Thainan ~ 20/10/2011
A leitura do livro Utopia de Tomas Morus foi como um deleite. Imaginar uma civilização tão perfeita e equilibrada, que tem como princípio fundamental a equidade é realmente (como o próprio nome o diz) uma utopia. Mas ao depararmos com a realidade, o choque entre essas duas sociedades (utópica e contemporânea) é gigantesco.
O livro comparativa a diferença de nossa civilização em relação a um território que se torna um exemplo de sociedade.
O que há de diferente entre nosso ‘’mundo’’ e o "mundo utópico’’? Com certeza não é uma questão territorial, pois o livro expõe que não há nada que difira muito a ilha utópica da própria Inglaterra da época.
A diferença se estabelece no campo da MORAL, sobretudo quanto à cultura e honestidade governamental.
A sociedade utopiana soube utilizar seus recursos naturais sem causar nenhuma hierarquização, pois tudo é comum, graças a uma repartição igualitária de suas produções e bens sociais. Nessa sociedade não existe propriedade privada, a qual é colocada por Morus como uma das causadoras da miséria humana.
Segundo o autor, o direito de posse e privatização territorial colocava grande poder nas mãos de poucos, deixando os demais na miséria e obrigados a trabalhar sob circunstâncias abusivas.
Já na ilha utópica, o contexto é bem diferente, já que os cidadãos trabalhavam sob boas condições e apenas 6 horas por dia.
O autor, que assume um papel de filosofo, nos mostra que os ‘’reis’’ do século XVI (que não são diferentes de nossos governadores contemporâneos) não se preocupavam com o bem comum da sociedade e sim com o aumento de suas fortunas pessoais.
No Brasil,nos deparamos com uma triste realidade, onde um povo apático está a mercê de seus governantes (se é que assim podemos os chamar, pois não estão tão interessados em uma gestão eficiente, mas se mostram muito habilidosos e criativos quando se trata de falcatruas e corrupção).
Não podemos dizer que os culpados das desigualdades atuais são tão somente nossos representantes, pois se nós os escolhemos somos indiretamente responsáveis por de seus atos. Além disso, se vivemos em uma nação que se destaca por seus governos corruptos, então há em nossa sociedade (logicamente, não em sua totalidade) uma mentalidade condicionada a ser corrupta.
Se deixarmos a hipocrisia de lado, fica bem evidente que o brasileiro tem uma grande facilidade de passar por cima de todos quando se trata de vantagens. Com o chamado ''jeitinho brasileiro'' cometem condutas desviantes e até se vangloriam disso. Como podemos cobrar um governo eficaz em uma sociedade onde o jeito ''malandro'' é tido como natural e a pessoa honesta é tida como '' mané"?
Claro que existem pessoas realmente comprometidas e dispostas a mudarem esta realidade. Infelizmente, (por enquanto) as pessoas que estão dispostas a fazê-la são tidas como ''utopianos''. Quando alguém propõe um levante contra a corrupção é taxada de sonhador.
A diferença entre nosso país e a ilha Utopia é a moral, a cultura e os costumes que os condicionam à honestidade.
Mas não devemos esmorecer por isso, pois como dito no livro não devemos pular de um barco que enfrenta uma tempestade por não podermos conter as forças do vento.
Logicamente seria mais fácil se juntar ao '' time que está ganhando'' e deixar de lado todo esse papo de moral. Mas, sendo assim, eu prefiro ficar no barco, ser sonhadora e lutar, mesmo que a realidade nos distancie do objetivo, prefiro ver, apesar de em um horizonte longínquo, o meu sonho utópico. E mesmo que minhas atitudes sejam tidas como vãs eu quero contribuir para a sua consecução desse sonho e desfrutar do sentimento de que, mesmo nadando contra a maré, eu fiz a minha parte.