Ana 04/04/2016
A procura de vida inteligente, de Victor Allenspach
Não é a toa que Victor Allenspach se refere a Douglas Adams como uma de suas grandes inspirações para a criação desta obra. Assim como em O guia do mochileiro das galáxias de Adams, essa é uma história de ficção científica sobre a vida, o universo e tudo mais. Com exceção do Planeta Terra, que nem sequer chega a ser citado no livro como o conhecemos hoje, sendo facilmente compreendido como um planeta qualquer do espaço. O que torna tudo ainda mais interessante.
Embora possa demorar alguns capítulos para que o leitor possa perceber, o personagem central se chama Boris, um androide de mais de 500 anos programado para servir, embora ele sinta, pense e fale. Isso mesmo. Na história de Victor, é comum robôs agirem como humanos e isso causa estranheza tanto em alguns personagens, quanto no próprio leitor. E chega a ser algo tão usual, que em determinado momento, se torna um tanto que difícil saber qual personagem é humano e qual não é, tamanha semelhanças de comportamento.
O interessante é que Boris é apresentado a quem lê a história, de diversas maneiras, em inúmeras situações e em lugares distintos. Inclusive em tempo histórico. E desta forma, ora lemos em primeira pessoa, ora em terceira pessoa. Enquanto isso, outros personagens aparecem e nos tomam a atenção.
Intrinsecamente, o livro usa a tecnologia e uma realidade alternativa para discutir verdadeiras questões existencialistas e relações, ou a falta delas, num futuro talvez nem tão distante assim. Robôs, inteligência artificial, naves espaciais e viagens intergalácticas estão presentes em todos os capítulos. Mas não entre em pânico! Até mesmo o leitor mais leigo no gênero como eu, por exemplo -, consegue assimilar a história, e até aprender um pouco dessa imensidão complexa de cálculos e teorias de ficção científica.
Dividida em contos, a escrita de Victor é ritmada com pausas estratégicas. A sátira e as metáforas se fazem presentes na maioria de suas construções verbais e o livro transforma esses fragmentos em um conjunto maior, com um só sentido, embora seja apresentado em contextos diferentes, o que deixa o leitor a vontade para apreciar a história de inúmeras nuances.
A procura de vida inteligente nos mostra uma sociedade futurista, vivendo de forma indescritivelmente diferente e, mesmo com um cenário tão complexo, até mesmo em nosso imaginário, o autor consegue nos mostrar que nos detalhes, o humano ainda preserva sua cartela de sentimentos, dúvidas e angústias existencialistas.
Marcos pensa por alguns instantes nessa curiosa forma que o universo tem de isolar mundos, igual aos próprios humanos e suas paredes. A procura de vida inteligente pg.114.
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