Nathalia184 27/05/2020
Crianças são cruéis.
Fábrica de Vespas é uma ficção de tirar o fôlego.
É uma leitura brutal e cruel de uma mente psicopata em formação, fazendo você ficar ali na ponta da cadeira, se perguntando o que acontece nos próximos capítulos e constantemente perdendo o chão por conta dos acontecimentos.
Frank - nosso protagonista e narrador - leva uma vida na ilha, com seu pai. Ele foi ensinado pelo pai, em casa - que tem uma estranha fixação em pedir medidas e coisas semelhantes dos objetos que tem dentro da casa.
A relação com o pai não é exatamente das melhores, mas eles convivem com certa harmonia, "respeitando" o espaço um do outro.
Frank tem um irmão mais novo, Eric, que ouvimos falar durante todo o livro e temos o conhecimento de que ele enlouqueceu em algum momento no passado, entre outras coisas que Frank revela sobre seu passado. Quando finalmente chega na parte em que mostra a chave de Eric virando e ele perdendo a cabeça, fiquei igualmente chocada com tudo.
Frank já revela desde o início sobre impulsos que teve durante sua infância - em que assassinou três pessoas - e diz que não fará aquilo novamente, pois é uma pessoa diferente. Sua crueldade agora é especialmente voltada com animais - de insetos à mamíferos.
Ele costuma passar algum tempo com seu amigo Jamie, enquanto recebe ligações de Eric, que a cada novo telefonema, parece estar mais pirado que anteriormente.
É uma leitura um tanto desconfortável, em parte por conta dos ideais de Frank, em parte por conta da sinceridade com qual ele nos fala sobre as coisas que pensa e faz e em parte porque a descrição de certas cenas é de revirar o estômago.
Iain Banks criou uma narrativa e um cenário em que você se pega o tempo todo tentando adivinhar o que vem a seguir e sempre lidando de cara com um resultado diferente. E o final, ah, o final.
Essa é uma leitura que definitivamente estarei recomendando para pessoas que estivem a fim de encarar algo com esse nível de brutalidade e crueldade.
"Nossas vidas são símbolos. Tudo que fazemos é parte de um padrão que, pelo menos em parte, decidimos. O forte cria o seu próprio padrão e influencia o de outras pessoas, o fraco tem seus caminhos traçados por alguém. O fraco, e o azarado, e o idiota. A Fábrica de Vespas é parte do padrão pop que é parte da vida e ? até mais do que isso ? parte da morte. Assim como a vida, ela é complexa, por isso todos os seus componentes. O motivo pelo qual ela responde questões é que cada pergunta é um início procurando por um fim, e a Fábrica diz respeito ao Fim ? a morte, nada menos.
Não quero saber de entranhas, varetas, dados, livros, pássaros, vozes, pingentes, nada dessa porcaria. Eu tenho a Fábrica, e ela trata do agora e do futuro, não do passado."