skuser02844 11/01/2022
A vida pela frente
A vida pela frente, de Émile Ajar (pseudônimo de Romain Gary). É uma obra vencedora do Goncourt, em 1975, o prêmio literário mais importante da França". Sabe quando você resolve ler um livro ao acaso, furando toda a fila de leituras programadas sem saber muito o porquê? Você só quer descobrir o que se trata aquela narrativa. Foi o que sentir com esse livro!
E antes de falar um pouco sobre o enredo, queria contar que essa foi uma leitura muito cativante e gostosa, daquelas que você nem sente passar em um fim de tarde e, quando percebe, já até terminou (e deixa aquele sentimento bom de saudade e acalento...).
Para tanto, ao adentramos no enredo conhecemos Madame Rosa, uma senhora que trabalhou como prostituta em Paris e que passou a cuidar de crianças em um bairro pobre de cidade. Rosa ainda carrega consigo os traumas de ter sobrevivido à Auschwitz. Nesse contexto, temos Momo, um garoto muçulmano que vive sob os cuidados de Rosa e que possui uma origem desconhecida. Além do mais, não termos informações sobre seus pais, sobre os motivos de ter sido abandonado e nem mesmo sobre a verdadeira idade do garoto. Apesar de uma narrativa simples que gira em torno de ambos os personagens, o autor consegue fazer da complexidade dessa improvável relação entre uma senhora judia e uma criança, uma vez que traz à tona uma leitura bem verossímil sobre os dilemas sociais vividos na atualidade sobre o abandono de crianças, bem como a emigração de diversas em pessoas no mundo.
Além disso, o livro ainda retrata a solidariedade entre pessoas que vivem em situações mais difíceis, à margem da sociedade. Rosa e Momo se relacionam diariamente com os demais moradores do prédio da periferia. Imigrantes árabes, judeus, negros. Cada um com seus problemas e diversidades, com também sua religião e a sua origem diferente, mas há sempre tempo para conseguir ajudar o outro. E é nessa rede de amizades que Momo constrói os seus afetos, assumindo Madame Rosa a figura materna que nunca teve. A partir da relação entre o garoto e os demais habitantes do prédio conseguimos tirar ensinamentos muito bonitos sobre a nossa simples condição de ser humano.