casal. Além disso fica claro como sua relação com a atual foi motivada por interesses individuais dele.
Acompanhamos, pelo ponto de vista masculino, um homem que se fez às custas de suas companheiras, e que sempre se achou no direito disso.
- "A Presença": um jovem de 25 anos se hospeda em um hotel de velhos, que o recebem com uma hostilidade muda; hostilidade essa dirigida à sua juventude, que ele exibe sem pudor e apesar dos avisos.