Maria - Blog Pétalas de Liberdade 23/01/2017Ficção científica de primeira! (Resenha para o blog Pétalas de Liberdade) "Poderia uma máquina fazer o papel de um profeta de Deus? Poderia a máquina ser esse Deus, dando vida de novo aos seres humanos?" (páginas 58 e 59)
"O androide" pode ser classificado como uma distopia ou uma ficção científica. Com narração em terceira pessoa, a história se passa num futuro onde a humanidade foi extinta, e quem habita o planeta Terra são os robôs. Além deles, há os androides, robôs com aparência humana, inicialmente criados para desenvolver alguma função específica.
JPC-7938 é um androide que passava seus dias escondido, pois todas as máquinas (robôs e androides) em funcionamento deveriam se subordinar ao misterioso H1N1 (ninguém sabia ao certo o quê ele era). As máquinas insubordinadas eram destruídas pelas sentinelas, robôs com aparência de um enorme animal construídos para essa finalidade.
Certo dia, JPC-7938 presenciou um robô fugindo de uma sentinela, era OPR-4503. Ele acabou ajudando na fuga, e nas conversas entre os dois, JPC-7938 (que trabalhou como médico quando vivia com os humanos) ficou sabendo que OPR-4503 passou por um laboratório onde havia material reprodutivo humano congelado. Daí surgiu uma ideia na cabeça de JPC-7938, com a ajuda de OPR-4503, um engenheiro, ele tentaria trazer os humanos de volta à vida. Será que conseguiriam?
"- O que fazia fora dos ferros-velhos? O que estava procurando?
- Eu estava procurando o mar.
- O mar?
- Sim. Queria ver o mar antes da minha extinção. Depois de mil anos desse vazio completo, dessa ausência de necessidades, não conseguia mais ficar nos ferros-velhos consertando robôs fadados à extinção. Resolvi ver o mar e depois deixar uma sentinela me destruir.Vou existir por mais quantos anos? Mil, 2 mil? Mas existir para quê?" (página 38)
Eu gostei demais de "O androide"! Acho que o autor construiu muito bem a história, a ambientação e os personagens. Achei super interessante a forma como foi descrito o nosso planeta pós-humanos, como a Terra se reajustou livre de nós e de toda a degradação que causamos. Gostei também de como a trama foi passando por diversos lugares, mas principalmente pelo Brasil, Paulo de Castro prova que é possível sim fazer uma distopia muito boa no nosso país.
E sobre os personagens: eu nunca imaginei que poderia gostar tanto de mocinhos e vilões que não eram humanos nem seres sobrenaturais. Acho que o autor trabalhou bem com a questão da ausência dos sentimentos, como o medo, nos seus androides; eles eram inteligentes, eram programados para pensar e tomar decisões levando em conta as probabilidades, mas seus corpos não respondiam como os nossos.
Além da vontade enorme de descobrir quem era o H1N1 e de saber se o plano de recriar os humanos daria certo, foi interessante também descobrir o passado dos personagens quando ainda havia pessoas na terra e entender como eles chegaram até os dias de hoje, e por que JPC-7938 tinha uma bateria diferente das dos demais androides e como ele, o OPR-4503 e a NCL-6062 não foram atingidos por um vírus que infestou todas as máquinas. Não sei se as sentinelas foram uma homenagem ao Sabujo, o cão mecânico de Fahrenheit 451, do Ray Bradbury, mas se foi, ficou bem legal.
Chegando ao final, fiquei sem algumas respostas: não entendi exatamente como os robôs se rebelaram e para onde iriam três personagens bem importantes. É um "final ok", satisfatório até certo ponto, mas ver que na ficha catalográfica há a palavra "série" me deixou bem animada, por que se tiver uma continuação eu vou querer ler para ver o que mais a mente criativa do Paulo de Castro vai aprontar para essa história tão original (pelo menos para mim).
A edição tem uma capa bonita, páginas amareladas, margens, letras e espaçamento de bom tamanho, além de iniciar o capítulo com uma fonte diferente e ter alguns detalhes nessa fonte. Há poucos erros de revisão.
Fica a minha super recomendação para que vocês leiam "O androide", é uma história fantástica, com um ritmo muito bom, daquelas em que o leitor fica muito curioso para saber o que vai acontecer no próximo capítulo. Agradeço ao Paulo pela oportunidade de ler uma obra que me transportou para uma época que, espero eu, não venhamos a viver.
site:
https://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/01/resenha-livro-o-androide-paulo-de-castro.html