isa! 14/01/2023
nunca mais como rosbife
Raphael Montes, tenho medo de você! Meus amigos, que livro foi esse. Não existe palavras suficientes para descrever minhas emoções durante a leitura. Porém, se há algo que posso falar é que a escrita do Raphael é assustadora. Como é possível sentir meu estômago embrulhar apenas com palavras? Esse livro é nojento, maligno, absurdo e genial. É uma experiência maluca.
O livro aborda a história de quatro jovens que se mudam para o Rio de Janeiro para começarem sua vida universitária. Eles dividem o aluguel do apartamento em Copacabana, e com a crise que o país estava passando e os salários mínimo que ganhavam, as contas começam a apertar. Com o risco de perder o apartamento, e sem o objetivo preocupar seus pais com seus próprios problemas, Leitão - um amigo que me irritou desde o começo! - propõe a organização de um jantar secreto. No cardápio: Carne humana. Claro que a ideia inicial não era baseada nisso, mas, o desespero por dinheiro resultou a buscar algo que mais o remunerassem. Depois de ter lido o livro, entendo perfeitamente o porquê de Leitão ter proposto essa "ideia" após ter feito uma brincadeira no site sobre isso. Agora, percebo o tanto de sinal que o enredo nos deu. Apesar de ser uma ideia absurda, Dante e seus amigos aceitaram não tão dificilmente. É uma coisa maluca de se pensar, mas, o desespero por dinheiro nos faz tomar as piores decisões. É isso que o capitalismo propõe - risos.
Os jantares começaram e, depois disso, foi só ladeira abaixo. As cenas eram nojentas, as pessoas se deliciando por carne humana, a facilidade de conseguir corpos e cortá-los como se nunca tivesse tido uma vida. Na verdade, a crítica que esse livro aborda é incrível, em como o consumo de carne animal também deveria ser assustador - e a população simplesmente não se importa, porque faz parte do nosso hábito desde que nascemos. A crítica sobre a fome do mundo também me fez pensar muito.
Os detalhes do livro me deixaram um pouco assustada, principalmente a cena em que os melhores cortes de carne que se pode fazer em um corpo são descritos. Rapha! Como você sabe disso, hein? A cena do matadouro me deixou com o estômago embrulhado - aliás, acho que em todo mundo -, não por ser tão detalhada, mas por imaginar a cena e vê-la passando em frames da minha mente. A parte que a mulher é tratada literalmente como um pedaço de carne, sofrendo espasmos e queimaduras é uma absurdidade nojenta.
A escrita do autor, acredito, é uma monstruosidade proposital que faz todo o sentido. A forma como os personagens se tratam na arrogância e no preconceito, os detalhes nojentos de um assunto que, por si só, é um absurdo, as passagens rápidas, e, principalmente, a não problematização dos personagens. Tudo isso contribui para tornar o ambiente ainda mais insano. Raphael não tratou os personagens como pessoas más que fizeram jantar a fim de apreciar a morte e o gosto da carne humana, mas, sim, escreveu sobre pessoas desesperadas por uma remuneração, mesmo advinda de uma prática absurda. Lógico que esse perfil não se encaixa em todos os personagens, porque existiam uns que eram realmente uns canalhas e sujos. Porém, ainda sim, durante muitas passagens, Dante afirmava que o que estava fazendo era necessário e que não poderíamos julga-lo, porque se estivéssemos em seu lugar faríamos o mesmo - claro que não faríamos, mas era uma forma dele se autoafirmar como uma pessoa boa, no final de tudo.
Muitas pessoas falam que não conseguiram se conectar emocionalmente com os personagens. Não posso dizer o mesmo, porque realmente simpatizei com eles, principalmente com o Dante, Miguel e Cora. Mesmo que, ao longo do livro, ficasse com raiva de alguns. Sim, Hugo e Leitão é de vocês que estou falando. Mas, ainda sim, não esperava o final e, de verdade, me senti traída. E nem suspeitava de ninguém que estivesse bem embaixo dos meus olhos.
Senti que o livro deixou algumas questões em aberto, entretanto, acredito que tenha sido a proposta. De qualquer forma, é um livro incrível que merece ser lido. Se você tiver estômago forte, lógico. Nunca mais como rosbife, valeu, Raphael Montes!