Thaylan 26/04/2018
Opinião de Olavo de Carvalho sobre o tema do livro
Na cultura brasileira, a necessidade que você tem de trabalhar, prover o seu próprio sustento, é vista somente como uma imposição absurda de um mundo mau, não como um dever. O resto do mundo inteiro, praticamente a humanidade inteira, sempre soube que o dever de você prover o seu próprio sustento e o sustento dos seus, mais do que uma necessidade, é um dever, um dever moral e que o sujeito que se recusa a isso nunca vai ser gente.
Agora, no Brasil, é assim: o normal seria não ter que fazer isso, ou seja, se eu preciso de dinheiro para pagar as minhas contas, isso é apenas uma imposição absurda do universo hostil em cima de mim. [Esse dever moral] é uma coisa que não existe dentro do sujeito, ele não quer fazer isso, ele não sente aquilo como o apelo de um dever e como parte da sua vocação, ele acha o contrário: ''Tenho aqui a minha vocação por um lado e, por outro, tenho a necessidade de ganhar dinheiro''. Meu Deus! Isso é uma visão tão artificiosa das coisas, porque se você não prover a sua própria subsistência, alguém vai ter de provê-la. Parece que no Brasil a idéia fundamental é esta: justo é que os outros me alimentem, se eu tenho que me alimentar a mim mesmo é injusto. Agora, o outro, aquele que vai sustentar você, não tem o direito de pensar assim, ele tem o dever de sustentar ele mesmo e mais você.
Quando digo que o Brasil é hoje o país mais burro e mais assassino do universo, eu não estou xingando, estou dizendo uma realidade cientificamente comprovada. Os nossos estudantes são os piores do mundo, eles se saem pior do que alunos de países muito mais pobres, e o Brasil é recordista de homicídios por ano. Então, é o povo mais burro e assassino do mundo. Por que é que chegou a ser assim? Por causa desse tipo de mitos e de mentiras impregnadas na cultura.
Por exemplo, eu sugeri que vocês lessem o livro do Orígenes Lessa, O Feijão e o Sonho, em que o sujeito quer ser um escritor, mas ele tem de trabalhar e a mulher dele está grávida: de um lado, a necessidade do feijão e, de outro, a necessidade do sonho. Isso é típico da cultura brasileira. Meu filho, o dever que você tem de trabalhar, de se sustentar, de prover as suas próprias necessidades e a da sua família, é parte integrante da sua vocação. Se você se recusa a fazer isso, você não merece que a gente lhe dirija a palavra, porque você é subumano, é um ladrão. O sujeito que acha que os outros, ou que a ''sociedade'', tem a obrigação de sustentá-lo — e não ele mesmo — e, ainda assim, pensando com essa idéia baixa, nojenta, porca, ele quer ser um escritor... um sujeito desses tem de apanhar! Tem de apanhar e muito, e não é para explicar porque está batendo: ''Olha, eu vou bater em você e não vou te dar explicação nenhuma, só vou parar de bater quando você entender por que é que eu estou batendo!''. Dificilmente eu conheço um brasileiro que não tenha esse problema na cabeça.
''Ah, eu não posso estudar, porque eu tenho que trabalhar etc. etc.'' — mas só as pessoas que têm que trabalhar é que podem estudar, meu filho.