Thais.Pedron 24/02/2018
"Darth Plagueis" ou melhor, "Star Wars - Episódio 0"
“O futuro dos Sith não mais depende de proeza física, mas de astúcia política. Os novos Sith reinarão menos pela força bruta que pela instilação do medo.” - Darth Plagueis
Quando terminei de ler Darth Plagueis, o primeiro livro do universo expandido de Star Wars com o qual tive contato, a primeira coisa que fiz foi me perguntar onde estava James Luceno quando George Lucas escreveu o roteiro de Star Wars – A Ameaça Fantasma. Apesar de Luceno ser escritor, e não roteirista, acredito que sua capacidade de amarrar estórias seria tão ou mais útil para o filme que a inventividade visual de Lucas. Quem sabe, talvez tivéssemos um resultado bem mais satisfatório para os fãs em todos os episódios da trilogia nova.
É claro que o trabalho aqui foi de amarrar as pontas soltas de uma outra obra já concluída (o que basicamente constitui o grande problema que todas as mídias do universo expandido tem que resolver). Mas considerando a quantidade e a gravidade dessas lacunas, não imagino que tenha sido uma missão fácil. Em princípio, por lidar diretamente com as conjunturas política, econômica e social dessa galáxia tão, tão distante – e igualmente tão, tão caótica. Em segundo lugar, por ter como protagonista uma figura não explorada em nenhuma outra mídia do universo expandido e que atuou precisamente em um trecho da cronologia no qual não havia muitos outros personagens conhecidos e adorados pelos fãs que acompanharam somente as obras principais da saga.
James Luceno, contudo, o faz brilhantemente, unindo precisão técnica a uma narrativa que prende o leitor do início ao fim. A presença de Palpatine aqui garante a conexão que precisamos com algum personagem mais familiar e, a despeito de seu título, grande parte do livro é sobre ele. Tendo isso em vista, Darth Plagueis nos soa como um personagem extremamente cativante e o único candidato apropriado a ser mestre do lorde Sith mais perigoso de toda a história de Star Wars – e não, não estou falando de Darth Vader. Inteligente e dotado de um raciocínio analítico e inescrupuloso, percebemos aqui que ele é o verdadeiro arquiteto da vingança dos Sith.
Sidious é, como o próprio Plagueis o descreve, “a lâmina que fincaremos no coração do Senado, da República e da Ordem Jedi [...]”, como é mostrado na saga canônica. O que os filmes na verdade não mostram é quem foi responsável por empunhar essa lâmina. Sendo assim, o livro não só nos convence de sua resposta, como traz luz a muitas questões que interessam aos fãs, não só por serem relevantes no entendimento de toda a saga, mas principalmente por terem sido pouco ou não exploradas nos filmes. As diferenças (e semelhanças) na visão entre Sith e Jedis sobre a ordem das coisas e o uso da Força; o papel dos midi-chlorians em seus usuários; a relação mestre-aprendiz na doutrina Sith; e a dinâmica política da República Galáctica pré-colapso são algumas das mais interessantes.
Tudo isso envolto em uma narrativa enérgica, onde acompanhamos a jornada de um personagem visionário que foi: a) cientista, b) empresário e c) o maior estrategista do universo de Star Wars – depois do almirante Thraw, claro – cujo o único erro fatal foi, assim como descreve seu aprendiz Palpatine, ter sido “alguém que podia enxergar além das vidas e mortes de todos os seres, exceto das dele mesmo”.
Entretanto, apesar da boa estória, preciso alertar que, a não ser que você tenha a paciência de pesquisar algumas dezenas de espécies alienígenas que aparecem ao longo da narrativa, não recomendo Darth Plagueis como uma obra de entrada para o universo expandido. O livro não dá muitas descrições físicas sobre os personagens secundários – e se eu tivesse que apontar alguma “falha”, seria essa -, dificultando imaginar as cenas visualmente quando não sabemos se seus atores tem chifres, antenas, asas ou nenhuma das opções anteriores. Contudo, acredito que assistir à serie Clone Wars e/ou ler a trilogia Thraw seja mais do que suficiente.
Recomendo a todos que puderem, ler o livro e em seguida assistir novamente aos Episódios I, II e III. Garanto que os filmes parecerão bem melhores – ou menos piores – do que pareceriam sem a leitura prévia de Darth Plagueis. Aliás, arrisco dizer que este deveria ser o ponto de partida do Episódio I. Não sei se George Lucas o faria, caso pudesse voltar no tempo. Mas se a Disney fizesse um esforcinho para, pelo menos, colocar este livro como parte do cânone, eu já ficaria satisfeita.