Vozes de Tchernóbil

Vozes de Tchernóbil Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - Vozes de Chernobyl


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Marlonbsan 27/01/2020

Vozes de Tchernóbil
Em 1986 ocorreu uma explosão na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, as partículas radioativas se espalharam afetando a vida de toda a região. A cidade de Pripyat teve que ser evacuada, pessoas que trabalharam para conter o incêndio e realizar reparos foram severamente expostas e sofreram as consequências. No livro, Svetlana conversa com as pessoas que foram afetadas pela tragédia.

O livro é separado por relatos, monólogos e pequenas histórias de pessoas que viveram na região na época do desastre. A escrita traduz de forma crua o que elas disseram, fazendo com que seja uma leitura extremamente humana e tocante, porém, isso corrobora para que haja uma certa desconexão das ideias, principalmente em alguns monólogos.

Os relatos são muito fortes, a dor da perda de entes queridos, de como isso tudo afetou a vida das pessoas, as que tiveram que se mudar ou as que foram expostas e tiveram que conviver com o medo da morte e doenças relacionadas à radiação. Sem contar o preconceito, por virarem ?Pessoas de Chernobyl?. Outro ponto, é perceber como o governo enganou a população, dizendo que não era nada grave e não tomando as medidas iniciais cabíveis, sem fornecer equipamentos necessários, além de censurar quem queria alertar, e também como é difícil fazer as pessoas, sem o conhecimento científico, acreditarem na ciência que não se vê.

A leitura não é fácil, não só é denso pelo tema abordado e pelos relatos tristes e pesados emocionalmente, como também pela falta de uma linha de raciocínio, você não sabe qual pergunta foi feita, apenas tem as respostas das pessoas, em um dos monólogos há várias pessoas falando ao mesmo tempo, cada uma fala o que quer e são ideias desconexas, outros monólogos são assim também.

A primeira e a última histórias, que seguem uma linha estrutural mais definida, são incríveis, os Coros, que são os relatos mais curtos, também fazem jus ao prêmio Nobel recebido, mas os monólogos, além de alguns serem repetitivos, outros trazem informações que não cativaram muito meu interesse.

Foto e resenha no meu IG @marlonbsan. Quem puder, segue lá...
Ferreira.Souza 14/10/2020minha estante
um livro muito bom


Wilma 25/06/2021minha estante
Como faz aqui pra ler?


Marlonbsan 25/06/2021minha estante
Infelizmente não dá pra ler os livros por esse aplicativo, só organizar as leituras


Jorge 30/01/2022minha estante
Excelente resenha. Tive dificuldade no início justamente por conta da desconexão das narrativas. Mas o livro é excelente.


Lud 21/12/2023minha estante
Ótima resenha.


Marlonbsan 22/12/2023minha estante
Ahh obrigado ?




edu basílio 26/06/2020

as vozes de quem de fato constrói a História

que livro impregnado de força!
os livros tradicionais de história nos apresentam uma versão literalmente editada e unifocal dos fatos que moldam a humanidade e definem o presente: narram-nos guerras, mas do ponto de vista de generais e políticos que as provocam e as observam, tomando decisões em seus palácios com taças de vinho nas mãos. apresentam-nos a cultura de países em diferentes épocas, mas do ponto de vista de produções artísticas e de festas em salões da nobreza. relatam-nos o funcionamento econômico de sociedades, mas por meio de descrições não raro simplórias e mecânicas das modalidades de produção e de comércio.
... mas e a vida, os fardos, os sofrimentos, as angústias, as alegrias da maioria imensa dos humanos que, "aqui em baixo", põe as mãos à obra e constrói DE FATO a História?

em um trabalho jornalístico embebido de humanidade e empatia, svetlana aleksiévitch deixa falar, neste livro, as vozes nuas e cruas daqueles que foram vitimados pelo acidente nuclear de tchernóbil, mas que foram sumariamente excluídos das narrativas oficiais da História. é poderoso, dolorido e esclarecedor, mas até ler sobre o sofrimento dos nossos semelhantes requer coragem e força. creio que seria melhor para mim se eu o tivesse lido em uma época menos pesada para a humanidade. acabou sendo uma leitura meio dura, agora em que há tanto sofrimento escancarado no planeta enquanto atravessamos a pandemia de covid-19.

a obra de svetlana aleksiévitch é toda composta de livros que dão a palavra a quem viveu e construiu a História naquilo que os livros oficiais consideram bastidores (crianças e mulheres na segunda guerra mundial, jovens soldados na guerra soviético-afegã, o povo russo durante o declínio e a dissolução da união soviética). talvez o seu prêmio nobel de literatura em 2015 tenha sido um dos mais belos dentre os atribuídos na década que passou ou, até mesmo, um dos mais nobres de toda a história dessa premiação.

e já que sonhar nunca é demais: quem sabe em alguns anos, svetlana nos brinde com uma nova obra em que motoboys e caminhoneiros, profissionais da saúde, da segurança e da limpeza, órfãos/ãs e viúvos/as, os próprios sobreviventes da pandemia... possam todos formar um novo coro e nos falar -- e, dessa forma, nos dê um ponto de vista fraterno e humano dessa tragédia de saúde pública que nos chega hoje via noticiários apenas por meio de gráficos, estatísticas e, pior, de imbróglios políticos?

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Eduardo 26/06/2020minha estante
Eu já tinha uma baita vontade de ler. Depois dessa sua maravilhosa resenha, Du, mais ainda :)


edu basílio 26/06/2020minha estante
duzito, meu querido, que bacana que você tenha se sentido estimulado :-))) trata-se de algo de fato diferenciado, viu... muito pungente! pegue-o preparado para lidar com uma carga grande de sofrimento humano... e estou certo de que você apreciará a grandeza da obra.


Eduardo 26/06/2020minha estante
Também estou certo disso, Duzito. Estarei preparado para essa leitura. Assisti à série no ano passado e senti uma emoção extremamente forte. Sei que algo com esse peso está contido também nesse livro.


edu basílio 26/06/2020minha estante
... vai ser ótimo poder conhecer também seus sentimentos e emoções trazidos pela leitura :-)


Felipe 30/06/2020minha estante
Nossa Edu, que resenha ótima! Quando li "As Últimas Testemunhas" da mesma autora, tive os mesmos sentimentos que você, tirando a questão do momento da leitura, em que a Terra ainda não conhecia o corona dessa maneira que conhecemos hoje. Os livros dela são fortes, tristes e emocionantes. Essa sua ideia da Svetlana dar voz aqueles que sofrem com essa pandemia do covid-19 é ... não sei nem expressar. Só de pensar, eu já me emociono. Algo que poderia ter sido evitada ou talvez amenizada (se posso usar essa palavra) se os governantes fossem mais sérios!


edu basílio 30/06/2020minha estante
... oi, felipe. obrigado pelo seu gentil comentário =) este foi meu primeiro livro da svetlana, mas não quero que tenha sido o último. parece que a obra dela é toda nesses moldes, e se é mesmo assim, de fato trata-se de um "monumento histórico" digno de muitas honrarias (e sim: o ideal, na verdade, é que a História fosse construída sem mais tragédias, para que não haja MAIS vítimas a quem dar voz, né...?).




Jess 12/06/2020

História pura!
Eu estava muito empolgada para ler esse livro. Mas, ao contrário do que pensei, não consegui ler tudo de uma vez. Precisei de pausas. A história se torna mais pesada toda vez que lembramos que não é ficção. Foram relatos de sofrimento inimagináveis. Alguns falando do amor, outros da tristeza e da perda, outros falando do "sentimento soviético", outros da falta de perspectiva de futuro e da certeza da morte precoce. Uma catástrofe sem precedentes foi provocada por uma explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, que até então fazia parte da União Soviética, em abril de 1986. A cidade de Pripyat teve que ser evacuada em virtude da contaminação ambiental pelos radionuclídeos, enquanto os governantes expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os reparos na usina e nos arredores. O governo ignorou alertas de químicos e físicos nucleares, escondendo informações vitais da população sobre os perigos da radioatividade e medidas de profilaxia, ações que, somadas às condições precárias de funcionamento da usina, culminaram num manejo desastroso do acidente, em nome de manter uma imagem de supremacia militar perante os inimigos na Guerra Fria. Diferente da guerra, situação à qual já estavam acostumados, segundo os relatos, a radiação não se vê a olho nu, não tem cheiro, não tem cor, não há som de tiros nem de bombas. Era um perigo invisível que transformou radicalmente diversas vidas. O livro reúne relatos dos sobreviventes do acidente nuclear, buscando dar voz a um povo que, nas palavras dele, "não perdeu somente a cidade mas a vida inteira" e que quer contar a sua versão dos fatos. Ler esse livro messe momento me permitiu traçar alguns paralelos tristes com a nossa realidade como, por exemplo, governantes que desvalorizam a ciência para que sua imagem permaneça intacta, que maquiam dados e estatísticas para não gerar pânico e desprestígio enquanto a população adoece e morre. Livro pesado, mas ao mesmo tempo emocionante e necessário. É uma verdadeira aula de história, contada por quem a viveu.
Felipe 12/06/2020minha estante
Tua resenha acabou de me fazer decidir que esse vai ser meu próximo livro!


Jess 12/06/2020minha estante
Fico muito feliz, Felipe! É um leitura que vale muito a pena. Espero que goste tanto quanto eu gostei.


Alê | @alexandrejjr 17/06/2020minha estante
Excelente resenha! A série da HBO é praticamente um complemento desse livro, Jéssika, vale a pena.


Felipe 17/06/2020minha estante
Olha, não sei dizer se a série é um complemento ao livro, mas voltei aqui só pra dizer que é mesmo sensacional. Uma das melhores que eu já vi!!!


Jess 19/06/2020minha estante
Obrigada, meninos! A série da HBO é baseada no livro. Mas o livro mostra mais relatos do que foi possível exibir na série. Mas é muito boa mesmo...




spoiler visualizar
Maria Gabriela S. V. 11/01/2021minha estante
Nossa, eu amei demais a leitura desse livro kkkk devorei em poucos dias


Michela Wakami 11/01/2021minha estante
É tão incrível, como a experiência de leitura é para cada pessoa.


Annie Bitencourt 21/03/2022minha estante
Eu acabei largando, achei a escrita super confusa depois do primeiro caso contado.


Michela Wakami 21/03/2022minha estante
Annie, além de bizarra.?




laiscunhaf 19/01/2024

"Como é fácil você se tornar terra"
Este livro me surpreendeu. Estava na minha lista de leitura por muito tempo, e decidi que agora seria o momento. O que eu não esperava era a complexidade dele e o quanto ele exigiria de mim. A empatia necessária para senti-lo e a frieza para equilibrar os sentimentos e não sair machucada tornaram a leitura, no mínimo, densa.

Falamos aqui da catástrofe desencadeada por uma explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em abril de 1986. A cidade de Pripyat precisou ser evacuada devido à contaminação ambiental por radionuclídeos, enquanto governantes expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os reparos na usina e arredores. Ignorando alertas de químicos e físicos nucleares, o governo ocultou informações cruciais da população sobre os perigos da radioatividade e medidas preventivas. Essas ações, aliadas às condições precárias da usina, resultaram em uma gestão desastrosa do acidente, visando manter uma imagem de supremacia militar na Guerra Fria.

A radiação não é visível a olho nu, não tem cheiro, cor ou som. É um mal invisível que destruiu e traumatizou vidas. No livro, testemunhamos monólogos de sobreviventes, e o que mais me doía era perceber que eram pessoas comuns, leigas no assunto, expostas a isso sem ter a mínima noção dos riscos.

O livro é denso e complexo, mas é indispensável.

[2024]
Gleison Marques 19/01/2024minha estante
Uau! Lendo a resenha deu pra sentir o peso dessa leitura.


Marlo R. R. López 19/01/2024minha estante
A primeira história é um soco no estômago. Não dá pra superar nunca.


laiscunhaf 19/01/2024minha estante
Quando terminei a primeira história precisei de uns dias para voltar com a leitura, ela é impactante mesmo.




julya 06/10/2022

?As coisas mais terríveis ocorrem em silêncio.?
Pensei muito sobre o que escrever nessa resenha. Chega a beirar o desrespeito ter algo para falar após fechar ?Vozes de Tchernóbil?, sem se engasgar, praguejar a humanidade e admirar a singularidade do ser-homem. Mas, ao mesmo tempo, também parece insanidade não ter nada a dizer.
O trabalho magistral, felizmente reconhecido, de Svetlana Aleksiévitch comove em todas as suas camadas. O sentimentalismo em buscar representar a história de, como a mesma diria, pequenos-grandes homens: contando sua pequena história, constroem a grande. Uma delicadeza, talvez, só encontrada em pessoas tão sofridas pela própria história, desde o seu nascimento: pela designação do ser mulher, pelo patriotismo de uma nação dividida e por nascer com sede de se fazer ouvida e de se fazer ?ouvido?; ou, em citação mais uma vez, ?mulher-ouvido?.
Vozes de Tchernóbil não é um livro fácil. A história humana é a da força da humanidade e movimentação de comunidade, e fraqueza, de espírito, de medo, de desejo de poder. Tchernóbil traz relatos que revoltam, deixam gosto amargo na boca de crimes nunca resolvidos pela ânsia de dominação, com um fascínio adquirido que envergonha o leitor. Aldeias e cidadãos transformados em espetáculo, sempre distante. E, ainda, em citação direta: ?Nós nos transformamos de tal forma que o horror que hoje passa nas telas precisa ser ainda mais terrível que o de ontem. Caso contrário, não mete medo. Nós cruzamos a linha.? Um tapa na cara contemporâneo, anos e anos atrás.
No entanto, nunca falha em contar a história do amor, da pátria e da solidariedade, com esposas que ignoram pedidos médicos para segurar a mão de maridos em leito de morte, mães que lutam pelo direito de parir, soldados que entregam a vida pelo próximo e cientistas que ainda buscam culpados. ?As pessoas não querem ouvir falar da morte. Dos horrores? Mas eu falei do amor? De como eu amei.?
Vozes de Tchernóbil é um retrato que vai além da tragédia. É um relato de um crime, um relato da vida, um relato da esperança, um relato do medo, um relato do passado e um relato do futuro, tudo de uma vez. Um daqueles livros inesquecíveis, com frases que jamais saem da cabeça. Indispensável.
?E o vovô, quando estava saindo, tirou o chapéu.?
Mike27 06/10/2022minha estante
Faço minha suas palavras.


julya 07/10/2022minha estante
esse livro é maravilhoso! vi que leu a guerra não tem rosto de mulher, com certeza é uma das minhas próximas leituras!


Mike27 07/10/2022minha estante
Segue o mesmo padrão de qualidade da autora




Lara.Dias 20/02/2018

Esse livro mexeu comigo... tanto que em vez de uma resenha, eu acabei fazendo um poema.

Os corais respondem o que Neruda teria perguntado se vivo:

Quantas ilusões explodiu o átomo da paz?
Quantos queimaram depois de terem apagado o incêndio?
Quanta tristeza o dosímetro mede nas aldeias fantasmas?
Onde se esconderam as minhocas de Tchernóbil?
Quem levou na mala uma porta?
Quem enterrou a terra com terra?
Quais soldados lutaram com partículas invisíveis?
Quem carregou os detritos de Tchernóbil?
Quem na primavera azul não sentiu o cheiro das lilases?
Quem colheu as batatas depois da explosão?
Quem chorou quando os liquidadores foram liquidados?
Quando um nome de cidade vira diagnóstico?
Como converter monólogos em Roentgen?
Como costurar as memórias com chumbo?
Como lavar a sujeira dos isótopos?
Quantas gravidas choraram culpas por amar?
Quantas gerações cabem na meia vida do urânio?
Quantos uivos irradiaram os lobos?
Quantas toneladas de concreto é preciso para isolar o medo?
Quantos Milisieverts têm nas lágrimas das mães?
Quantos radionuclídeos emitem o choro das crianças?
Quanto Curies tem o luto das viúvas?
Por quantos séculos será soberano o tsar atômico?
Vivi 13/12/2018minha estante
Terminei agorinha o livro e tb mexeu mto comigo. Bela poesia: ..."quem levou na mala uma porta..." essa parte ficou dias na minha cabeça.


Lara.Dias 26/12/2018minha estante
Obrigada Vivi. Precisei fazer uma pausa depois de ler esse livro. Agora minha meta para 2019 é ler a guerra nao tem rosto de mulher, e já imagino que esse também vai ser impactante!


Vivi 26/12/2018minha estante
Eu tb quero ler os outros livros dela mas, gostaria de ler primeiro o homem soviético pois imagino q seja uma época após Tchernobil.




Luísa 20/06/2016

As vozes (não mais silenciadas) de Chernobyl
Finalmente chega às livrarias brasileiras a obra da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015 “por seus escritos polifônicos, um monumento ao sofrimento e à coragem em nossos tempos”. Svetlana foi uma das raras pessoas a ganhar o prêmio por livros de não ficção – o último havia sido Winston Churchill, em 1953. A academia sueca também surpreendeu em 2013 ao premiar a canadense Alice Munro, que só publicou contos.

Nascida em 1948, na Ucrânia, Svetlana Alieksiévitch seguiu carreira jornalística, tendo escrito sobre acontecimentos da União Soviética, como o desastre de Tchernóbil e a invasão russa no Afeganistão. Em uma de suas entrevistas, ela disse: “Estive buscando por um método literário que permitisse o máximo de aproximação da vida real. A realidade sempre me atraiu como um ímã, me torturou e me hipnotizou, e eu quis capturá-la no papel.” (Tradução livre)

Leia mais no link abaixo.

site: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-vozes-nao-mais-silenciadas-de-chernobyl-por-luisa-gadelha/
Luís Henrique 20/06/2016minha estante
Luísa, os links dos seus posts não foram publicados.


Luísa 21/06/2016minha estante
:( parece que só dá pra ver se você for direto nas minhas resenhas ou na página dos livros.


Luísa 21/06/2016minha estante
de toda forma, as resenhas estão todas no DCM, onde escrevo: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/author/luisa-gadelha/




Jorge 28/01/2022

Testemunho histórico
Eu era leigo, confesso. Não me lembrava sobre o que se tratava o desastre de Tchernobil. Nunca estudei a fundo o assunto, nem na escola. Não que eu me recorde. Portanto, não sabia ao certo o que havia acontecido para que essa cidade fosse elevada ao status de cidade-fantasma. Pensei que se tratava de uma guerra, como foi no Vietnã. E acho que isso se deve ao fato do cenário que se seguiu após o desastre ser bastante parecido com aquilo que estamos acostumados a ver nas guerras: Exército, fuzis, tanques militares. Pelo menos era esse o meu entendimento ao ver rapidamente um ou outro registro fotográfico sobre Tchernobil nos sites de busca.

Na verdade, o desastre de Tchernobil começou com uma explosão. Uma explosão no reator da central atômica da usina de energia nuclear de Tchernobil. E por conta dessa explosão ocorreu um escapamento radiativo antes nunca visto. Os radionuclídeos, invisíveis aos olhos, rapidamente se espalharam por toda a região, afetando de modo irreversível, além da saúde do homem, a saúde dos animais e também das plantas. Enfim, milhares de seres vivos afetados, toda a natureza.

Gosto demais da forma como a autora do livro define o próprio trabalho: Ela explica que durante vinte anos se dedicou a escrever não sobre Tchernobil, mas sobre os rastros imperceptíveis que envolvem o mundo de Tchernobil, a cotidianidade dos sentimentos, dos pensamentos e das palavras, a vida cotidiana da alma, a vida ordinária das pessoas que testemunharam o desastre.

Vozes de Tchernobil não é um livro-reportagem convencional, que investiga os fatos e aponta os possíveis culpados. Muito menos um livro sobre notas técnicas. Não, o livro não é sobre isso. O que a ucraniana Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Premio Nobel de Literatura 2015, faz aqui é expor o ponto de vista interno daqueles que testemunharam o desastre de pertinho. São depoimentos de ex-trabalhadores da central atômica, cientistas, médicos, soldados, os evacuados e também aqueles que escolheram continuar vivendo nas zonas proibidas, seguir adiante, tocar a vida. Homens e mulheres, adultos e crianças. Relatos históricos sobre a mentalidade e a disciplina soviética. Sobre o amor e a morte, a perseguição, a resistência, a superação, as crenças e o silenciamento de um povo da cidade de um pequeno país, perdida nos confins da Europa.
Daniel 28/01/2022minha estante
Excelente resenha, Jorge! Percebo que já está afiado para o clube do livro...


Jorge 28/01/2022minha estante
Boa tarde, meu amigo. Fui intimado para trabalhar justo nesse dia, acredita? Pensei que esse ano a pandemia daria trela, mas tá difícil a situação. É uma pena.


Daniel 28/01/2022minha estante
Se prepare que estamos entrando na velocidade 5? Vai piorar, sinto muito em falar isso?. ?




Alex 01/08/2023

Uma colcha de relatos
Eu, particularmente amo biografias e não ficção, essas histórias me engrandecem, me ensinam, extrapolam meu olhar e o mundo conhecido. Me deparo com realidades que não teria oportunidade de vislumbrar, não fosse pela leitura.

E Vozes de Tchernóbil faz exatamente isso. Do primeiro ao último relato. Até no discurso da autora ao receber seu prêmio Nobel. Me deparo com realidades que nunca iria conhecer.

Este, como outros livros da autora, constitui-se por inúmeros relatos. Algumas pessoas podem achar repetitivo, mas eu penso que a autora buscando relatos de uma mesma tragédia, ao colher pensamentos, lembranças, atitudes similares, prova um ponto, o de que a memória é documento histórico, falho, parcial, tendencioso, mutável, mas ainda assim, material histórico.

Por outro lado, os relatos vão além do desastre de Tchernóbil, tentam demonstrar a tragédia que foi ser morador das cercanias da Usina. Quantificar a obediência e devoção do homem soviético. A abnegação total dos profissionais de física, energia, e similares. A doação incondicional de bombeiros e militares deslocados para ajudar na contenção danos. A crença cega numa política comunista que os salvaria.

Dessa forma, alguma coisa se repete nos relatos, mas a individualidade de cada história está presente do começo ao fim. As dores, as angústias, as perdas são similares, mas possuem nuances únicas, facetas personalissimas, e nisso a autora faz de seu documental, literatura com qualidade laureada.

O primeiro relato é impactante, fala sobre amor e perda. Você pensa que nenhum será pior que esse. Nenhum te fará sentir o quão pobre é a raça humana. E então se depara com o relato de como trataram os animais da região. Como uma mãe matou o próprio recém nascido para sobreviver em uma guerra. E um dos últimos, e pra mim dos mais trágicos, os relatos das crianças e sua plena consciência na morte prematura.

Mas além de toda essa desgraça, foi muito bom ver como a política é desumana, como a ideologia não se importa com vidas, como o burocrata age em proveito próprio, em detrimento do povo. O descaso, a desinformação, a omissão, a sonegação, a camaradagem, o engodo, esses mataram mais que a explosão, causaram mais danos.

Por fim gostei das indicações de literatura russa, de Dostoievski a Soljenitsen, entre outros, filósofos, poetas, contistas, todos russos, muitos que ainda sequer chegaram a ser traduzidos para o português.

Recomendo muito a leitura, é instrutivo, dolorido, mas, se é possível dizer, existe uma recompensa enorme por ouvir as vozes, dos esquecidos e abandonados, de Tchernóbil.
Aline MSS 01/08/2023minha estante
Eu tenho ele na minha lista de leituras impactantes e pela sua resenha, já vi q terei q preparar o emocional p/encará-lo. Parabéns pela resenha, mandou super bem.??????


Alex 02/08/2023minha estante
Aline, prepara e vai, vale o esforço.


Juju 20/09/2023minha estante
Que resenha, meu caro! E que livro!
Os relatos permanecem girando na minha mente! Em alguns momentos tive que dar uma pausa na leitura! Foi doloroso, como você disse aí em cima. Mas sinto que foi necessário abrir os ouvidos e a mente para começar a ouvir todas essas vozes!!! Obrigada pela indicação!




Fernanda.Zaccaria 26/08/2020

Impactante
Esse livro é daqueles que te deixa incomodado com a leitura, que te deixa uma sensação ruim no peito, mas que você não consegue parar de ler. Nele a autora nos mostra vários relatos de pessoas que passaram pela experiência de Tchernóbil e que vivem suas consequências até hoje. São histórias reais, cheias de sentimento, chocantes e ao mesmo tempo necessárias, pois elas deixam clara a falta de preparo das autoridades diante de uma catástrofe dessa proporção.
Julinhafox 26/08/2020minha estante
Essa autora é ótima! Li dela o A guerra não tem rosto de mulher e o Últimas testemunhas. Muito bons!
Esse de Chernobil ainda não li, gostei da sua resenha, vai pra lista!


Fernanda.Zaccaria 26/08/2020minha estante
Quero ler o "A guerra não tem rosto de mulher". Estou super curiosa por ele!


Julinhafox 26/08/2020minha estante
Achei interessantíssimo! Recomendo!




Flora Airbender 08/03/2021

Vozes
Esse é o primeiro livro de não ficção que leio. O que me levou a ele foi a esplêndida minissérie Chernobyl.

Acredito que a autora tenha tomado licença poética ao transcrever os monólogos das pessoas que ela entrevistou ao longo dos anos. Apesar de serem pessoas reais contando histórias reais, a narrativa tem um tom incrivelmente sensível que se assemelha a narrativa literária. Essa forma que Svetlana escolheu para contar a história do desastre nuclear é de uma visão e humanidade única. Ao invés de focar em dados científicos complicados ou em dinâmicas políticas, o livro foca em seres humanos.

Todas as vozes são desabafos de pessoas que perderam seus entes e seus bens, que tiveram suas histórias brutalmente alteradas pelo desastre. Pessoas que enfrentaram preconceitos das que não eram de Chernobyl. Que se viram vulneráveis diante de reações físicas incompreensíveis para leigos e que destruíram seus lares, sua terra. Existem detalhes que são tão assombrosos que é doloroso saber que aconteceram de verdade.

E diante de tudo isso havia a sombra de um sistema que estava mais preocupado em manter as aparências do que cuidar das pessoas. Um sistema que não se deu o trabalho de contabilizar as mortes, promoveu censura e exilou pessoas que queriam expôr a verdade.
Amanda2480 08/03/2021minha estante
Também assisti minissérie, é perfeita ?
Amei a resenha, reforçou ainda mais minha vontade de ler :)


Amanda2480 08/03/2021minha estante
Também assisti a minissérie, é perfeita ?
Amei a resenha, reforçou ainda mais minha vontade de ler :)


Flora Airbender 08/03/2021minha estante
Obrigada! Leia sim, mas prepare o psicológico ?




Eloiza Castro 07/03/2020

De um impacto tamanho, que nos faz refletir sobre muitas questões... acontecimentos reais, que nos dão uma dimensão do quão poderoso e ao mesmo tempo frágil é o ser humano.
Alê | @alexandrejjr 22/03/2020minha estante
Comentário sucinto e certeiro, Eloiza!


Eloiza Castro 22/03/2020minha estante
Obrigada! :)




Adriana1161 11/03/2020

Devastador
Eu li este livro, num projeto de leitura conjunta, com a professora Raquel Toledo @ratoledo, no Lugar de Ler @lugardeler
O livro é bem diferente, escrito através de relatos, colhidos pela autora ao longo de alguns anos. Uma forma diferente de literatura.
Os relatos são, na sua maioria, tristes e sofridos. Não por acaso, o título da terceira parte do livro é "A admiração pela tristeza"
Fala-se pouco de política, pouco dos detalhes técnicos. O que dá a tônica são os sentimentos, os relatos humanos, a fé, e o orgulho russo.
A voz da escritora não se sobressai.
Personagens reais!
Alê | @alexandrejjr 22/03/2020minha estante
Achaste que ela fala pouco de política, Adriana?


Adriana1161 25/03/2020minha estante
Achei sim! Na série, o foco é mais na política, no livro não




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