Bruna 16/06/2017
Fascinante, uma história sobre como o amor as vezes machuca...
O livro de hoje tem uma mensagem tão forte e profunda que chega a ser difícil conseguir traduzir em palavras toda a carga emocional presente nas paginas. No entanto, se eu tivesse que resumi-la em poucas palavras, eu a definiria como uma lição de vida capaz de mostrar as piores partes de um ser humano e como doenças mentais são mais do que apenas dramas. Em Mentiras Como o Amor escrito por Louisa Reid e publicado em Abril pela Editora Novo Conceito, o leitor irá se deparar com uma história extremamente real, com problemas sérios, e onde consequências podem ser fatais. Mais do que um mero drama acrescido de romance, essa é uma história sobre a vida e sobre o quão cruel ela pode ser... ao mesmo tempo em que trata sobre esperança e como o amor é capaz de transformar vidas. Mas já fica o aviso a você leitor que não se deixe enganar, porque assim como está escrito na capa “Nem sempre aqueles que mais nos amam são os que nos fazem bem”. Continue lendo e descubra o porque essa é uma obra que deve estar em todas as listas de leitura obrigatória!
Audrey é uma jovem de dezesseis anos cuja vida é repleta de escuridão. Tendo que conviver diariamente com suas crises e com uma Coisa que insiste em vir atrás dela, a única coisa que ela deseja é que possa ser uma adolescente normal. Infelizmente, a depressão que a acompanha desde que possui treze anos de idade, tornaram isso apenas um sonho distante e repleto de remédios e visitas a médicos. Cercada pela atenção de sua mãe vinte e quatro horas por dia, que não deixa que nada saia do lugar, e tendo sua vida controlada o tempo todo acerca do que pode ou não fazer; além de constantes insultos acerca do porque ela não consegue ser normal, Aud é uma menina extremamente tímida, nenhum pouco adepta a contato social, e cujas novidades são inexistentes.
Agora, prestes a mudar para a Granja, depois de um terrível incêndio que acabou com sua antiga casa, ela tem que se adaptar a um lugar completamente novo e que apesar de seu tamanho é extremamente desconfortável e, até certo ponto, macabra. Mas apesar de achar a vida nessa cidade rural da Inglaterra nenhum pouco propensa a bons momentos, ela tem que se fazer de forte, afinal seu irmão de cinco anos Peter precisa aprender a não temer o lugar e estar disposto a um recomeço.
Sabendo que sua mãe só quer o seu melhor, ela não se importa com as visitas a inúmeros especialistas e remédios sem fim que ela é obrigada a tomar... A única coisa que ela quer é poder manter a todos felizes, mesmo que sua doença torne isso extremamente complicado. Ela deseja um recomeço seguro, onde ela possa ser ela mesma sem os inúmeros bullyings já sofridos em seus colégios anteriores, um lugar onde ela possa finalmente se sentir normal e não temer até o menor dos contatos.
“Existe um jeito, se você pensar com bastante vontade, de fazer com que elas parem de machucar. Qualquer coisa. Mas eu não devia ter medo, meu pai sempre dizia não se preocupe, assobiando e fazendo meu braço balançar quando me acompanhava até a escola tantos anos atrás, e eu erguia os olhos e ele era um herói, a coisa mais segura em todo o mundo. Não se preocupe, seja feliz, Aud, dizia ele. E eu senti um aconchego por um momento, relembrando.”
Leo, um rapaz de aproximadamente dezoito anos, também tem seus demônios. Se vendo forçado desde cedo pela sua mãe a incessáveis aulas de música, a estudar vinte e quatro horas e ser nada menos que um gênio, seu corpo cobrou o preço o fazendo ter que realizar constantes visitas ao psicólogo e passar um tempo afastado de tudo, ou seja, dela. Para isso ele acaba indo morar com sua tia, Sue, um doce de pessoa e que não o pressionava em nada, deixando-o livre para ser um garoto normal da sua idade... o que não era muito fácil de ocorrer, uma vez que amizades e contato sociais foram se tornando cada vez mais escassos para ele.
Agora, com uma nova família se mudando para próximo da propriedade onde vive, uma curiosidade começa a surgir, principalmente ao observar uma linda garota de cabelos longos que passeava por lá com seu irmão pequeno. Logo de cara, Leo, percebe que Aud não é muito de conversar, mas nem por isso seu interesse diminui; depois de meses de insistência de seu psicólogo para que ele buscasse ter amigos, ele finalmente se sente pronto para tentar com ela, mesmo que isso vá requerer um grande esforço.
“(…) felicidade é ser amada por quem você é sem nenhuma reserva ou hesitação, sem retroceder ou se importar com o que qualquer pessoa venha a pensar.”
Quanto mais tempo os dois passam juntos, maior é o interesse que passa a surgir entre eles, mas estar com Leo é perigoso para Audrey... afinal, sempre que está em sua companhia ela tem o desejo de ser ela mesma, de enfrentar a vida, e não sente medo de nada que possa vir a existir. Sua mãe vendo o envolvimento dos dois insiste em falar que Leo não se trata de uma boa influência para ela e que pode colocar a perder tudo que elas já conquistaram de mudança positivas. Mas manter os dois afastados não é uma missão fácil, principalmente não quando um amor pode vir a surgir entre eles... Juntos eles são capazes de não temer nada e se sentem livres, duas pessoas prontas para enfrentar tudo e onde nada é capaz de afetá-los; mas seria isso o suficiente pra impedir que os fantasmas de Audrey voltassem a atormentá-la? Ou estaria sua mãe certa ao dizer que nada bom surgiria dessa relação?
“Virei-me para ir, mas a Coisa bloqueava a porta e eu não consegui passar por ela, e, naquele calor, uma gota de suor escorreu pelo meu pescoço, descendo pelas omoplatas e pelas costas. A Coisa me empurrou para a frente outra vez, contra a beirada do fogão, e a água se agitou e entornou e borbulhou e respingou e queimou e eu gritei.”
Mentiras como o Amor é uma obra extremamente complexa cujo começo não faz jus a intensidade de sua trama. No inicio o leitor é levado a pensar que se trata apenas de uma personagem com um problema de depressão e que escuta vozes que a convidam a fazer coisas terríveis a si mesma, mas a autora insere em sua trama gradativamente algo muito pior e que explica todo o objetivo e frases que o acompanham, transformando o enredo em algo maior e mais assustador do que muitos teriam a capacidade de imaginar.
Essa é uma leitura extremamente difícil de ser realizada em diversos momentos; várias vezes o leitor é inundado com cenas repletas de tristeza capaz de afetar até a mais insensível das pessoas. É agoniante em diversos momentos ver o quanto a protagonista sofre, e perturbador acompanhar o desenrolar e o que é revelado durante suas páginas. Extremamente realista essa obra não tenta tornar uma realidade cruel em algo belo. Louisa faz questão de entregar a realidade em sua forma mais pura, onde os contos de fadas não passam de lenda e onde um final feliz nem sempre acompanha a vida das pessoas.
Audrey é uma protagonista cujo sofrimento é palpável, ela é cercada por tanta escuridão que em diversos momentos eu fiquei a refletir como um ser humano é capaz de suportar tanto. Sua mente já está exaurida pelos constates confrontos entre a realidade e o que existe apenas em sua mente. Passando por situações devastadoras desde pequena como o abandono de seu pai, as criticas constantes de sua mãe, e as vozes decorrentes da doença que possui, Aud desconhece o significado de ser feliz. Ainda mais inserida em uma família que não contribui nenhum pouco para que ela possa superar, onde ela é responsável por cuidar e garantir a segurança de seu irmão e, sua mãe, Lorraine insiste em atingi-la com palavras cruéis e fazê-la de empregada. Aud vive um ciclo de sofrimento, e quanto mais acompanhamos sua história, mais somos capazes de entender o que a leva a situações tão extremas... muitas vezes por se sentir culpada por coisas que não são sua culpa.
Leo, por outro lado, é um rapaz que também já sofreu bastante e tem seus próprios demônios para enfrentar. Ao contrario do que ocorre normalmente, ele não é aquele protagonista perfeito e sem falhas; pelo contrário, é alguém extremamente real que tem medos, inseguranças, mas que está aprendendo a lidar com elas. Sem falar que ele é essencial na vida de Audrey, que passa a se arriscar mais e a conhecer sobre amor e segurança através dele. Peter, também tem uma importância enorme na história, apesar de sua tênue idade, ele está sempre lá para a sua irmã e é capaz de enxergar as coisas com a pureza que só uma criança possui, dando um ar mais leve no meio de tanto sofrimento.
Em relação à narração, confesso que gostei mais dos capítulos que eram narrados pela Audrey pelo fato de estarem em primeira pessoa. No entanto, não desmereço os que foram narrados pelo Leo, uma vez que eles são extremamente importantes para a construção da trama, mas por serem em terceira pessoa faz com que não haja uma inserção tão grande acerca dos sentimentos e até mesmo sobre ele, o que me incomodou um pouco. Os capítulos são bem divididos entre os dois, sempre acompanhados do nome do personagem que está narrando e intercalando o ponto de vista dos dois.
Quanto à construção da trama, eu preciso dizer que foi totalmente impecável. A autora soube ir apresentando os pontos importantes aos poucos e construindo o enredo de forma que você vai vendo tudo se encaixar aos poucos chegando a um ponto que você não imaginaria. São tantas surpresas, tanta carga emocional presente nesse livro, que é uma constante até o final da obra. O ritmo vai crescendo gradativamente até chegar ao ponto em que todo o mistério é revelado tornando os dizeres perturbador e emocionante totalmente verdadeiro.
Em síntese foi uma obra que mexeu comigo como há muito tempo não ocorria, é um enredo feito para que o leitor reflita e aprenda um pouco mais sobre questões que não são abordadas geralmente. Louisa Reid é uma autora que não tem medo de falar sobre como a realidade é e retratar toda a crueldade acerca dela. Ela fala com propriedade do tema de forma a ensinar, e onde mesmo com a inserção do romance, não tira o foco do que realmente é importante ali. Confesso que não esperava o desenrolar e o desfecho para mim foi um dos pontos que me fizeram tirar um pouco da minha nota, não por ser ruim ou não condizer com a realidade, pelo contrário (e quando vocês lerem vão entender o porque), mas porque eu acreditava que depois de tudo que aconteceu poderia ter um final mais feliz... Mas o tom esperançoso e realístico foi exatamente o que a história pedia, e eu não poderia deixar de dizer que essa obra apesar de suas facetas perturbadoras é completamente encantadora.
Como eu já havia dito no inicio, essa obra é uma daquelas que deveriam se tornar leitura obrigatória e que merecem todo o reconhecimento. Com uma diagramação feita com perfeição, Mentiras como o Amor é uma obra prima publicada pela Editora Novo Conceito e feita de forma a envolver e tornar a leitura prazerosa e fácil de ser realizada por horas. Leiam essa obra, e preparem-se para ser transformados por ela!
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