Vilson 19/02/2016
Fantasia com humanidade (spoiler-free)
Não é segredo que Lauro Kociuba é o tipo de autor que faz o dever de casa. Mesmo não sendo o fã número 1 de Liga dos Artesãos (talvez não seja meu tipo de livro, apenas), sou o primeiro a admitir isso com fogos e bandeirinhas. Há escritores que trabalham por adição, como tecelões, acrescentando fios e montando uma imagem. Lauro claramente faz parte de outro grupo os "escrultores", que pegam um bloco enorme de narrativa e o desbastam até ter nas mãos uma peça lisa e precisa, que parece viva. Assim é Promessas Antigas.
Kociuba faz o dever de casa, capricha na técnica, e isso faz com que seja difícil largar seu conto, mas não é isso que torna Promessas uma verdadeira obra de arte. O ponto forte dessa história é sua alma. A narrativa gira em torno de personagens fantásticos, inumanos, mas que não poderiam ser mais humanos: ódio, solidão e cobiça são, neste universo, ameaças maiores que qualquer dragão ou ogro. Ou seja, não se trata de uma boa narrativa DE FANTASIA; é uma boa narrativa - PONTO.
Mas há algo mais aqui além de um mestre entalhador. Kociuba compôs sua narrativa cruzando elementos de seu universo (Alvores) e da Galeria Creta, universo de Janayna Pin, apresentado pela primeira vez no brilhante Lobo de Rua (2015). Seu protagonista, Elvis, viaja a São Paulo a fim de cumprir uma promessa bem espinhosa, uma promessa que envolve adentrar a Galeria Creta, o reino do Minotauro, um dos personagens que mais me desperta medo, raiva, admiração e risadas na literatura nacional. A trajetória de nosso "bom moço" é embalada por um banho de nostalgia musical - um dos melhores usos de música que já vi em um livro (a mais muda das mídias, afinal de contas)
Se você gosta de fantasia urbana, essa história é para você.
Se você gosta de Alvores, essa história é para você.
Se você gosta de Lobo de Rua, essa história é para você.
Se você gosta de crossovers literários, essa história é para você.
Se você não gosta de nada disso, leia mesmo assim, porque é fantasia de qualidade, com sangue, tutato e alma.