Diego 23/10/2017
Derrubando mitos e jogando água gelada nos embriagados
O francês Raymond Aron "provoca" seus conterrâneos intelectuais, em sua maioria seduzidos pelo socialismo, a confrontarem seus dilemas e incoerências. Sartre não deve ter gostado deste livro.
Seguindo na linha de pensamento que procura desfazer o mito de que o homem de esquerda é moralmente superior aos demais, Aron questiona justamente esta lógica: quem foi que disse que a ideologia política tem que ser uma espécie de salvação? E por aí ele chama o socialismo, em algumas passagens do livro, de "religião secular". Não é para menos; algumas pessoas enxergam no partido político uma salvação confessional. Pura embriaguez.
Ele começa questionando o mito da esquerda. Em seguida questiona a ideia (que considera metafísica) de um proletariado que tem uma "missão histórica". Em seguida ele ataca as noções de que a história humana tem um quê de linear -- e que poderíamos "evoluir" socialmente e politicamente até chegarmos numa sociedade ideal, guiados por determinada ideologia ou liderança política. Não é bem assim; funca foi. E finalmente ele se volta aos intelectuais e questiona (não com estas palavras, claro): "O que vocês fumaram, queridos?".
Se Marx cravou que a religião é o ópio do povo, Aron rebate ao dizer que o socialismo é o ópio dos intelectuais. Capaz de faze-los criticar qualquer gesto imperialista dos EUA mas fazer vista grossa aos excessos do regime soviético (só para citar um exemplo). O livro tem este tom. Uma crítica aberta á postura ideológica de parte dos intelectuais da época do autor (marcadamente os franceses).
Leitura profunda e recomendada para quem gosta de ciência política.