Brina.nm 23/03/2016Empoderar-se e praticar mais da tal SororidadeQue atire a primeira pedra a mulher que nunca sentiu medo por ter que ir sozinha pra casa a noite, medo de ser roubada, de ser assediada, ou até mesmo medo de ser estuprada nas ruas escuras e não ter ninguém ao seu lado para lhe socorrer. Ou até mesmo durante o dia, em um metrô, ônibus, na pracinha da sua casa Tem horas que o único pensamento nosso é que inferno é ser mulher, pois afinal de contas não vemos por ai muitos casos de homens do os mesmos abusos ou constrangimentos por causa de mulheres que os assediam.
Em Vamos Juntas? Babi nos conta como surgiu seu projeto. Ao sair tarde do trabalho em uma sexta-feira ela se viu traçando e estudando qual seria o melhor caminho para voltar pra casa em segurança, e viu várias mulheres com o mesmo sentimento estampado no rosto dentro do ônibus que entrou, ao descer para pegar o segundo ônibus, todas estampavam o pavor e o medo, e saíram literalmente correndo quando ele parou, pois nenhuma queria ser vitima em uma praça escura. Eis que ao chegar ao segundo ponto, ela viu que várias que estavam com ela no ônibus também foram para aquele destino, então porque não oferecer a colega que está tão apavorada quanto você uma companhia para chegar ao seu destino? Além de terem mais chances de chegarem seguras, vocês ainda bate um papo, relaxa e acaba fazendo uma nova amizade, ou mesmo passando o tempo tranquila.
Assim o projeto nasceu, em menos de 3 meses já haviam atingido mais de 230 mil curtidas no Facebook, vários relatos de meninas que conheceram o projeto e acabaram ajudando outras mulheres a chegar em casa em segurança, livrando elas de situações onde os homens estavam a assediando ou até mesmo relatos de violência doméstica que se impuseram na presença do pai/tio, relatos de estupro que sofreram por ainda não conhecerem o projeto e não ter ninguém para ajuda-las a se livrar dessa.
Os relatos são emocionantes, como a autora cita, nós mulheres temos o dom de amparar, de querer que nossa irmã, amiga ou mesmo uma conhecida não passe por situações complicadas, doloridas ou de abuso, quando uma de nós sofre, nós sofremos também, e fico imaginando como deve ser administrar uma página que recebe mais de 80 mensagens por dia com relatos de abusos que sofreram antes de conhecer o projeto, de situações que conseguiram se livrar depois de conhecer o vamos juntas, de apoios que tiveram de outras mulheres desconhecidas.
De todos os relatos que li, queria citar o mais emocionante em minha opinião
Todos os dias atravesso a praça inteira até chegar ao meu destino. Naquele dia senti que estava sendo seguida então apertei o passo. Logo uma moradora de rua veio ao meu encontro dizendo: Oi! Hoje você também trouxe um pedaço de pão? Percebi que ela não olhava pra mim, mas para o homem que estava logo atrás. Ela segurou forte no meu pulso e continuou a falar: Ah, não tem problema, não, me paga um café na padaria. Seguimos em direção à padaria e o homem desapareceu. Para a minha surpresa, ela contou que assistiu à entrevista da criadora do Vamos Juntas? no Encontro com Fátima Bernardes da calçada de uma loja, e disse que sempre que pudesse ajudaria quem estivesse em apuros. Foi através dela, a Rosa, que conheci o movimento.
Rita, Sapé, PB
Vê como simples ações podem ajudar a salvar a vida de tantas mulheres? Imaginem se todos os dias, ao ver alguém em situação de apuro ou ver olhares estranhos para outra mulher, que seja desconhecida ou não, outra mulher ajudasse Imagina quantos casos a menos de estupros, abusos e assédios que teríamos no Brasil, no mundo
Acontece que muitas questões precisam ser mudadas, desde gestos pequenos como dizer que meninas só podem brincar de casinha e de bonecas, e meninos podem correr e brincar como querem, dizer que chorar é coisa de menininha, meninas precisam ser comportadas todas essas ações vão tornando o ser mulher enraizando que nós precisamos ser submissas aos homens, e que nunca teremos a liberdade que eles possuem. Os desenhos como Cinderela, A bela e a Fera, A bela adormecida nos mostram que sempre precisamos encontrar o príncipe para sermos felizes, e que não temos amigas mulheres para nos ajudar em situações chatas (pelo contrário, as mulheres são sempre as megeras), todos esses pequenos fatos vão criando essa mentalidade de medo nas mulheres, e de liberdade completa para os homens, onde eles podem fazer o que quiserem que nunca serão punidos por isso.
E ai vem essa palavrinha estranha, que com certeza você não conhecia (eu pelo menos nunca tinha ouvido falar) SORORIDADADE.
So. ro. ri. da. de.
substantivo feminino
1. Grupo de irmãs.
2. Reunião entre mulheres que se reconhecem irmãs formando um grupo político e ético na luta pelo feminismo contemporâneo.
Eu mesmo nunca ouvi falar dessa palavra, achei que seria um novo termo inventado pela autora, mas para a minha surpresa é um termo que retrata algo simples, um grupo de mulheres próximas, uma ligação de irmãs, que hoje em dia é tão difícil encontrar por aí. Somos ensinadas que não podemos ter muitas amizades verdadeiras, a competir, a dar nomes horríveis para outra mulher se ela é mais bonita que você ou tem mais conquistas pessoais, e pra que? Toda essa rivalidade não serve pra nada. Quer um exemplo claro e rápido disso?
Quando um homem trai sua namorada (esposa) com quem ela vai tirar satisfação? Com o homem traíra ou com a mulher com que ele saiu? Não minta, eu sei que é com a mulher, eu mesma já passei por essa situação e quem levou a pior foi à mulher, e não o homem. Isso é algo enraizado na maioria das cabeças femininas, e algo que precisa mudar rápido, se quisermos que o mundo mude também.
E Babi também vem falar sobre o empoderamento, outra palavra pouca usada, certo? Empoderar-se é acreditar que somos capazes de fazer tudo que quisermos, ser o melhor para o próximo mas também colocar nossas necessidades a frente, não é ser egoísta, é ter a certeza que merecemos esse mundo também. Aceitar que podemos ter a mesma liberdade dos homens, e que temos a mesma capacidade para fazer tudo que eles fazem com a mesma competência, incluindo no trabalho fora de casa.
E quando alguém fala que hoje em dia não existe isso mais, de que homens levam vantagem ainda por cima das mulheres, pense um pouquinho Segundo dados, apenas 15% dos cargos importantes são ocupados por mulheres no mundo; os homens ganham cerca de U$ 8.300 a mais que as mulheres; Quando uma mulher ocupa um cargo alto em uma empresa que possui mais homens, ela geralmente é hostilizada, humilhada e chegam até a perguntar com quem ela precisou dormir para alcançar aquele cargo, como se nós mulheres não fossemos capazes de alcançar por mérito próprio.
Enfim, em poucas páginas Babi fala de tudo e mais um pouco, de conceitos simples que precisam ser reavaliados por homens e também por nós mulheres para termos a esperança de que algum dia, mulheres não sofram tanto por causa de seu sexo, que possam viver com a mesma liberdade que é dada aos homens, e que não passemos por tanto sofrimento apenas por nascer mulher.
Recomendo muito o livro para todos, e mulheres, quando virem alguma colega ou desconhecida passando por algum aperto, convide ela para se juntar a você, com duas simples palavras, você pode mudar o mundo de uma pessoa.
site:
http://www.gordinhaassumida.com.br/2016/03/vamos-juntasbabi-souza.html