CrisVieira~ 01/06/2018O Perigo do Uso de Clichês para Conquistar Novos LeitoresComecei a ler este livro não esperando muito da "obra". Nora Roberts até tenta ser uma romancista que se arrisca em outras praias que não sejam as novelas românticas. Fez isto com romance policial e neste, faz com ficção fantástica. Contudo, diferente de algumas autoras que conseguiram acertar em suas construções de enredo, Roberts peca por tentá-lo.
A história gira em torno de um grupo que se une para combater vampiros. Quantos livros, desde Drácula, têm o mesmo enredo? Mais clichê que isto é impossível! Comecemos com a mocinha da história que é uma mulher moderna que luta contra criaturas assassinas e selvagens, mas que incrivelmente hesita diante de uma vampira e ocasiona a morte do único personagem negro de toda a história (lembrando que eu falei que era um livro clichê!). Cito isto porque já foi largamente discutido, exemplificado e aceito que personagens negros em histórias de terror são sempre os primeiros a serem assassinados. E Roberts mediocremente não fugiu à "regra".
Continuando, temos o mocinho atormentado que encontra uma mulher que detesta mas que, neste livro, tem seu "happy end". Clichê!
E, nesse entremeio, eles cozinham, fazem sexo (só o casal principal, porque o resto é abstêmio...) quase botando fogo pela casa. Ah, e é uma casa antiga à la castelo do conde Drácula, mas dos mocinhos. E eles ficam ali, brincando de lutar (porque eles têm dois ou três meses para se tornarem o que Van Helsing demorou uma vida inteira para ser: exímios caçadores de vampiros), cozinhando e comendo. E tem um homem-cavalo-lobo-etc que age como um garoto (mas é um adulto), um vampiro quase vegano que não fica com ninguém (Roberts só cria um romance por vez para que você tenha de ler o próximo livro para saber se vai acabar em namoro ou não), mas "morre de inveja do lance do irmão" e uma "sábia" que nada diz de sábio durante toda a história. Ela disse o óbvio, mas nada realmente impactante. E eles ficam nessa, matam uns vampiros que batem na porta deles querendo briga e voltam ao início do ciclo: comida, sexo (nem todos), lutinha, pelejar para matar vampiro...
O mote da história, em si, é bom. Contudo, Roberts trata tudo com um simplismo digno de seus romances de banca. A construção dos vampiros ficou muito boa, regular. os maus são cruéis, porém espera-se isto deles. Mas a construção dos mocinhos cai sempre no estereótipo que ela comumente usa em seus livros.
Quando comecei a ler, acreditei também que veria mais magia em ação, nas lutas, mas os trechos em que aparece são quando a mocinha e o mocinho estão fazendo suas experiências no "laboratório" deles. Merlin se envergonharia desses pseudofeiticeiros! E outra coisa, bruxo e feiticeiro são sinônimos. O fato de Roberts separar os grupos e repetir o preconceito do protagonista quanto à bruxa foi constrangedor. Ela queria que o personagem demonstrasse o preconceito contra mulheres que também fazem uso da magia, mas apesar do mocinho vir de séculos atrás ter uma visão de mundo diferente, suas falas são cansativas (mas diriam que homens bruxos também são machistas. Porém, no que concerne à história, ele deveria ser um feiticeiro evoluído. Principalmente por se envolver em uma guerra criada por uma deusa e uma rainha vampira).
Além disso, sei que Roberts pesquisa um pouco para criar suas histórias. Sei que seus livros sempre tem uma ligação com a Irlanda por conta de seu amor pelo país, mas daí por diante, ela sempre desemboca em uma confusão de percepções pessoais sobre assuntos que mereciam uma pesquisa mais qualitativa, inclusive se deseja dar mais veracidade ao que escreve.
E há diálogos demais na história.
E Lilith apesar de ser uma psicopata e sociopata monstruosa está mais bem representada do que os outros.
E por fim, sinceramente, depois de ler Anne Rice e demais autores gabaritados do mundo vampiresco, eu fiquei aturdida por Nora Roberts ter criado e publicado este livro. Porque, basicamente, é um romance de banca COM vampiros. Os vampiros estão lá, bebendo sangue pra caramba, sequestrando e matando quem quiserem enquanto a turminha... treina.
Sinceramente, a tal Morrigan do título ė meio ruim de seleção de "heróis", porque apenas um deles já vem de uma linhagem de caçadores de vampiros. O resto é como um bando de adolescentes (tirando o vampiro quase vegan) que se meteu numa aventura daquelas. Quando terminei de ler este livro, me lembrei de Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Tirando o sexo (que apenas aos protagonistas é permitido pela autora fazer), a idade dos personagens e o tipo de inimigo, o resto da história é igual.
Dei uma estrela pelo vampiro e meia pela ousadia de Roberts em escrever este livro.
1.5.