Guiga 25/02/2024
Mario Benedetti é um autor uruguaio que possui uma vasta coleção de escritos e é considerado um dos mais relevantes autores latino-americanos. Faleceu aos 88 anos após uma vida extraordinariamente comum atuando como editor, ativista político e poeta.
No livro A Trégua, publicado em 1960, ele lança a história em formato de um diário, onde somos apresentados a Martin Santomé, um contador com suas opiniões absurdamente comuns para a época. Ele está prestes a completar 50 anos e iniciar a sua aposentadoria, esperada com uma paciência que beira ao tédio, e alguns tons de melancolia, devido a um fato que o marcou por boa parte de sua vida: a morte de sua esposa, Isabel.
Enquanto esse novo momento não é inaugurado, ele registra diariamente seus pensamentos diretos e extremamente filosóficos sobre a espera, o ócio, a vida em geral, além de compartilhar alguns detalhes da sua relação não muito saudável com seus filhos Jaime, Blanca e Esteban e sua tediosa rotina no escritório até conhecer Laura Avellaneda, uma jovem de 28 anos que atuará como sua colega de trabalho.
Pouco a pouco, Avellaneda passa a tomar atenção de Santomé, que ao mesmo tempo que confronta suas ideias sobre relacionar-se com alguém mais jovem, redescobre a ternura da afeição e do amor depois de um longo período acreditando fortemente que a solidão seria sua companheira de vida.
Lendo o livro pela primeira vez, não temos ideia do quanto o seu título entrega sobre o que a história se trata, porém acredito que essa é a graça desta história: ao terminar a leitura, nos darmos conta do quanto ficamos envolvidos com as reflexões profundas, melancólicas e ao mesmo tempo contraditórias de Martin e com a personalidade decidida porém doce de Laura.
Apesar de o progresso da história ocorrer em um ritmo lento, ao longo da leitura, eu senti criando uma conexão com os personagens, torcendo pelo bem-estar deles durante alguns momentos específicos.
Essa é uma característica muito interessante dessa história: apesar de ser narrado em primeira pessoa em formato de diário, nos oferecendo uma perspectiva limitada, obtemos fragmentos a respeito de outros personagens (menções honrosas para Isabel, Jaime e Blanca, esposa e filhos de Martin) que nos orienta sobre o que o personagem principal pensa a respeito deles, mas também nos ajuda a nortear como nós mesmos nos sentimos em relação a eles.
Esse foi o meu primeiro contato com Mario Benedetti e gostei muito do que foi apresentado por aqui, especialmente por todas as reflexões geradas sobre como lidamos com a nossa solidão e como é descobrir novas sensações em um momento da vida em que tudo parece definitivo e que, basta algo acontecer para criarmos novas perspectivas.