Michele 28/01/2023
Serenidade e lucidez
Dra Ana Claudia Quintana Arantes é médica graduada pela FMUSP, fez pós-graduação em Psicologia- intervenções em luto especialização em Cuidados Paliativos, membro fundador da Associação Casa Cuidar, onde coordena a formação avançada multiprofissional-Prática e Ensino em Cuidados Paliativos.
O texto, bem articulado, trata da visão caleidoscópica no que tange a manutenção da dignidade da vida por meio do planejamento e cuidado não só do corpo fisico, mas da pessoa em si, holisticamente, em todas as suas necessidades, quando a medicina e demais áreas do conhecimento não encontram mais recursos para estabilização e cura de um processo patológico, exceto a de Cuidados Paliativos.
Este livro foi aberto por mim num momento crítico de muita gratidão, lucidez, dor e saudade: despedida da mulher que é a força ancestral que em mim habita, minha avó. Mulher de uma força de viver imprecionante, que nos últimos dois anos de vida sinalizava seu desejo de partir dessa existência. Os problemas crônicos de saúde não permitiam uma vida de liberdade, mas os cuidados atentos de minha tia e minha mãe, trouxeram muita qualidade de vida a mulher que abriu mão de si para dedicar a todas nós, minha vovó coruja. Eu sou a primeira neta, enfermeira que acompanhei e propiciei, na minha prática, momentos de despedida de muitos familiares e amores, tive a grata oportunidade também de lhe dar o abraço final.
Como a percebi despedir-se de mim, aos poucos durante pouco mais de 30 dias. Foi a despedida mais linda da minha vida até agora. A leitura das páginas específicas do livro, pela minha filha, 4a mulher na linha dessa sucessão de força e amor, especialmente, os capítulos "Como ajudar alguém a morrer" e "Processo ativo de morrer e a dissolução dos quatro elementos" me ajudaram a ter mais certeza sobre a relevante postura de respeito diante do processo de morte. Neste dia, minha avó entrava no processo ativo de morte.
Isso, não consegui ler com meus olhos, dado o tamanho da dor ao reconhcer primeiro que vovó aos poucos se despedia e falava pra mim que partiria, em breve: "_ você não esquece de mim não, viu!", asseverou-me a última vez que eu a sentei fora do leito.
Jamais esquecerei desse livro, jamais me esquecerei da senhora, vovó, a quem dedico meu cuidado e esta resenha. Gratidão Dra Ana Claudia Arantes e D. Maria do Fiico (como vovó era conhecida).
Um bom livro é isso: conecta algo de nós com as palavras ali escritas! Adorei e desejo excelente leitura. Leitura relevabte e necessária a profissionais de saúde e demais interessados em qualidade de vida e de morte! Precisamos falar da morte como coroamento de uma vida vivida com a forma que nos foi possível viver e fazer do final dela o símbolo do respeito, dos afetos, do amor (razão pela qual acredito estarmos aqui).