Vozes de Tchernóbil

Vozes de Tchernóbil Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - Vozes de Chernobyl


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Tiago 31/08/2019

Tchernóbil: uma crise de paradigmas
A ideia de que os soldados voltaram mudos das trincheiras da Primeira Guerra Mundial já se tornou uma platitude, e sempre é evocada quando analisamos o papel das tragédias coletivas na reinvenção da experiência de narrar. Introduzida por Walter Benjamin em dois dos seus ensaios mais citados ("Experiência e Pobreza", de 1933, e "o Narrador", de 1936), esta ideia alimenta um certo paradoxo que reside na necessidade de narrar o que é, por natureza, inenarrável: o indizível, aquilo que precisamos mas não sabemos como traduzir em palavras.

Se Primo Levi tentou vencer este paradoxo remetendo-se ao trauma da Shoah e da Segunda Guerra Mundial em seus livros, Svetlana Aleksievitch dedicou-se a semelhante empreitada em "Vozes de Tchernóbil", livro que expõe o desastre nuclear como uma chaga responsável não apenas pela catástrofe a que se remete diretamente, mas por uma ruptura no tecido social, uma crise que se opera em muitos níveis paradigmáticos, dos quais pelas limitações de tempo e espaço aqui impostas destaco três:

1) O paradigma humano: Tchernóbil é uma experiência incomensurável. Se as guerras reduzem as vidas a números, dados estatísticos desprovidos de drama humano, Tchernóbil devolve à vida seu caráter imponderável: centenas de milhares de pessoas morreram em decorrência de males como o câncer de tiróide, embora os registros oficiais só deem conta dos 31 indivíduos que padeceram devido a circunstâncias diretamente ligadas ao desastre, além de outros 15 envolvidos em circunstâncias indiretas, como o contato com aquelas primeiras vítimas.

"As perdas materiais de algum modo ainda podem ser calculadas, mas e as perdas não materiais? Tchernóbil foi um golpe para a nossa imaginação e para o nosso futuro. Estamos assustados com o nosso futuro" [p. 199]

Ciente da ineficácia de uma abordagem generalizante em torno do episódio, Aleksiévitch finca a bandeira de sua jornada, desde o princípio, num terreno particular: seu interesse não é em Tchernóbil, o evento sobre o qual muito já foi escrito e publicado, mas sobre o que chama de "o mundo de Tchernóbil" (p. 40), seu universo cotidiano: o nome da cidade bielorrussa não como metonímia do que veio a se tornar para o mundo desde 1986, mas de algo tão pequeno quanto uma casa - a casa que ela foi para cada uma das pessoas que abandonavam suas residência levando as portas porque era acima dela que velavam seus mortos (como narrado em uma das muitas passagens dilacerantes do livro).

Seu interesse é no pequeno homem, o "pequeno grande homem", como afirma em "A Batalha Perdida" - discurso proferido por ocasião da entrega do Prêmio Nobel de Literatura, aqui incluído como um apêndice à obra. É este ser, banal e comezinho, o seu narrador, cada uma das solitárias vozes humanas que, quando agrupadas, compõem os coros pontuais da tragédia: o "coro de soldados" da primeira parte, o "coro do povo" da segunda e o "coro de crianças" da terceira.

Svetlana, ela própria, é uma dessas vozes a entrar em cena numa suspeita "Entrevista da autora consigo mesma sobre a história omitida e sobre por que Tchernóbil desafia a nossa visão de mundo". O título, falsamente cabotino, tem sua pretensão demolida quando a escritora se revela não como autora, mas como testemunha: ela também assume sua condição de "pequena mulher" diante do que julga ser o "principal acontecimento do século 20", talvez o principal século, dos principais acontecimentos. Tchernóbil torna-se um ponto indeterminado entre passado e o futuro, um ponto de inflexão do presente que seu livro tenta capturar e desprover de sua transitoriedade.

"(...) Como se em mim houvesse duas pessoas, a anterior e a posterior a Tchernóbil. Mas agora é difícil estabelecer esse 'antes' com toda fidelidade. A minha maneira de ver as coisas mudou" [p. 314]

2) O paradigma político: Tchernóbil está intimamente ligada, para usar uma expressão que é título de outro livro seu também lançado pela Cia. das Letras, ao "fim do homem soviético" e à derrocada de um éthos historicamente vinculado ao aparato ideológico socialista. Neste sentido, impossível não traçar um paralelo irônico entre este contexto e o atual, em países capitalistas como os EUA ou o Brasil onde a extrema-direita, sob a égide do combate ao radicalismo de esquerda e àquele sistema que floresceu na União Soviética, acaba demonstrando que (parodiando Tolstói) todos os regimes autoritários se parecem - os democráticos é que o são à sua maneira.

"Porque na história estarão juntos o desmoronamento do socialismo e a catástrofe de Tchernóbil. Os dois coincidiram. Tchernóbil acelerou a decomposição da União Soviética, fez o império voar pelos ares" [p. 184]

"Tchernóbil é uma catástrofe da mentalidade russa. Você nunca pensou nisso? Certamente estou de pleno acordo com os que escrevem que não foi o reator que explodiu, mas todo o sistema anterior de valores. Mas essa explicação ainda não é suficiente" [p. 264]

Como lembram os manifestantes nas ruas de hoje, com seus cartazes, "toda tragédia começa com alguém duvidando da ciência". Assim tem sido na terra plana de Bolsonaro, assim foi na Tchernóbil de Gorbatchov, onde cargos técnicos eram ocupados por carreiristas burocráticos que se arvoravam de sua ignorância e demonstravam profundo desprezo ao conhecimento científico. Como descrito em um dos monólogos da segunda parte ("A Coroa da Criação"), as contingências de Tchernóbil ficaram a cargo de mentes cujas mãos eram maiores que o cérebro e que desconheciam a tabela periódica.

Homens como Sliunkóv, ex-primeiro secretário do Partido Comunista da Bielorrúsia em 1987, ex-diretor de uma fábrica de tratores. Ele figura no testemunho de Vassíli Boríssovitch Nesterénko, ex-diretor do Instituto de Energia Nuclear da Academia de Ciências da Bielorússia, num trecho que baseia uma cena da série da HBO inspirada nas vozes a que Aleksiévitch recorre.

"Se você sofre um ataque de apendicite e tem que operar, a quem deve se dirigir? Certamente a um cirurgião, não a entusiasta de movimentos sociais" [p.199]

"Eu te disse que incessantemente fazíamos relatórios. Mas calávamos e nos submetíamos sem objeções às ordens por disciplina do Partido" [p. 255]

"Os cientistas, que antes ocupavam o trono dos deuses, agora haviam se convertido em anjos caídos. Em demônios! E a natureza humana seguia sendo tal qual no passado, um mistério para eles" [p. 296]

"A ciência servia à política, a medicina estava amarrada à política. (...) Éramos pessoas presas do medo e do preconceito. Nas mãos da superstição" [p. 320]

"Não, as autoridades não eram uma gangue de criminosos. Eles eram, antes de tudo, uma combinação letal de ignorância e corporativismo" [p. 322]

"Que poder é esse! Um poder ilimitado de determinados homens sobre outros. Já não se trata de engano, é uma guerra contra inocentes" [p. 326]

Se a ignorância em seu caráter mais altivo (a estupidez) era domínio da esfera pública, na então União Soviética, a ignorância em sua variante modesta (a inocência) prevalecia na esfera privada e se coadunava com uma mentalidade subordinada ao coletivo, forjada em meio aos conflitos e revoluções sociais que assolaram a região desde tempos imemoriais. O homem russo era produto e ferramenta do Estado, cioso de seu dever para com a pátria e sua bandeira.

"O Homem entregava ao Estado a alma, a consciência, o coração, e em troca recebia uma ração. Uns tinham mais sorte, recebiam uma ração maior, outros ganhavam uma ração menor. No final das contas dava no mesmo, todos davam em troca a sua alma" [p. 195]

"O meu pai, quando eu terminei a escola e quis ingressar numa universidade civil, ficou furioso: 'Eu sou um militar de carreira e você vai vestir paletó? Você tem que defender a pátria!'" [p. 218]

"A nossa gente é incapaz de pensar apenas em si, na sua própria vida; é incapaz de sentir a si mesma como um sistema fechado. Os nossos políticos são incapazes de pensar no valor da vida, mas tampouco as pessoas. Entende? Não nos constituímos dessa forma, somos feitos de outra massa" [p. 294]

"Ei vivia num país onde, desde a infância, nos ensinavam a morrer, nos ensinavam a morte. [p. 370]

3) O paradigma cultural: É evidente a fissura simbólica deixada por Tchernóbil no imaginário soviético. Súbito, todo e qualquer parâmetro era insuficiente para representar o que aconteceu. No livro, isso se reflete não apenas numa dimensão filosófica que se adere ao discurso popular (como veremos, mais de uma das testemunhas afirmam que é impossível não filosofar diante do que ocorreu), mas também num suposto esvaziamento do discurso literário - já que toda e qualquer ficção soa falsa diante do que se presenciou: toda fantasia é superada pela realidade, que por vezes parece ela própria uma ficção algo inverossímil.

"O acontecimento ainda está à margem da cultura. É um trauma da cultura" [p. 130]

"'Tchernóbil', dizia, 'aconteceu para que haja filósofos' [p.138]

"Fale de Tchernóbil com quem você quiser, todos se põem a filosofar" [p. 214]

"(...)na guerra você se torna um verdadeiro escritor" [p. 152]

"Às vezes me vem o pensamento sacrílego de que a nossa cultura não é mais que um baú de velhos manuscritos" [p. 168]

Muitos outros paradigmas são tensionados com o livro: o geográfico (a nuvem radioativa que pairou por Tchernóbil logo chegou a espaços improváveis do Globo Terrestre, ignorando fronteiras entre países e ampliando a calamidade), o temporal (a radiação modificou geneticamente os indivíduos - sobreviventes de Tchernóbil perpetuaram suas sequelas por gerações, marcando o DNA de seus filhos e netos), o ecológico, obviamente (como na série, é de cortar o coração as passagens a respeito dos animais domésticos e silvestres de Tchernóbil, que tiveram que ser abatidos porque toda e qualquer matéria orgânica - até as camadas superficiais da terra - tinham que ser enterradas e cobertas de concreto a fim de não aumentar a contaminação).

Como material literário, "Vozes de Tchernóbil" é tão inesgotável quanto os fatos derivados do evento do qual ele emergiu, dos cadáveres e suas histórias depostas em valas para sempre lacradas, só possíveis de ser revisitadas pela memória dos que ficaram e pela escrita de Svetlana Aleksiévitch que atua como uma coveira implacável, exumando esses corpos e expondo o que restou deles.

site: https://medium.com/@tiagogermano/tchern%C3%B3bil-uma-crise-de-paradigmas-15dcf5181715
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FabyTedrus 11/09/2019

Vozes de Tchernóbil - Svetlana Alexievich
Livro com os relatos de pessoas que tiveram sua vida afetada de alguma forma por causa de Tchernóbil. Não da para chamar isso de uma leitura agradável, pelo tema pesado e também por que as vezes se tornar repetitivo e cansativo. Mas o ponto principal é o absurdo que aconteceu com todas essas pessoas, com os animais, todas as mentiras, as desinformações, a ingenuidade, a forma como essas pessoas viam a vida e o seu país, e como a verdade foi abafada de tudo e todos.
Além do desastre nuclear, a população foi criminosamente e cruelmente enganada. É chocante ler os relatos, ver como tudo aconteceu. Apesar de tudo, é uma leitura interessante, vale a pena a leitura!
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Jenner Azevedo 13/09/2019

A União Soviética sendo União Soviética
Mais um bom livro que leio graças à HBO. Muito importante esse livro para entendermos o que aconteceu em Chernobyl, eu tinha 6 anos na época e só ouvia as coisas no jornal mas não entendi até lançarem a série o que realmente tinha acontecido. O livro é meio confuso, é como se fosse um documentário de entrevistas. Um público inusitado que deveria obrigatoriamente ler esse livro: pessoas que acham que comunismo é legal. Sei que são pessoas que não tem esse costume, mas poderiam fazer esse esforço.
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Cristiano.Vituri 18/09/2019

O pais que não existia
Sempre tive muito curiosidade sobre os fatos e eventos, sobre o panorama politico-social da URSS e da Europa na época do desastre de Chernobil. Existem milhares de videos na internet e reportagens em revistas e jornais.
Também existem matérias e noticias sobre as consequências da radiação no corpo humano e de quão grande foi a catástrofe. Das pessoas que perderam a vida, ou sofreram danos irreparáveis.

Mas o livro da Svetlana vai mais alem, vai fundo no drama humano e psicológico. Escancara as nuances perdidas ou não relatadas, os detalhes que ninguém quer falar. Como cada pessoa viu o desastre (a forma como foi escrito, como relatos torna a coisa muito intima, é fácil se ver ali ouvindo os bielorrussos contando), como cada membro da sociedade da época encarou cada momento, como hoje eles se sentem em relação as informações desencontradas

Pontos interessantes:
Belarus foi o pais mais afetado. E não a Ucrânia;
Muitos objetos e mercadorias foram levadas da zona de exclusão e consumidas/vendidas/usadas...;
Os soviéticos tinham uma mentalidade de união e coragem muito forte;
Os imigrantes - Tadjiques, Cazaques, Armenos - desde essa época eram um problema social muito delicado.

Tchernobil é um pais. As pessoas que lá estiveram são um povoado a parte, são a herança do núcleo.
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paulom 02/10/2019

Livro intenso!
Intenso! Acho que essa é a expressão que melhor o define. O estilo da autora, com frases curtas, induz a um ritmo rápido de leitura. É um daqueles livros que leva o leitor a se imaginar constantemente dentro dos cenários dos fatos que descreve. Svetlana Alexievich não apresenta a sua visão particular, mas as visões das dezenas de pessoas que entrevistou durante 10 anos. Pessoas que foram, de alguma forma, afetadas pelo desastre em Chernobyl. Trabalhadores que ajudaram a ?limpar? os escombros da explosão, bombeiros que combateram o incêndio na central e, por isso, receberam doses altíssimas de radiação logo nos primeiros minutos. Entrevistou camponeses que viviam nas aldeias próximas e que tiveram suas vidas alteradas para sempre, ou porque foram obrigados a evacuar a região ou porque se resignaram e permaneceram imersos naquela terra saturada de radiação, que a tudo impregnava, desde os alimento que colhiam até as roupas que vestiam; mães que estavam grávidas à época da tragédia e que contam suas experiências com os filhos da chamada ?geração Chernobyl?. Entrevistou esposas e maridos que acompanharam os últimos momentos das vidas de seus cônjuges, que morriam de algo terrível que até então não era de todo compreendido. Entrevistou ainda membros do Partido Comunista à época, cientistas, engenheiros, pessoas que trabalhavam na central, que trabalhavam no Instituto Nuclear da Bielorrússia, e que alertaram para as consequências do acidente, mas não foram ouvidas. É uma obra que descreve a tragédia de uma forma que não foi vista em nenhuma reportagem ou documentário. E, acima de tudo, a autora descortina aos olhos do leitor os limites de resignação da alma humana.
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Jazz 14/10/2019

Cadê o lencinho?!
Com um conjunto de relatos impressionantes e profundos dos sobreviventes da explosão na usina nuclear, Svetlana nos mostra nesse livro emocionante, monólogos de evacuados, soldados, civis, crianças e idosos, que, infelizmente vivenciaram esse triste momento da história mundial.
No livro, é exposta a reviravolta que esse acontecimento deu na vida das pessoas. Romances terminados de forma cruel, infâncias destruídas, vidas acabadas. Mostra relatos de civis, soldados e cientistas que foram obrigados a trabalhar, sendo expostos à radiação, pessoas sendo evacuadas sem nenhuma explicação, alguns foram simplesmente abandonados, a censura.
Em algumas partes a leitura fica cansativa, porque de uma forma ou outra, fica um pouco repetitivo, principalmente quando se trata de relatos de civis. Os das crianças, dos idosos e dos amantes se diferenciam mais dos demais (e são mais emocionantes). É um livro que vale a pena, pra refletir, se emocionar e começar a compreender. Tem que ter psicológico pra aguentar!
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Laura Regina - @IndicaLaura 14/10/2019

um Livro sobre a vida real

Relatos de sobreviventes do maior acidente em usina de energia atômica da história, em Tchernóbil, Ucrânia.

Este acidente - ou desleixo criminoso - aconteceu em abril de 1986, e é considerado um dos estopins para o fim da União Soviética. Mais do que isso, a Usina de Tchernóbil foi o primeiro evento evolvendo energia atômica e suas falhas - e as consequências catastróficas.

Catástrofe para toda uma população envolvendo Ucrânia, Bielorrússia e Rússia. E toda a Europa e mundo, pois sua nuvem radioativa foi observada em vários continentes. Esta história foi narrada na série da #HBO (que já tem indicava aqui! 😉), contando sua origem e todo o envolvimento político para sua resolução.

Mas e as consequências para as pessoas que viveram nesta região? E para aqueles que ainda vivem lá?! Este é o foco do livro, pois aqui temos os relatos das vidas dessas pessoas que estavam no centro deste território contaminado - e sem compreender o tamanho do perigo que estavam correndo. Relatos de pessoas que trabalharam no reator, no extermínio de animais contaminados, na evacuação da população; e os moradores das aldeias atingidas, o quanto não entendiam o acidente e suas consequências, o quanto sofrem até hoje com problemas de saúde, o quanto penam por não poderem (ou quererem) morar em outro local.

Relato jornalístico da ganhadora do #Nobel .
Svetlana Alexijevich nos trás as falas destas pessoas invisibilizadas. É bastante triste.

Mais indicações no Instagram @indicalaura

site: https://www.instagram.com/indicalaura/?hl=pt-br
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Ruh 15/10/2019

É um livro para se pensar
Foi uma leitura bem lenta, devido ao modo como o livro é escrito: em entrevistas, e por ser um livro com carga emocional extrema, foi de difícil costume em seu início.
A autora durante o livro adota uma posição de neutralidade, expondo os pontos de vistas de diversas pessoas, suas dores, seus medos, suaa esperanças e a falta delas.
O livro me fez pensar, em comoo ser humano brinca de ser O todo poderoso, porém não sabe lidar com o próprio poder, como esse anseia de poder tecnológico, destruiu uma geração, e sufocou tudo isso para manter-se no poder, ignorando as vidas e os gritos. A nossa espécie se põe num pedestal inalcançável, sendo que a cada passo caminhamos pra nossa extinção, e a natureza se adapta, porém não nós, e essa luta ideológica e desumana nos levaa níveis extremos, provocando uma onda de alienação a fim de um bem próprio, que resulta na desgraça.
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Lisaclarck 24/10/2019

Livrão
Vozes de Tchernóbil | Svwtlana Aleksiévitch | @compa

Svetlana, uma renomada escritora Ucraniana, queria contar a história do desastre nuclear de Tchernóbil, mas diferentemente das diversas obras sobre o ocorrido, queria mostrar o ponto de vista das pessoas que passaram e sofreram diretamente com o desastre. Então, quem melhor para contar do que o próprio povo? O livro é um compilado de depoimentos das pessoas: bombeiros, cientistas, liquidadores, políticos, crianças, esposas, maridos, idosos, pais, professores... Cada depoimento além de contar sobre o ocorrido, demonstra a mentalidade das pessoas, sua cultura, crenças e sentimentos.

É um livro excepcional, ele não se atem a superficialidade dos fatos, mas demonstra toda a dor de um povo. Ao ler cada depoimento, da criança ao idoso, foi como se pudesse me conectar com aquelas pessoas e compreender mais profundamente o que elas passaram e sofreram com o acidente nuclear e como seu modo de vida foi mudado. Além disso, podemos ter uma visão de como a União Soviética e o fim dela influenciaram na vida e comportamento da população.

A dedicação dessa mulher para a criação de uma obra completa foi essencial. Ela demorou 20 anos para escrever e valeu todo o trabalho, pois conseguiu passar a mensagem que queria com sua obra. Pela minha humilde opinião eu não consigo passar toda a carga emocional desse livro, então sugiro que leiam e descubram por si mesmos.
?Os nossos escritores continuam a escrever sobre a guerra, sobre os campos de batalha stalinistas, mas calam sobre Tchernóbil.?
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Mauro.Costa 27/10/2019

Vozes pungentes
Os depoimentos duros, doloridos e muito bem editados no livro me transportaram para os anos 1980, quando eu era um adolescente na época do acidente nuclear de Chernobyl (como me lembro ser a grafia dos jornais da época) e acompanhei aqui no Brasil, no Ceará, na minha Parangaba da infância, o pouco que chegou de informações sobre essa tragédia. Nunca imaginei o qual doloroso e massacrante foi essa experiência e o tanto de traumas que foram causados. Não apenas pelo acidente em si, mas pela forma como tudo era desconhecido e escondido das pessoas, as que morreram e seus familiares. Que livro pesado! Mas necessário para se notar como o ser humano é frágil e ao mesmo tempo poderoso.
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Homerix 29/10/2019

Tchernóbil Noble
Aguardando o último livro da saga de Guerra dos Tronos, já encomendado, embarquei numa iniciativa de Renata, que encomendou dois livros da ganhadora do Prêmio Nobel de 2015, Svetlana Aleksiévitch.

Escolhi, para começar, ‘Vozes de Tchernóbil’, e comecei sem ler orelhas, como sempre faço! Sobre o outro livro, que já acabei também, escrevo aqui, neste link! Igualmente indispensável.

Em primeiro lugar, foi a primeira vez que vi o acento no ‘ó’.... pensava ser a tônica no ‘i’, como sempre se falou desde a explosão do reator em abril de 1986.

Um desastre que não é como um tsunami ou um terremoto ou uma inundação, que acontece, destrói e fim, começam as operações de recuperação. Aqui, foram relativamente poucas as fatalidades no dia do acidente, mas seus efeitos duram até hoje, e ficarão por séculos....

No primeiro capítulo, um brevíssimo histórico do acidente, e fico sabendo que, apesar de a usina atômica estar numa cidade da Ucrânia (até coloquei no meu quiz), o país mais afetado foi a Bielo-Rússsia (assim chamada por aqui), na verdade Belarus, que significa Nova Rússia, apesar de ‘bela’.

Depois, fico sabendo ser a escritora jornalista...... e depois começam depoimentos, depoimentos e mais depoimentos de sobreviventes.... aí pensei, caramba, é um monte de relatos, muito bem concatenados e coordenados, típico de uma reportagem, um documentário jornalístico, que talvez pudesse merecer um Prêmio Pullitzer.

Sabedor de que a instituição norueguesa premia, não UM livro, mas a carreira do escritor como um todo, pensei.... ‘então, vou ler este, mas depois leio um outro que deve ser o motivo do prêmio’..... afinal, sempre pensei que ganhadores de Prêmio Nobel seriam escritores profissionais, que ganhavam notoriedade pela qualidade de seus romances, históricos ou não, e não compêndios de depoimentos.

Bem, isso foi a impressão inicial, porque o conteúdo acabou me conquistando... as histórias dos primeiros mortos, dos efeitos da radiação, depois das evacuações, de Pripyat, a cidade mais próxima, e das demais vilas e povoados, hoje cidades-fantasma.... e das operações oficiais atrapalhadas, quando se enterrava terra com terra, a ocultação do verdadeiro teor do desastre, tanto que mantiveram a usina gerando eletricidade até 2000, os pobres ‘liquidadores’ responsáveis pela ‘limpeza’, os robôs que utilizaram mas por pouco tempo porque quebravam por conta da radiação (imagina o que não fazia com o corpo humano...), o abandono dos lares, as coisas que levavam, ou as que não deixavam levar, a política oficial de dizer que estava tudo bem, o envio de tropas inteiras (sem a proteção adequada) para uma morte lenta, relatos sobre os heróis que mergulharam num tanque radioativo para abrir um ralo evitando um espalhamento ainda maior, os pilotos de helicópteros que chegavam muito próximos para lançar chumbo sobre os destroços, uma geração que morreu jovem, desprezada, lutando com o preconceito, tudo foi muito tocante. Acostumei-me com as contagens de radiação, os roentgens, os curies, os milicuries, nos dosímetros que ardiam, apitavam, gritavam, ao serem aproximados de uma cadeira, de uma maçã, da relva, do gato, da tiroide das pessoas (que é onde se depositava a radiação), ... E as cores que tomavam as coisas e as pessoas, e dos inchamentos que acometiam os mais graves, e dos aumentos exponenciais dos índices de abortos espontâneos, dos nascimentos de crianças e animais malformados (não coloquei fotos aqui), dos indicadores de câncer.

Então, cheguei à conclusão de que o Nobel fez muito bem, sim, em premiar esse estilo de literatura, pois assim, essas histórias vieram ao mundo, e em última análise, eu as fiquei conhecendo.... a própria autora publica, ao final do livro, o discurso que fez ao ganhar o prêmio, em que diz exatamente sobre essa decisão de premiar uma obra que não era ‘literatura’.

Leitura altamente recomendada... eu diria, essencial!!!

Bem, a gente viu mesmo que os velhinhos noruegueses estavam querendo quebrar paradigmas... e foram ao extremo no ano seguinte, quando concederam o mesmo prêmio ao compositor Bob Dylan, esta, sim, uma quebra monstro de paradigma elevada ao cubo!!!

O que será que vem em 2017???

site: https://blogdohomerix.blogspot.com/2017/04/tchernobil.html
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Fabiano 02/11/2019

Polifonia da vida
Esta obra é diferente de qualquer outra. É única. Viva. Forte. Real. Trata-se de relatos de pessoas comuns, afetadas pelo acidente da usina nuclear de Tchernóbil. É sabido por todos o trágico acontecimento, não me deterei a detalhes sobre isso, mas ao rico fato da história humana. Sim, o leitor deverá ler com contemplação, com respeito às diversas vítimas do acidente. Com o lançamento da série pela HBO, o livro voltou a estar em evidência. E este foi meu ponto de partida para ler o livro. Fui arrebatado pela escrita da autora e pelos diversos relatos que nele constam. O amor, a perda, a esperança, a raiva, o inconformismo, a desesperança, a vida e principalmente, a morte. Temas recorrentes a cada página. Reflexões que podemos trazer também para nossa vida. Não à toa é polifônico. Remete-se às obras de Bach, vozes se contrapondo, cada qual com seus sentimentos, ora harmonizam-se, ora complexam-se. Em meio às memórias é exposto o mais ardiloso dos inimigos, não o átomo, não a radioatividade, mas a ignorância e ocultamento. Em meio às escuras, as pessoas levam suas vidas normalmente sem ao menos saberem o que é radiação. Naturalmente são contaminadas, envenenadas. O destino final todos sabem. Também há relatos heroicos daqueles que se sacrificaram pelo bem maior, pelo amor ao próximo, ao país. Pelos heroicos esforços, o inimigo mortal jaz em seu sarcófago, mas ainda respira. Svetlana, com sua escrita jornalística, mas não rígida, traz relatos das situações mais difíceis, a guerra, o horror, a vida e a morte. Mas não sobre isso, ela reverencia e traz honra a seus entrevistados. Aos mais sensíveis não é recomendado a leitura, pois tons alegres são raros. Mas, é inegável que o leitor deverá ao menos uma vez adentrar e conhecer a multiplicidade de vidas e histórias.
"Com Tchernóbil, o homem levantou a mão contra tudo, atentou contra toda a criação divina, onde vivem, além do homem, milhares de outros seres vivos. Animais e plantas."
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Gizele 07/11/2019

Eu nunca tinha lido um livro no formato que este se apresenta.
São diversos relatos/depoimentos de pessoas direta e indiretamente afetadas. Quem estava lá, os parentes de quem foi e morreu, as crianças que hoje são doentes. É uma coisa revoltante. Toda a mentira e omissão e como eles relacionam tudo à guerra. E as observações que a autora faz para demonstrar o comportamento do entrevistado traz o sentimento certo para a interpretação do relato.
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Mello 13/11/2019

Forte
A autora apresenta fortes relatos da maior catástrofe que ocorreu no mundo até hoje, pela perspectiva das pessoas que mais sofreram com o fato. Os depoimentos retratados no livro são chocantes, colocando-nos dentro da cabeça das vitimas de forma muito viva e real.
Considero um livro incrível, mas, muito denso, a leitura torna-se bem cansativa e entediante em alguns momentos. Existem também muitos relatos semelhantes uns dos outros, o que vai desgastando o leitor, ainda mais com assuntos tão chocantes. Mas de maneira geral recomendo esta obra, afinal, trará a diversos leitores uma visão nunca experimentada deste acontecimento.

site: https://www.instagram.com/matheusmello95
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setantarpgs 05/12/2019

Uma obra sobre o aspecto humano e existencial da tragédia
O livro é bom e melhora da metade pro final. É interessante porque aprofunda nas questões existenciais daqueles que sobreviveram ao acidente nuclear. É um relato dos medos, das angústias, das perdas e do que restou de cada pessoa.
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