Bruna.Adenice 02/05/2024
Sim, nem toda criança tem essa "pureza" que dizem
A premissa desse livro é um tanto quanto polêmica, especialmente para a época em que foi escrita. Afinal, todas as crianças são realmente boas? Existem psicopatas no meio infantil?
A narrativa conta a história de uma criança de aproximadamente oito anos com características peculiares. A menina é bem quista pelos adultos justamente por esse comportamento, dito diferenciado, correto, fora do padrão se comparado às outras crianças e, em contrapartida, não é aceita no grupo de pessoas de sua idade.
O comportamento peculiar de Rhoda começa a chamar a atenção de sua mãe quando algo assustador acontece durante um piquenique em que ela vai com os colegas de sua escola. A insensibilidade da menina diante do ocorrido faz a mãe buscar mais informações a respeito do que passa se passar com sua filha e, a cada descoberta, as coisas só pioram.
Rhoda é uma criança antissocial, desprovida de sentimentos e muito egocêntrica e, seu apego a coisas materiais a faz cometer coisas inimagináveis para qyalquer pessoa, que dirá para uma criança. O que assusta é que ela não esboça qualquer tipo de sentimento. Pelo contrário, o desenrolar da narrativa só demonstra o quanto ela age com profunda naturalidade diante de certas coisas.
O interessante é que vamos descobrindo mais da personalidade e do caráter duvidoso da menina junto com sua mãe, o que torna o enredo mais angustiante.
E, falando da mãe de Rhoda: tem momentos que o leitor vai até se incomodar com sua inércia e "passadas de pano" para a menina. Mas é compreensível, afinal trata-se de uma mãe desesperada com as descobertas em torno do comportamento da filha.
Ah, e é importante destacar que, ao contrário do que muitos (inclusive eu) imaginam, a história não tem Rhoda no papel principal, mas sim sua mãe. Achei uma estratégia interessante trazer o desenrolar da história sob o ponto de vista da mãe e não da criança, que tem menos destaque.
Não digo que as coisas que Rhoda fez foram "poucas", mas confesso que esperava muito mais, diante do que tanto falavam. Esperava que houvesse uma exploração melhor dos fatos. Senti falta de algo que deixasse a história ainda mais macabra como diziam, mas os fatos mais assustadores foram bem condensados na explicação.
Muitos têm receio em ler esse livro por pensarem ser de terror , excessivamente macabro ou com muito gatilhos. Sim, é óbvio que não é uma leitura fofinha, até porque estamos falando de uma criança psicopata. Todavia, já li outras obras bem mais perturbadoras do que essa. Então, se esse era o empecilho para ler esse livro, vá em frente, porque nem é tudo isso. Acho que o auê é mais porque o tema era novidade para a época em que foi escrita (1954). Hoje, esse tema já tem sido parte das rodas de debates, mesmo que ainda seja polêmico.
Quem realmente convive com crianças de perfis variados sabe que NEM TODAS são boas. Trabalho em sala com elas e, da mesma forma que convivemos com pessoas adoráveis e inocentes , estamos também diante de crianças perversas, que mentem na cara dura, que manipulam a muitos adultos, tal qual faz a personagem infantil dessa história. Portanto, não devemos romantizar pessoas simplesmente porquê elas têm menos de 12 anos. Há casos, e casos. Psicopatia infantil existe SIM e há vários casos por aí afora que podem comprovar.