Nina 26/08/2016Me digam como um bookaholic de carteirinha pode resistir a um livro desses? Ele conseguiu unir em uma única história dois elementos irresistíveis para alguém que ama livros - tem uma biblioteca como cenário e reúne citações e referências de livros que amamos, dos clássicos aos mais contemporâneos. E por isso não pensei duas vezes antes de me lançar na leitura.
Kyle é o filho caçula da família e vive meio na sombra do talento do dois irmãos mais velhos, um é um atleta habilidoso e o outro é um gênio precoce. Assim, o menino sempre se sentiu meio deixado de lado até ter sua grande chance nas mãos. A biblioteca da cidade está sendo reformada para se tornar uma referência em modernidade e tecnologia, em uma parceria entre a bibliotecária dra. Yanina Zinchenko e ninguém menos do que o Sr. Luigi Lemoncello, o famoso criador de jogos e grande ídolo de Kyle. A questão é que o Sr. Lemoncello virá para a inauguração e 12 crianças de 12 anos serão escolhidas para passar a noite na biblioteca e conhecer de antemão todas as novidades disponíveis. E adivinhem só? Kyle é uma das doze crianças escolhidas e poderá enfim conhecer seu grande ídolo, mas a grande surpresa vem no dia seguinte, quando as crianças descobrem que estão trancadas e que para saírem terão desvendar um série de pistas até encontrar a saída secreta da biblioteca.
Com esse enredo é simplesmente impossível que não nos apaixonemos pelo livro logo de cara. Uma biblioteca ultra moderna, cheia de computadores e recursos tecnológicos que nem ousamos imaginar em nossos sonhos mais malucos e o melhor, comandada por uma bibliotecária ainda mais interessante! E para coroar, ainda tem toda essa pegada de A Fantástica Fábrica de Chocolate para deixar a premissa ainda mais envolvente, misteriosa e com pitadas de aventura.
As primeiras páginas do livro voaram e eu vibrava a cada pista que os meninos precisavam desvendar para encontrar a saída, afinal todas elas estão atreladas aos livros disponíveis na biblioteca que vão de Harry Potter a Dostoiévski num pulo. A narrativa em terceira pessoa é muito ágil e simples, bem característica de livros infanto-juvenis, também contribui para que a leitura flua bem. Apesar de fazer parte de uma série, o livro tem começo, meio e fim e a gente não fica sem saber o final e sem reposta para nada.
"- O quê? Ah, bom dia, sr. Lemoncello. Não esperava encontrá-lo aqui, dentro da biblioteca. Hoje não é o seu aniversário, senhor?
- Sim, Charles. E não existe outro lugar no qual eu gostaria de estar no meu grande dia do que dentro de uma biblioteca, rodeado de livros. A não ser, é claro, que pudesse estar em uma ponte para Terabítia." (pág. 240)
Os personagens são bem interessantes, especialmente os Sr. Lemoncello. Mas as crianças me incomodaram um pouco por serem estereotipadas e bem previsíveis, principalmente Kyle. Ele é bonzinho demais, certinho demais. Eu senti que o autor quis fazer um livro que trouxesse lições para o leitor e de forma alguma discordo com isso, mas muitas vezes as lições apareciam mais do que o próprio enredo, e eu imaginava que teríamos muito mais aventura. O livro fala muito da importância da leitura, mas trata também de questões como o trabalho em equipe e a auto descoberta, especialmente de Kyle que precisa enfrentar a complexo de inferioridade que sente frente aos irmãos.
Como um todo o livro não é ruim, é até divertido e acredito que vai agradar a leitores mais jovens. Mas como uma completa louca por livros e bibliotecas, eu esperava algo mais. Não deixo de indicar, só aviso que leitores mais adultos podem se sentir um pouco frustrados.
site:
http://www.quemlesabeporque.com/2016/08/fuga-da-biblioteca-do-sr-lemoncello.html#.V8CRc_krLIU