aeviiin
18/02/2024Apenas Elena FerranteElena Ferrante, seja lá quem ela for, tem uma escrita única que mesmo visceral consegue ser delicada e converse com o leitor - especialmente com as leitoras -, de maneiras que poucos conseguem fazer. É ressaltando os pequenos detalhes da existência do que é ser mulher, nossas vontades e inseguranças, medos e angústias, os sentimentos que mais reprimimos sendo expostos nas páginas e jogados em nossa cara para que tenhamos uma identificação até mesmo incomoda onde Elena fala conosco.
Nesse terceiro volume da tetralogia, Elena nos apresenta uma Lenu que se vê perdida justamente em um momento da vida onde muitas se sentem perdidas, após a maternidade, o casamento, onde é normal para muitas se sentir sem eixo, não mais se reconhecer como mulher mas apenas como mãe e esposa, a senhora que deve cuidar dos filhos, do lar e do marido, que deve ser decorosa e não demonstrar mais ambições e desejos. Por mais que o livro se passe tantos anos atrás em uma sociedade completamente diferente da nossa, esses costumes ainda não foram deixados para trás e essas angústias ainda se fazem presentes.
Mesmo tratando de assuntos tão relevantes e fortes Elena ainda consegue não deixar de lado as relações de Lenu e Lila que são a força motriz que move toda essa história durante toda narrativa, aqui vemos que ainda existe a amizade, o amor e o ódio, a admiração e a inveja e a necessidade de sempre se mostrar e se provar maior e melhor. Na minha experiência pessoal de leitora, vejo a relação de Lenu e Lila como uma das mais complexas e bem trabalhadas de todos os livros que já li até hoje.