@aprendilendo_ 12/01/2021
Resenha de O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias
Com aproximadamente 780 páginas, O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias compila todos os 5 livros da saga escrita por Douglas Adams, a qual conta a incrível história de Arthur Dent. Na trama, minutos antes da Terra ser destruída por naves extraterrestres, o protagonista descobre que seu excêntrico amigo, Ford Prefect, é na verdade um alienígena, o qual passou os últimos anos em nosso mundo reunindo informações para seu trabalho como pesquisador. A partir disso, quando os companheiros conseguem escapar a tempo da extinção da raça humana, passamos a acompanhar sua jornada completamente imprevisível, a qual passa por restaurantes no fim do universo, guerras intergalácticas e a aparente resposta para todas as perguntas.
Em primeiro plano, há na obra uma singular junção de criatividade com bom humor, a qual é responsável pela imersão e mobilidade da história. Isso, pois, com uma vastidão de acontecimentos improváveis, capítulos surpresas, os quais fogem totalmente do enredo e descrições cômicas de locais diferentes do universo, a leitura se torna uma espécie de montanha russa literária, repleta de adrenalina e sem nenhum momento de sossego até o fim. Nesse contexto, outro ponto que reforça esse elemento é o carisma dos personagens, estes, caricatos e diferentes entre si, responsáveis por criar uma diversidade de absurdos de comunicação e momentos divertidos. Assim, o maior acerto da obra surge da forma como o escritor, ao narrar a trama, brinca com a própria criação, utilizando-se de piadas internas com o leitor no decorrer das páginas. Como consequência dessa incrível intertextualidade de Adams, é gerada uma forte empatia, não apenas com os sujeitos da história, como igualmente com o universo fictício e seu narrador.
Por certo, O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias não é um livro para ser levado a sério. Afinal, como dito por Douglas Adams no prefácio da edição, a obra certamente se contradiz em diversos momentos. Nesse sentido, infelizmente, surge o maior defeito da leitura. Apesar de realmente ser necessário um espírito descontraído para acompanhar os acontecimentos da saga, a partir do quarto livro a narrativa parece se perder em si e deixa diversas pontas soltas, causando um desconforto crescente. Isso acontece não pela falta de lógica, mas por uma escolha desanimadora de saltos temporais e “Deus ex machinas” repetitivos, os quais criam uma curiosidade enorme no leitor para saber suas consequências, mas no final não saciam suas dúvidas com explicações, gerando assim, um caminho pouco convidativo e muito forçado. Tal característica não tira o brilho da história, quanto mais o carinho desenvolvido no decorrer das páginas, mas certamente indica que, ao exagerar nas loucuras narrativas, Douglas Adams deixou de entregar uma obra a qual poderia ser muito melhor e mais encaixada.
Dotado de uma cativante narrativa e personagens memoráveis, O Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias facilmente se garante como uma das melhores ficções científicas da literatura mundial. Infelizmente, por se perder em exageros de enredo e pontas soltas, deixa de se tornar algo muito maior e quase sem precedentes. Isso, no entanto, não tira de si o grande mérito de, até os dias de hoje, inspirar grande parte da cultura pop e nerd com suas aventuras extraordinárias.
Nota: 8,8
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