Karli Souza 20/10/2016
Todo começo tem um fim.
Pois é, li legado, último livro da trilogia do Hugh, o que posso dizer? Acredito que inúmeras palavras não serão capazes de transmitir todos os sentimentos que tive com essa série. Quanto ao fato de eu ter dado três estrelas para esse livro, enquanto que Silo e Ordem obtiveram 5 estrelas e foi favoritado, a questão é óbvia: legado é o último livro de uma distopia,e já li algumas para chegar à conclusão de que é impossível escrever um final de distopia sendo 100% perfeita, é frustrante, chato, até parece que os autores esqueceram a sua fórmula de escrever... Acredito que é bom vermos como o mundo é destruído e como as pessoas agora vive com esse mundo cheio de segredos e opressão, porém é ruim lermos como acaba um mundo já destruído, sempre há guerras e mortes e finais inconclusivos, tristeza, esperança e dor... E não foi diferente com Legado, ele foi o que eu sempre temia.
Conheci Silo e me apaixonei em 2014, perto de seu lançamento no Brasil, poucos aqui conhecem, mas vai virar filme, e é reconhecido lá fora, acredito que os poucos que leram Silo, se apaixonaram assim como eu, é difícil ser o contrário, nunca tinha lido nada parecido, uma escrita cativante e surpreendente, você lê sem esperar que seria algo tão diferente e único, o Hugh tem um talento pra isso, através de Silo, ele nos mostrou mais uma vez, que a espécie humana é de dar medo, seres tão inteligentes, capazes de criar o mundo, criar até para acabar com ele, é aterrorizante. Ele mostra nossa realidade, presenciamos isso com a Segunda Grande Guerra, milhares de mortos por poucos responsáveis, é a representação do que o mundo pode chegar a ser um dia, Hugh escreveu uma realidade que muitos temem, uma sociedade em particular, que acaba com o resto, para garantir sua própria sobrevivência e domínio.
Em ordem, entendemos isso, a inteligência humana, construiu uma nova era, criaram soluções, preservaram corpos, pessoas congelam e acordam por séculos, presenciamos a vida de personagens fortes e importantes, nas poucas vezes que apareceram, foi o melhor livro da série, um dos melhores da minha vida, favorito de 2015, me deixou sem ar, me deixou devastada, quando acabei? Estava louca pra saber como tudo ia terminar, esperei muito por Legado, e aqui estamos nós.
Foi uma leitura difícil e demorada, parei várias vezes de ler, pra poder assimilar tudo e me recuperar, como aconteceu com os outros livros, mas não da mesma maneira boa que foi antes, havia duas opções pra legado, eu amaria e seria como os outros, totalmente perfeitos, ou seria mais um final desgastante de distopia. E então foi isso, foi o que eu sempre temia, não consigo entender, porque o Hugh se prendia a características tão pequenas e o essencial não explicava, eu tento imaginar o mundo de Silo e não consigo, caramba! Como eles conseguiram colocar tudo lá dentro, pra durar séculos, e destruir tudo de repente no exterior levando todos sem nada pra dentro? Como conservaram alguns animais... Enfim, como pode haver tanta grandeza e vida embaixo da terra? É difícil de acreditar, mas é possível, temos o mistério da Área 51 pra provar isso.
Sofri com a leitura, com uma morte em especial, já sofri perda de personagens antes, mas não por alguém que me apaixonei e que conhecia a 2 anos, afinal não li a série durante uma semana, tive que esperar os livros serem lançados anualmente, o que deu bastante espaço pra refletir cada história e amá-la, passamos por muita coisa, e sobrevivemos, entendemos que o ser humano não nasceu pra viver sozinho e confinado, que ele é capaz de acabar com o mundo, ser perverso, amar em momentos estranhos, ter a incrível capacidade de querer sobreviver, rever aqueles que amam, perceber que a vida acaba em um piscar de olhos. Terminei os livros com muitas perguntas sem respostas, mas a vida é cheia disso, não é? É isso que mostra a história, essa é a moral, a representação da vida, da sobrevivência, dos questionamentos, a busca pela verdade, a autodestruição, o egocentrismo, o altruísmo, a esperança de viver melhor no dia seguinte.
Arranjei uma trilha sonora perfeita, STOP CRYING YOUR HEART OUT, RADIOACTIVE E SAVE ME, estarão pra sempre na minha mente e coração, me fará olhar as estrelas e procurar por elas, me fará acreditar que um ser é radioativo e irá construir uma nova era, será capaz de destruir seus ossos, inalar produtos químicos, sentir o gosto da terra, me fará acreditar que precisarei ser salva, porque tudo estará tão perdido, que esperarei um sorriso pra iluminar tudo, fará querer fazer meu coração parar de chorar, não se preocupar e seguir em frente, e isso não esquecerei nunca.
Foi uma amizade linda que tive com esses livros, nunca esquecerei, que terei orgulho de ter conhecido algo assim, descobrir novas coisas, enxergar um mundo totalmente diferente, um mundo pequeno, que para muitas pessoas, significa tudo, seria isso um lar? A única coisa que existe? Claro que não. Há muito mais lá fora, foi isso que mostrou, foi uma despedia triste e bonita, diferente, que faltava muitas coisas pra completar, mas que cada sacrifício significou alguma coisa, perder pessoas que amamos, sofrimento, o não conformismo, algo maior que você, foi isso que eu vi através das lentes da câmeras, através da poeira e nuvens negras, do vento irregular, do último suspiro, da falta de ar, e da imaginação de algo azul e verde, repleto de beleza, a natureza é assim, bela e perfeita, e a única coisa que fazemos é destruí-la.
Obrigada Hugh Howey por apresentar isso, abrir meus olhos, ver além das estrelas desaparecidas, foi momentos importantes que tive, sentimentos que nunca pensei que palavras seriam capazes de fazer, que faz você parar e entender do porquê lermos e gostarmos, não enxergamos letras no papel, enxergamos histórias diferentes e que significam a mesma coisa, a existência da vida, é a única coisa verdadeira, e que precisamos continuar fazer que ela exista, independente de tudo, pra manter a Ordem e construir um Legado, diferente do livro, mas que são a mesma coisa no final de tudo. Todo começo tem um fim de fato, mas é o fim que constrói um novo.