Fernanda.Redfield 08/08/2018
Certas coisas não conseguem ser consertadas.
O volume final da Série Silo não consegue corrigir os erros cometidos em ORDEM, entregando um final agridoce para quem ainda tinha esperanças com a série.
SINOPSE: Juliette se torna prefeita do Silo 18, que está se recuperando de uma rebelião. Seu governo encontra grande resistência por causa da controversa escavação para resgatar os supostos sobreviventes do Silo 17, uma empreitada vista com desconfiança que está espalhando o medo entre os moradores do Silo 18. Como se isso não fosse um desafio grande o bastante, Juliette também recebe transmissões de Donald, a voz que alega ser líder do Silo 1 e está disposta a ajudar - mas também é capaz de fazer ameaças horríveis. Talvez Donald não seja o monstro que Juliette vê. Quem sabe ele não é a peça-chave para a salvação de toda a espécie humana? Mas será que ainda há tempo?
LEGADO começa frenético, com uma promessa não-dita de ser tudo que o seu antecessor não foi em termos de tensão e ação. O Silo 18 está por um fio e Juliette, de volta, tenta fazer de tudo para que o seu mundo não tenha o mesmo fim de tantos outros. Para isso, ela continua com a necessidade de mudar as coisas, de alterar a organização daquela sociedade distópica e, por isso, coloca o seu coração como fiel da balança que, para todos os outros que direcionam o futuro, era a mente.
Esse não é um livro para explicações ou não deveria ser. Contudo, a trama da Série Silo parece ter chegado sobrecarregada nessa parte final, como se ORDEM não tivesse cumprido com o seu objetivo de responder às perguntas habilmente levantadas em SILO. E as respostas chegam com tal rapidez e sem explicações habilidosas, fazendo com que percam - e muito - o seu poder de chocar e de surpreender o leitor. Na minha concepção, Hugh Howey não deve ter planejado o fim de sua série porque LEGADO parece muito simplista perto dos outros dois volumes, até mesmo a escrita dele parece "preguiçosa".
Existe perda de tempo com certos aspectos do livro - a escavação, por exemplo - que lá na frente tornam-se dispensáveis diante de acontecimentos maiores. O livro não foi bem dividido entre os dois "protagonistas" do enredo - Juliette e Donald - de forma que, no terço final, era impossível estabelecer a cronologia dos acontecimentos diante da desorganização deles.
Ainda critico o excesso de personagens que não acrescentaram em nada a trama, alguns estavam lá só para humanizar Juliette, o que não era necessário porque a personagem passa por tanta coisa que entendemos todas as decisões que ela toma e outros, como Charlotte no arco do Donald, só adquirem importância nas páginas finais. E a minha problemática com Jimmy/Solo só se agravou ainda mais nesse volume, a narrativa deles destoava completamente do "mundo em perigo" no qual o autor gostaria que acreditássemos, esses sim eram dispensáveis e foram mantidos até o final.
Nas páginas finais, havia muito a acontecer e pouco tempo para tal. Hugh Howey atropelou os acontecimentos, explosões passaram a resolver tudo e os vilões emburreceram de uma hora para outra. Até passa a ideia de desrespeito, tamanha pressa em finalizar uma história que começou com tanto potencial. Hugh Howey quis explorar as mazelas da humanidade e as abordou de forma clichê (pessoas querendo mais do que necessitam, homem apossando-se de mulheres, a vida de alguns pela salvação de muitos...? Nem parecem as mesmas reflexões do primeiro livro) e o fim... Não tive um final mais decepcionante do que esse da Série Silo em anos.
As mortes que eram para mexer, tornaram-se alívios e em determinados pontos da narrativa, a descaracterização de Juliette também me tirou do sério.
Em resumo, LEGADO não conseguiu consertar os erros de ORDEM, mas, terminou de enterrar o que ainda existia de promissor em SILO. É decepcionante porque, de fato, a Série SIlo tornou-se só mais uma distopia com muito potencial e nada além disso. Não sei se recomendo, o que é triste.
(PS: Também preciso pontuar que a edição física da Editora Intrínseca está cheia de erros de ortografia escandalosos e que também tem um erro gritante em relação a divisão das partes do livro que só acentuaram e muito o meu desgosto ao finalizá-lo).