naponiic 04/01/2021
Aos Terrores da Vida Real...
Antes de qualquer coisa, para ler Carrie é interessante saber o que difere o amor, a paixão e o fanatismo. Mario Sergio Cortella descreve a paixão por um time, religião, preferências musicais ou pessoas como "uma expressão da irracionalidade" ou, ainda "suspensão temporária do juízo e da razão", ao passo que o fanatismo, seria essa mesma suspensão, mas realizada de modo violento e brutal, desmedido.
A narrativa de Carrie está intimimante conectada ? a além do terror sobrenatural ? aos limiares que demarcam essas emoções tão intensas e, sobretudo, humanas.
Carrie é a típica garota desajustada que teve a infelicidade de ter todos os males do mundo despencando sobre sua cabeça: se já não bastasse ser filha de uma das figuras mais esquisitas da cidade ? uma verdadeira fanática religiosa ?, a menina ainda precisa lidar com o bullying e constantes podas de comportamento, nunca podendo se portar como o resto das crianças de sua própria idade.
Stephen King, mesmo se tratando de seu romance de estreia, já consegue demarcar fortes traços do seu narrativo. A primeiro pode parecer confusa a interrupção tão natural realizada pela inserção de pensamentos bem no meio de frases, mas esse estranhamento não costuma passar de 40 páginas. Além disso, faz constante uso de outros gêneros textuais para complementar a história ? nem sempre enfaticamente interessantes, mas ainda assim... ?, conferindo um ritmo único ao livro.
Até porquê, eu senti que o tal ritmo e construção narrativa se mostra com muito mais relevância do que o reviravoltas no enredo: não leia Carrie se estiver esperando por grandes plot twists. Você sabe o que vai acontecer do começo ao fim da história só pelas primeiras páginas. Acaba que, o mais interessante de perceber, é como ela é executada por si própria.
De todo modo, considero que, para uma primeira experiência com o Rei do Terror, se tratou de uma boa leitura, com abordagens perfeitas do que significa crescer e viver em meio a um ambiente hostil e o resultado catastrófico que isso pode gerar ? por mais que ninguém tenha sido diagnosticado (ainda) com TC, tal como Carrie...