Léo 06/07/2012
O termo Nouvelle Manga é associado ao artista francês radicado no Japão Frederic Boilet. O autor parte da premissa que os quadrinhos europeus estão há muito tempo presos em determinados estilos, como a ficção científica, as histórias de época e o western, enquanto que os japoneses são mais versáteis, habitualmente utilizando o cotidiano como tema.
Boilet utiliza o movimento em uma tentativa de aproximar os quadrinhos de todas as nacionalidades. Para isso, mescla características da nouvelle vague do cinema francês com a linguagem dos quadrinhos franco-belgas e dos mangás, principalmente os seinen, os mangás adultos mais alternativos ou semi-alternativos.
O autor acredita que a força dos mangás está na narrativa, enquanto que os quadrinhos franco-belgas possuem maior experimentação estilística. Essas virtudes misturadas a histórias que sejam capazes de capturar a essência da vida humana, resultariam em quadrinhos mais universais, capazes de atrair qualquer tipo de leitor, independentemente de sua nacionalidade, sexo ou faixa etária.
A graphic novel O Espinafre de Yukiko é uma síntese de tudo isso. Trata-se de uma história de amor autobiográfica, onde Boilet nos conta como conheceu Yukiko, por quem se apaixonou e teve uma breve relação de amor, singela e despretensiosa. Tudo recheado com diversas cenas de sexo que em nenhum momento se tornam vulgares. Pelo contrário, só aumentam o romantismo da trama de uma maneira incrivelmente natural e bela, onde a ternura fala mais alto que o erotismo.
Até mesmo o estranho título, que na verdade é um jogo de palavras, remete ao romantismo quase ingênuo da obra.
A narrativa é semelhante a dos filmes de Jean-Luc Godard, com bastante movimentação. O ritmo é lento, muitas vezes narrado quadro a quadro, mas sem tornar-se entediante, o que acaba conferindo uma maior proximidade com o leitor, devido aos pormenores de cada situação, que são descritos detalhadamente.
O roteiro é sensível, com ótimos diálogos, e a ampla utilização da narrativa em primeira pessoa só aumenta a intimidade entre os personagens e o leitor. Boilet quer que os espectadores se sintam em seu papel, que sintam sua paixão, sua empolgação e suas frustrações.
A metalinguagem é constantemente utilizada para inserir ainda mais o leitor dentro da obra, ampliando o tom confessional e intimista do relato.
Uma criativa mistura de técnicas é utilizada, com uso de grafite, nanquim, aquarela e até mesmo fotografia. O autor arrisca até uma ligeira mistura de realismo com cartoon, alternando brilhantemente entre ficção e realidade.
A facilidade com que Boilet conduz sua história é magnífica, sensibilizando o leitor de maneira muito sutil para os habituais entraves de um relacionamento, como as pequenas rotinas do cotidiano, a falta de reciprocidade de sentimentos, a traição, o término do relacionamento e o início de uma nova paixão.
Uma excelente obra em todos os aspectos e uma grata surpresa para aqueles que desejam expandir seus horizontes nos quadrinhos. La Nouvelle Manga de Boilet surpreende e é capaz de agradar a gregos e troianos. Basta se desprender dos arquétipos dos quadrinhos comerciais para adentrar em um mundo de criatividade e sensibilidade ímpares.
(Publicado em: http://www.fanboy.com.br/modules.php?name=Reviews&rop=showcontent&id=1111)