Lê Golz 17/06/2016Leiam, leiam, leiam! É incrível!Que livro é esse? Esperava um livro bom, que simplesmente atendesse as minhas expectativas. Mas não, Max foi além e me deixou estática, tentando compreender o que foi tudo isso que senti, do início ao fim. Max é um lançamento da Editora Jangada e só tenho a agradecer a ela por essa publicação incrível. Sem mais delongas, afinal, vamos conhecer Max?
Max é o primeiro representante puro da raça ariana, um protótipo perfeito do programa "Lebensborn" iniciado por Himmler, o comandante supremo da temível SS. Como Hitler espalhava sua mensagem pela Alemanha, acreditando que a sociedade deveria consistir em uma raça ariana pura após a Europa ter sido ocupada pelo Terceiro Reich, o programa consistia em selecionar mulheres alemãs, que dormiriam com soldados da SS e dariam à luz aos primeiros bebês dessa raça. Max então nasce e assim é chamado por sua mãe, porém é rebatizado pelos nazistas como Konrad von Kebnersol. Ele então cresce em um ambiente sem mãe, amor e carinho, mas em meio ao ódio e horrores da guerra. Ele foi criado para seguir os preceitos educacionais nazistas, e desde pequeno realizaria missões como ajudar no rapto de crianças polonesas e induzi-las a seguir as regras impostas pelos nazistas.
Completamente fiel as leis nazistas, as crenças de Max começam lentamente a desmoronar quando ele conhece Lukas, um judeu polonês, que têm todas as características físicas de um ariano, e dessa forma se passa por alemão. Sentindo-se totalmente ligado a Lukas, pela primeira vez Max questiona-se sobre tudo que aprendeu, e se Hitler realmente estaria certo sobre os judeus. Ele mudará completamente e presenciará ainda inúmeros horrores até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Quem narra a história é o próprio Max, o que torna tudo ainda mais perturbador. Sarah escreveu com maestria todos os personagens, fictícios ou não, e o cenário da Segunda Guerra Mundial. Com uma escrita simples e incrivelmente envolvente, a autora me deixou totalmente viciada na obra. É assustador esse programa absurdo criado pelos nazistas e como a mente de Max vai sendo formada. Não há como não se apegar ao livro e não devorá-lo rapidamente. Como se não fosse suficiente, a obra ainda tem momentos divertidos (se é que isso é possível em uma Alemanha nazista).
O que mais me impressionou no decorrer da leitura, sem dúvidas, foi o fato da autora colocar Max como narrador de sua própria história, antes mesmo de sair da barriga da mãe. É claro, é impensável um bebê já ter pensamentos nazistas, conhecer todas as leis, e sequer saber com que propósito veio ao mundo. O fato é que Max sabe tudo isso. A autora recheia assim o livro de ironia nas entrelinhas, e deseja mostrar, pelo menos ao meu ver, como os preceitos nazistas se infiltravam na mente da sociedade e assustadoramente na das crianças, que cresciam até mesmo denunciando os próprios pais que iam contra as leis do Führer. Como odiar Max? Ele é apenas uma criança que acredita fielmente nas "belas" palavras de Hitler. E como culpá-lo, se ele cresceu nesse ambiente cheio de ódio, sendo ensinado a não amar?
Alguns personagens reais e importantes dessa época são citados ao longo da narrativa, outros são fictícios, porém representam pessoas que realmente existiram. Lukas, impressionantemente representa um judeu polonês que realmente existiu, e se passou por alemão durante a guerra. Embora o destino deles seja complemente diferente na vida real e no livro, a criação desse personagem foi extremamente inteligente, pois rendeu cenas perturbadoras e comoventes.
"Concebido sem amor. Sem Deus. Sem lei. Sem nada além da força e da raiva. Morderei em vez de sugar. Berrarei em vez de balbuciar. Odiarei em vez de amar. Heil Hitler!"
Devo ressaltar que não é uma leitura densa, como pode parecer, pois a autora narra de forma simples os acontecimentos mais tristes, e esses serão no mínimo comoventes. Livros que abordam a Segunda Guerra Mundial, com foco no nazismo, é claro que rende momentos perturbadores e chocantes, mas Max tenta nos fazer enxergar além - no coração e na mente de uma criança criada nesse ambiente. Por esse motivo, queria poder conseguir convencer todos os leitores a lerem esse livro. Não importa qual seu gênero literário favorito ou se você não curte enredos de guerra. Esse livro é brilhante e incrivelmente bem escrito. Não se pode ignorar um passado como esse. Leiam, leiam, leiam!
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