@retratodaleitora 18/08/2016Açúcar de MelanciaDepois que todos os tigres foram mortos, euMorte se tornou um lugar melhor para se viver. Os animais praticamente dizimaram a população de Açúcar de Melancia, que conta agora com pouco mais de trezentos habitantes.
Nosso personagem principal não tem um nome comum, e no início pede para que o leitor invente um nome. Irei chamá-lo de Protagonista. Ele é um homem comum, que mora em uma cabana afastada e está trabalhando em um livro, que ainda não tem uma história de fato.
Esse personagem está em um momento de contemplação e nos apresenta aos poucos cada detalhe daquele estranho lugar, onde tudo é feito com açúcar de melancia, a obra prima deles. Pontes, roupas, construções... tudo - ou quase tudo - é feito do açúcar da melancia, e o óleo que acende as tochas e luminárias é feito de uma mistura de melancia e trutas , chamado de melantruta.
"Imagino que você esteja curioso para saber quem eu sou, mas sou desses que não tem um nome habitual. Meu nome depende de você. Me chame do jeito que quiser."
Os moradores do lugar são muito próximos e todo mundo conhece todo mundo, vivendo em harmonia. Mas euMorte já teve seus problemas, especialmente os ligados aos antigos moradores de Obras Esquecidas, uma gangue de bêbados que, uma vez, cometeram uma atrocidade... contra si mesmos.
O nosso Protagonista mistura o momento presente com alguns fatos do passado, consultando sua memória, e nos narra também como foi a morte dos seus pais, devorados pelos tigres anos antes (é comicamente trágico).
"Em Açúcar de Melancia os feitos estavam feitos e foram feitos de novo como minha vida foi feita em açúcar de melancia. Vou contar como foi, pois estou aqui e vocês estão longe. Não importa onde, a gente precisa fazer o melhor que pode. Fica longe demais pra viajar, e não temos nada aqui para viajar, a não ser açúcar de melancia. Espero que isso dê certo."
Açúcar de Melancia é um romance fantástico, com elementos da distopia. Um livro extremamente cativante, porém totalmente nonsense. Algumas coisas simplesmente não faziam sentido nenhum, mas quanto mais o autor viaja em suas descrições mais o leitor se sente atraído pela bizarrice do enredo.
Os diálogos são bem enxutos, e lembram os diálogos reais, do dia a dia. Nada é muito floreado e não temos grandes acontecimentos, apenas acompanhamos alguns personagens em dias mais ou menos comuns. Não temos grandes picos no enredo, é realmente bem linear: nada de muito exitante acontece, mas o ritmo da narrativa é rápido.
"Retiramos o suco das melancias e cozinhamos até não restar nada além do açúcar, e depois o convertemos na forma desta coisa que temos: nossas vidas."
O grande destaque do livro está, sem sombras de dúvida, na ambientação. É um lugar fictício, uma sociedade distópica onde as pessoas não possuem grandes emoções com nada, principalmente com a morte; evidentemente estão acostumados com isso.
Se eu pudesse, certamente descreveria aqui cada detalhe de euMorte, pois é um dos lugares fictícios mais interessantes da literatura em minha opinião; mas quero deixar para que você, leitor, tenha uma experiência completa nessa leitura e consiga se surpreender, como eu mesma fui surpreendida, com tanta criatividade.
É, realmente é um livro confuso, que não explica muito bem ao que veio, mas é a esquisitice da obra e as criticas, especialmente à sociedade na época em que foi escrita, que fazem de Açúcar de Melancia um livro ímpar; uma fantasia que pegará o leitor desavisado e o levará em uma viagem cuja paisagem é toda feita de açúcar de melancia.
"Tem um delicado equilíbrio em euMorte. Isso nos faz bem."
A edição possui uma capa muito bonita e a edição está caprichada. As fontes são grandes e as páginas amareladas. Não encontrei erros de revisão.
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