Lu 06/10/2019
Grandes eventos históricos geralmente são um bom pretexto para criar boas histórias. É assim com "Pilares da Terra", que explora o tumultuado período conhecido como "A anarquia" inglesa; a Segunda Guerra Mundial, que continua sendo fonte de histórias incríveis, tanto pelo lado dos Aliados, quanto dos alemães, a execução dos Templários por ordens de Felipe, o Belo e tantos outros acontecimentos que vemos em romances de época e históricos. Por isso, a premissa da criação de Stonehenge, um dos monumentos mais misteriosos e impressionantes do mundo, me parecia um ponto de partida excelente.
De fato, a criação do mundo na Era do Bronze feita por Cornwell é impressionante: brutal, detalhista (quase prolixa, em certos momentos e magnífica, assim como a mitologia imaginada por ele.
Mas o Tio Bernard falhou na criação dos personagens.Embora as personalidades dos 3 irmãos seja bastante contrastante, o que geralmente é uma promessa de bons diálogos e bons conflitos, nenhum deles deu muita liga. Lengar é apenas mau. Achei que Cornwell fosse explorá-lo, tal como Gorge R.R Martin fez com Theon e Euron Greyjoy ou o trabalho fantástico de Ken Follett com William Hemleigh. Mas não Ele é apenas mau. Ok. Camaban, por sua vez, já é mais interessante. Parece ser uma mistura de Floki com Ivar Sem Ossos, do seriado Vikings, com ênfase na loucura e uma astúcia realmente impressionantes. Só que ele está fora demais da casinha para ser um personagem cativante. Resta, portanto, Saben, o herói hesitante, pegar o cajado e assumir o posto de protagonista.
Mas Saban não tem nada a oferecer. Embora uma ou outra atitude mais promissora, as coisas acontecem a seu redor, muitas vezes, impactantes, e mesmo assim, o personagem não parece amadurecer. Eu até entendo que ele esteja em um jogo muito maior, como Uhtred, mas o protagonista das Crônicas Saxônicas, para o bem ou para o mal, faz suas escolhas e assume as consequências, seja se casando com uma dinamarquesa ou roubando vilas. O que não lhe falta é atitude. Saban parece com Tom de Hookton: nada o motiva.
Logo, pouco serve de incentivo para continuar a ler. Sem um protagonista que sirva como âncora, a história, por melhor que seja a sua premissa, perde força. E a falta de ritmo também prejudica a leitura, pois momentos impactantes são intercalados por longos capítulos discutindo deuses e sacrifícios e em que nada de relevante acontece.Por mais que a mitologia seja interessante, acaba se tornando cansativo.
Talvez sabendo disso, quando viajei de férias, levei na mala um romance bonitinho que já tinha lido, além do Stonehenge. O resultado: Nem toquei no livro do Cornwell. Foi apenas na semana passada, quando me dei conta de que tinha passado dez dias sem tocar no livro e não senti a menor falta dos personagens e de saber como aquilo terminava, que eu decidi abandoná-lo. Eu o fiz mais lamentando abandonar um livro do Bernard, que é um autor que eu gosto muito, mas ainda não consegui me conectar com nenhum outro personagem seu, além das Crônicas Saxônicas.
Enfim, é uma leitura interessante, até pelo período em que se passa, mas muito irregular, tanto em termos de ritmo quanto de construção de personagens.
Não recomendo.