Luan 31/08/2016
Chato no início mas interessante no fim, Gigantes Adormecidos é uma divertida leitura
Falar de Gigantes Adormecidos é um pouco complicado pois o livro tem um início confuso e uma narrativa diferenciada. Mas depois de superados estes dois aspectos, ou seja, quando você se acostuma à história e também à forma em que ela é narrada, a leitura passa a ser prazerosa e divertida. Simpático e sem grandes pretensões, o livro tem claras intenções de apenas divertir e entreter o leitor. Consegue isso, apesar o início um pouco penoso. De forma geral, objetivo alcançado.
Misturando alienígenas e uma trama política, Gigantes Adormecidos, de Sylvain Neuvel, conta uma história em que a própria história é a protagonista. Embora o ponto de partida seja um acidente que acontece com a pequena Rose Franklin, que acaba tendo presença em todo livro, o protagonismo fica mais com "os gigantes adormecidos". Mas eu explico: Rose, quando criança, acaba caindo em uma grande cratera, local em que se encontra também uma grande mão de ferro. Anos mais tarde, ela se torna ph.D em física e também uma das responsáveis pelos estudos que quer entender do que se trata esse grande material metálico encontrado – acidentalmente - por ela anos atrás. A partir daí, nos é relatada a corrida para entender o que é o objeto.
Como a narrativa é escrita a partir de relatos em forma de entrevistas, diários ou relatórios, temos em mãos uma série de materiais coletados que documentam os fatos ocorridos. É por isso que eu digo que não temos exatamente um personagem protagonista e sim uma história que pega para si esse papel, embora haja sim personagens com mais ou menos importância. Apesar de um início um tanto quanto complicado por ter uma narrativa diferente, depois de ambientado, o leitor é conquistado. E ao fim é possível perceber quão bem o autor conseguiu montar uma história cronológica e muito bem contada fora do padrão normal de narrativa – que não em primeira, segunda ou terceira pessoa.
O livro tem cerca de seis personagens mais recorrentes, entre eles a dr. Rose e um misterioso entrevistador, que não nos é revelado em momento algum, tampouco no fim do livro, que acabam se sobressaindo aos demais. Mas, tirando a piloto de aviões Kara Resnik, nem um outro personagem é detalhado mais profundamente. Não que eles sejam rasos, mas a vida pessoal deles acaba não importando tanto, justamente por aquilo que já falei: os personagens não são os protagonistas. Além deles, ainda é possível destacar Ryan Mitchell e o linguista Vincent Couture – aquele que consegue despertar no leitor alguma compaixão. Mas é o entrevistador o personagem que mais intriga o leitor, um homem misterioso e também aquele que comanda todo o audacioso e misterioso projeto que visa desvendar o mistério por trás daquela gigante mão e de tudo mais que ela traz consigo. Ele é um tipo muito bem construído, esperto, inteligente, irônico, sarcástico. O autor soube mostrar muito bem as nuances da personalidade dele quando ele é o líder de uma situação ou quando é subalterno em outra.
Como já comentei, a história aborda vários assuntos, começando do sobrenatural, passando por alienígenas e terminando e uma grande trama política, sem esquecer da abordagem de guerra entre nações. Ufa. E nada deixa a desejar conforme o autor vai avançando na história. Aliás, pelo contrário. A história só melhora e Neuvel consegue te convencer de quase tudo aquilo que está contando - há alguns exageros ali no meio. Sem dúvida, a segunda parte do livro é que a conquista, quando uma série de reviravoltas, revelações e novas tramas são contadas. É um livro que não se contenta com o pouco que apresenta na sinopse e vai muito além no desenvolvimento.
A parte ruim desta gostosa leitura é o início, ou, pode-se dizer, a primeira metade. O começo é lento, confuso, às vezes até tedioso. Li algumas páginas quase dormindo. Se era a intenção do autor, me desculpe, mas falhou. Mas isso é tranquilamente relevado ao fim da leitura, já que você é fisgado pela boa escrita e o ritmo ágil que ele emprega – lembrando, na segunda parte. Não fosse esse início enfadonho, o livro ganharia muito mais elogios de minha parte. Mas ele conseguiu, de forma geral, agradar e divertir sem grandes pretensões. Por isso, dou tranquilamente quatro estrelas ao primeiro volume desta série que terminou com um epílogo com gosto de quero mais.