Passagem para a Escuridão

Passagem para a Escuridão Danilo Sarcinelli




Resenhas - Passagem para a Escuridão


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Paulo 14/06/2017

Criar enredos complexos nem sempre é uma tarefa muito simples. É preciso tecer uma teia que envolva todos os personagens de forma a criar uma narrativa coerente e que atraia o leitor. Os acontecimentos vão se empilhando um atrás do outro até o momento do clímax onde as várias tramas convergem para uma espécie de momento final. Neste livro de estreia, Danilo escreve uma narrativa repleta de acontecimentos que acabam por envolver todos os personagens de uma maneira explosiva.

Admito que fiquei impressionado com a ousadia do autor. Criar uma trama desse nível logo de cara não é algo que muitos tentem fazer. E o que me deixou mais feliz foi ver como a escrita dele é suave e concisa, sem cometer muitos erros. O leitor pode até não gostar da narrativa (e não vou entender por que disso já que a história é excelente), mas não terá qualquer dificuldade em compreender os vários meandros que unem a história. Senti muita segurança nas linhas do livro a ponto de em um determinado momento eu ter esquecido que precisava observar atentamente a escrita. Simplesmente não havia qualquer necessidade. A escrita é em terceira pessoa com vários pontos de vista. O que eu senti que o autor poderia ter feito é suavizar a transição entre diferentes pontos de vista. Em alguns momentos da história eu me senti perdido sobre quem estava falando ou qual ponto de vista estava sendo apresentado.

A diversidade de personagens presentes na história é impressionante. O autor consegue passar por todos os núcleos da narrativa oferecendo visões diferentes sobre a história. Uma das minhas maiores preocupações era o narrador ser capaz de dar profundidade a tantos personagens simultaneamente. E tal não é o que acontece. Apesar de haver desequilíbrio em relação a alguns (bem poucos mesmo) personagens, o leitor consegue desenvolver uma empatia por todos os personagens. Cada um deles possui algum tipo de questão ou situação a ser desenvolvida na história. Algumas dessas situações são resolvidas neste mesmo volume enquanto outras ficam como ganchos para volumes posteriores. Um ponto que eu acho que o autor poderia ter feito é sinalizado sobre os elementos negativos presentes no protagonista. O desenvolvimento em sonhos é interessante, mas alguns desses sentimentos poderiam ter passado para o convívio social dele. Uma reação desproporcional, palavras ásperas, um olhar de esguelha. Todas são possibilidades para demonstrar que algo de errado estava acontecendo o personagem. Seria uma espécie de queda progressiva.

Outro personagem que eu gostei bastante foi o inspetor Diocleciano. Ele fornece até mesmo uma mudança narrativa na escrita. Os capítulos em que ele participa parecem saídos de um livro de investigação. O autor poderia ter explorado mais essa mudança súbita de escrita; dá um efeito bem legal. Cesar nos fornece a visão de um dos antagonistas da história e sua visão fanática é bem representada pelo autor. Aliás, o fanatismo é um dos temas explorados pelo autor. Como esta postura de César o levar a tomar medidas desproporcionais. Vemos alguns vislumbres das perseguições religiosas semelhantes às que ocorreram no final do Império Romano. Aliás, é perceptível a inspiração romana na narrativa do autor. E não, não estou me referindo aos nomes, mas aos temas.

Outro tema explorado neste primeiro volume é escuridão que existe dentro de cada um de nós. E como nem sempre conhecemos bem as pessoas que amamos. Somos surpreendidos por algumas situações ao longo do livro que nos deixa de cabelos em pé. Personagens que julgamos de uma forma, na verdade possuem segredos incríveis escondidos. No final deste primeiro volume, passamos a nos questionar o quanto apresentamos realmente quem somos a quem amamos. O que o protagonista passa é o suficiente para ele questionar uma série de valores que ele julgava como certos. Outros personagens como Marco e Diana passam por situações semelhantes. Como passar por cima destas situações? Alguns personagens acabam negando os acontecimentos; outros acabam se aproveitando destas situações para obter alguma vantagem; alguns outros acabam sendo afogados por estas situações.

Neste sentido aqui tem o problema mais grave que eu encontrei no trabalho do Danilo: os plot twists. Apesar de ser um problema mais grave, é preciso ressaltar de antemão que Passagem para a Escuridão é um livro bem redondinho e que o que vou apontar aqui é muito mais para ajudar o autor do que algo que vá incomodar os leitores. Plot twists são empregados hoje de uma maneira bem comum por autores para fornecer um elemento de surpresa aos leitores. São as viradas narrativas, apresentando algum acontecimento chocante que acaba por mudar o rumo da história. Só que, como qualquer elemento narrativo, ele precisa ser apresentado com cuidado. Um plot twist precisa ser coerente, ou seja, o autor precisa dar pistas sutis que ele pode acontecer. A virada não pode acontecer "caída do céu". Quando o leitor vê a virada, ele pode se lembrar de alguma fala, olhar ou acontecimento anterior que corrobore a virada. E muitos acontecimentos em Passagem para a Escuridão não deixam pistas para um plot twist que ocorre mais à frente. Algumas revelações me soaram estranhas porque me pegaram realmente de surpresa. Nesse sentido, voltei alguns capítulos para ver se havia algum indício da virada, alguma fala jogada pelos personagens, mas eu não os encontrei. Talvez eu possa ligar este problema dos plot twists à colocação sobre a decadência do protagonista. Talvez. Mas, novamente, esse problema eu percebi por conta da minha leitura atenta. A escrita do Danilo é tão boa que você pode passar a história inteira sem reparar nisso.

A narrativa tem uma boa separação entre início, meio e fim. O autor soube dosar muito bem estes três momentos. Introdução do mundo, desenvolvimento do plot principal e dos subplots e o clímax narrativo com um epílogo deixando um gancho para o próximo volume. Os capítulos são de tamanho mediano, não sendo nem um pouco cansativos. Achei até que eu os passava de maneira até ávida, querendo saber o que aconteceria a seguir. A narrativa segue um ritmo bem seguro e não achei que teve barrigas na história. O tamanho ficou bem satisfatório e é suficiente para que o leitor consiga se apegar aos personagens e se emocionar com a história. Talvez a narrativa sofra um pouco da síndrome do primeiro volume, mas isto é tão normal em séries que eu já até passo por cima desse problema. Acho que são raríssimos os autores que conseguem não passar isso para a história.

Para quem espera uma história com muita magia, preciso alertar que o Danilo tem os pés bem no chão. A magia parece estar ali, mas de uma maneira mais sutil. A mim me parece que se trata de uma história mais focada nas pessoas do que em criaturas ou feiticeiros que soltem bolas de fogo. Eu gosto dessa pegada do autor. Parece ser um livro de fantasia, mas mais em um sentido de histórias de conquista e traição como se tornaram bastante comuns nos últimos anos. A diferença é que ele dá personalidade ao reino que ele cria. Ainda acho que o Danilo precisa fazer uma construção de mundo mais apurada no segundo livro, mas não é nada espetacular. E se duvidar, é isso mesmo o que ele deve fazer a seguir.

Para quem gosta de uma boa história a la Game of Thrones, Passagem para a Escuridão pode te surpreender positivamente. Uma escrita segura e bem experiente para um autor que começa a publicar seus trabalhos. Os personagens, mesmo em grande número, são muito bem trabalhados pelo autor. O leitor consegue se apegar a cada um deles que recebem bom tempo no palco. Se estiverem procurando por uma fantasia mais pés no chão, este pode ser o seu livro.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Sario Ferreira 26/11/2016

Melhor fantasia indie de 2016!
Passagem para a Escuridão é a primeira parte da história de Lúcio (ou de César, ou de Diana, ou de Marco?), neto do Rei Augusto da Tibéria, um reino cuja prosperidade aparente nubla uma quantidade perigosa de intrigas políticas e religiosas, entre segredos proibidos e conflitos familiares. A trama, apesar de parecer simples em seus fundamentos, revela de modo gradual complexidade, ação, conflitos intensos, segredos e reviravoltas em dose certa.

A obra de Danilo Sarcinelli (guardem este nome!) vai muito além do protagonismo de Lúcio, nos provocando empatia à grande miríade de personagens envolvidos na trama; cinzentos e críveis, nenhum deles é desperdiçado e cada um carrega profundidade que nos faz esquecer que eles são personagens. A construção de suas personalidades e o argumento de seus pontos de vista são daquele tipo que te fazem questionar se o vilão é o vilão, se o mocinho é o mocinho, se não faríamos o mesmo que eles se estivéssemos em suas peles. Por vezes, me peguei torcendo para lados diferentes do mesmo conflito, confuso entre a razão tão bem defendida de cada um. Destaco também a força dos diálogos e a interação diferenciada entre esses personagens consigo mesmo e com o mundo fictício que os cerca.

O autor nos apresenta Tibéria e seu mundo como um cenário sólido e bem estruturado, do palácio real no Morro do Castelo às miseráveis ruelas do distrito Brejo Fundo, com suas lendas (como a da espada Solar, do santo Grimório e do deus-sol Ravi) e os backgrounds intrincados da cúpula nobre da cidade, que são apenas breves amostras de como o contexto em que desenrola a trama se faz de maneira substancial, cheia de espírito criativo. A climatização e o ambiente te abraçam sem que você se perceba envolvido por eles e não há espaço para a monotonia, pois o cenário está o tempo todo em interação com os personagens, sem excesso flutuante de descrições vãs. Todas estas são consequências da narrativa habilidosa de Sarcinelli, que decorre bem compassada e com equilíbrio, maestrando clímax, surpresas e o desenrolar da trama de modo dinâmico e cativante.

A leitura de Passagem para a Escuridão me trouxe sensações boas que senti ao ler livros de autores renomados como George Martin, Joe Abercombrie, Michael J. Sullivan, R. A. Salvatore, Tracy Hickman e Margareth Weiss. Como melhoria, fica a sugestão ao Danilo de ser acrescentado ao livro mapas sobre o cenário, além de um guia de personagens, considerando a grande grade de relações entre eles.

A obra é garantia de diversão e reflexão, plenamente recomendado a amantes e não amantes da literatura de fantasia: pode aceitar essa Passagem para a Escuridão sem medo, com as bençãos de Ravi!
Danilo Sarcinelli 06/03/2017minha estante
Grande paladino! Suas palavras me enchem de alegria. Quando a noite é escura e a vontade de desistir espreita, lembro desta resenha =D


Sario Ferreira 13/03/2017minha estante
Por favor, não freie essa sua criatividade e sensibilidade de escrita de forma alguma! Quero ler muitos outros livros seus ainda!




Aglainir 13/08/2017

Resenha Passagem para a Escuridão
Despedindo-me, por enquanto, da Tibéria. Com certeza voltarei a visita-la no volume dois do promissor livro Passagem para a Escuridão do promissor autor Danilo Sarcinelli. Uma boa história de fantasia, muito bem escrita e competentemente conduzida pelo escritor, que nos relata a saga do jovem nobre Lúcio Dante. Honesto, puro e ingênuo. Que sonha em viver intensamente seu grande amor com Pandora. Mas, que sofre com as malícias e orquestrações de homens e parentes inescrupulosos que só pensam em poder e que luta contra um mal ancestral que tenta, a qualquer custo, leva-lo para o caminho das trevas.
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Andre Luiz 08/08/2017

Uma Passagem para a Iluminação!
Acabei o livro. Tive um tempo de iluminação ao ler "Passagem para a Escuridão" de Danilo Sarcinelli.

Comecei sem pretensões, quando dei por mim estava rendido, querendo avançar na trama. Tão imerso estive que freei, não queria que o livro terminasse rápido demais.
Chegou ao fim e eu percebi que não terminou, vem mais pela frente. Que bom!
Quando vier o segundo livro, quero de novo. Assim a gente espanta as densas trevas do tédio e conhece em ricas palavras um pouco mais da Tibéria.

Aplausos! Parabéns Danilo!

André Luiz
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allanfrancis.salgado 05/08/2017

UMA TRAMA ENVOLVENTE E MALICIOSA. UM LIVRO PARA SER DEGUSTADO E PENSADO.
Bom confesso que intrigas não é o meu ponto forte e partindo daí o livro do Sarcinelli sairia perdendo, mas ele soube colocar cada intriga em seu devido instante e com sua riqueza própria. Seu livro é daquele que vai acelerando o leitor aos poucos até ele se ver imerso na estória como um todo. O sistema de pontos de vista é utilizado com maestria pelo autor e enriquece o conteúdo. Estamos vendo a preparação para algo maior que ocorrerá no próximo ou próximos livros e que desperta a curiosidade. Detalhe gostei muito do Inspetor Diocleciano. Parabéns Danilo e obrigado por nos presentear com este agradável e excelente livro.
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Léo 23/07/2017

Ótima história, bom conteúdo, autor talentosíssimo
Lançado neste ano (2017), 'Passagem para escuridão', livro escrito pelo autor Danilo Sarcinelli e publicado pela Editora Verve, traz uma premissa com um teor um tanto sangrento e transmite um universo alarmante rodeado por reis, príncipes, traidores e personagens inesperados para um contexto sólido que muito reflete a simbologia da população mundial atual. Com desenlaces satisfatórios e razões aceitáveis, 'Passagem para escuridão' mexe com o psicológico do leitor e o faz enfrentar custosos paradigmas como o fanatismo religioso, muito manifestado através da cultura entremeada no enredo da obra. O autor conseguiu, neste primeiro volume, aprofundar os personagens e todas as suas motivações até um ponto certo, deixando em aberto alguns tópicos que certamente serão colocados em pauta no segundo volume. A ambientação traçada por Sarcinelli não é tão diferente das quais se encontram comumente em histórias do gênero, entretanto o autor soube a singularizar através de elementos como a cultura e simbologia que expressam muito bem os mitos, crenças e ideais da realidade da sociedade apresentada, não se restringindo às práticas ocultas e ousando com inteligência na questão da literariedade. Aliás, a ousadia é um dos pontos mais marcantes no autor, que não se poupou em salientar sentimentos nos protagonistas, co-protagonistas, antagonistas e até mesmo elementos personificados da história. Voltando ao ponto do cenário, em 'Passagem para escuridão' encontra-se um reino já cicatrizado por feridas antigas e que agora está em plena reestruturação, figurando a jornada de jovem príncipe Lúcio Dante. A predominância de referências como a utópica realidade, o sigilo moral e as desgraças no reino são bases do pano de fundo do enredo. O autor preocupou-se em preservar o lado real a todo tempo, mesmo quando os instantes fantásticos/abstratos aconteciam no decorrer da fantasia medieval. 'Passagem para escuridão' utiliza um modelo que traz fortes raízes da Fantástico Stricto Sensu ao tornar complexo o processo de formação dos indivíduos da história e ao racionalizar o pensamento crítico.

Danilo Sarcinelli demonstrou uma enorme habilidade ao dar profundidade a seus personagens e ao transformar instantes que pareciam vazios em grandes momentos. A insanidade do herói é um sinal bem oportuno que o designa, por fim, em muitos períodos, na qualidade de um excelente anti-herói ao lutar contra suas escolhas erradas e faltar-lhe, por pouco, atributos morais do velho herói clássico. Pontos altos como as intrigas no palácio envolvendo a família real, os amontoados de segredos escondidos nas sombras mais escuras do reino e a inveja e desonestidade que alguns personagens carregam em seus interiores servem como espelho da atual sociedade. Essa modelação foi desenvolvida de forma competente e, nesse quesito, o autor parece não ser um simples iniciante, pois utiliza bases de um forte pensamento teológico medieval. Ressalta-se o valor de sua ousadia, um fator que certamente o diferencia de outros autores ao dar à obra uma complexidade simétrica. Ao mesmo tempo, Sarcinelli aposta nas reflexões diretas de seus personagens que chegam a causar um "feedback interior" com o leitor, como no trecho em que Marco, Diana e Justiniano desvelam sobre as estranhezas do bosque real: "Só você, o senhor Max e Pandora estavam lá. E Lúcio. Só os quatro escaparam com vida da clareira... Isso é muito louco, não é? Num instante estamos aqui, brincando e conversando, e no outro podemos não estar mais. A vida é algo tão... frágil. Faz a gente pensar em todas as coisas que deixamos para depois..."

Com uma narrativa caprichosa e mesurada, o autor consegue envolver o leitor em uma espécie de teia que carrega também um ousado conjunto de suspense. Ao mesmo tempo, amplia sob a visão do leitor, a idiossincrasia de seus personagens, revelando também pesadelos e traições, enquanto rituais e demônios sinistros deixam brechas para viagens às sombras. Cheia de analogias, é impossível não entender que a obra é, na verdade, uma vitrine de nós mesmos. Nesse ponto, interpreta-se que a força antagonista também é necessária e valiosa para boas reflexões, ao passo que a busca pelo poder chega a ser tão fanática quanto as questões religiosa e moral. Em 'Passagem para escuridão' não há como encarar uma proximidade à natureza do império romano, onde a família era considerada sagrada e a religião baseada no culto aos deuses antigos, costumes fincados aos aspectos da vida e ao caráter cívico. Quanto a literatura, influências religiosas (motivo pelo qual a literatura romana iniciou-se) e políticas também são vistas na maneira em que Danilo Sarcinelli transmite a história das intrigas palacianas ao leitor. Alguns vestígios relacionados ao exílio, aos laços familiares e as leis são contemplados na obra, assim como uma série de fraudes políticas e religiosas que despertam as questões sobre a moralidade social e individual de cada personagem, a exemplo da lenda do deus-sol Ravi, do santo Grimório e também da espada solar. "Havia um ditado tiberiano que dizia que o valor de uma pessoa podia ser medido pelo volume de lágrimas derramadas em seu funeral".

Um dos diferenciativos enredatórios mais legais da obra é a presença da personificação do mal que colide com o intrínseco de Lúcio: o demônio Arkmal. Ainda nos primeiros capítulos já seria evidente entender que a jogada da obra seria um olhar mais preciso em cima da figura de Lúcio. Uma analogia mais precisa da necessidade da luta contra seus próprios fantasmas fica muito clara no primeiro trecho em que uma criatura sombria invade o labirinto dos sonhos e lembranças do príncipe e passa a questioná-lo com as próprias dúvidas do jovem: "A pergunta certa, príncipe, é quem é você?... Plante a semente da dúvida para ceifar a colheita da sabedoria. A curiosidade é intrínseca ao homem. Deseja aprender. Desejar saber quem é, por que está vivo... O ser vive, o ser afeta o mundo à sua volta. Mas isso é tudo, ou existe algo mais? Você é diferente, jovem príncipe... por dentro...". Essa é a parte mais umbrosa do livro e, nesse momento, através de um demônio, Lúcio e o leitor se veem realmente à frente de uma larga passagem para a escuridão. Sarcinelli usa citações mais pesadas que mexem com o emocional e que facejam com as crenças de cada um, trazendo à tona possíveis causas de pecados mais intensos na vida do homem: "Lúcio tentou se libertar, mas o demônio foi mais forte. Virou-o e o obrigou a ver o terror que se desenrolava no sopé do barraco. Um homem desnudo era esfolado pelas garras de duas criaturas. Uma mulher tinha os dedos arrancados, um a um. As lágrimas cegaram o príncipe por um breve momento". A logicidade da obra é cristalizar a moralidade em todas as suas formas e fazer o leitor combatê-la com veemência: "Íntegro, religioso, blábláblá... É útil se mostrar assim quando nos convém, mas um rei também deve estar preparado para que possa e saiba agir de modo contrário... Quando fiquei sabendo sobre os crimes que aconteciam no condado de Sila Martino, não hesitei... Rituais demoníacos de sacrifícios!...".

O relato e uso de demônios na história é justamente alertar ao leitor sobre a existência da obscuridade e da vivência de criaturas sombrias em si mesmo. Sarcinelli faz referências diretas aos rituais satânicos da era medieval quando relata as mortes de bebês recém-nascidos fatiados e jogados em caldeirões de água fervente; crianças empaladas e postas para assar nas fogueiras; e velhos torturados aos gritos até a morte.

A riqueza no vocabulário do autor merece aplausos também. O mesmo sabe criar diálogos intensos e usar palavras com muito requinte. Fica claro que Sarcinelli quis ressaltar a temática valor/moralidade ao colocar seus personagens à enfrentar seus próprios pesadelos como maneira de reaver seus valores esquecidos. A tese sempre foi bem defendida desde os tempos mais antigos como na antiga Roma. As lendas retratadas na obra servem de esqueleto para o clímax oriundo desenvolvido pelo autor. Os personagens Cesar, Max e Justiniano defendem uma nomenclatura que remete, sem contestação, ao período e reino citados anteriormente. Já Lúcio, até mesmo por sua caracterização e condição psicológica massacrada ao duelar constantemente contra si mesmo, traz fortes resquícios da era dos deuses e anjos. Seu nome é uma profunda elucidação ao próprio Lúcifer, o maior de todos os demônios.

De fronte de uma obra onde a complexidade na criação é um ponto muito forte para qualificar o autor, aquele que se arriscar nas primeiras páginas do opúsculo não encontrará somente as velhas passagens e elementos do universo fantástico medieval, mas entrarão em um espaço-tempo em que a principal finalidade é encarar a dura realidade da qual muitos tentam fugir: o seu próprio eu; aquele tão obscuro e doloroso quanto a verdadeira passagem para escuridão. O epílogo da obra é também, maravilhoso.

site: www.marcasliterarias.com.br
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Gleyzer.Wendrew 24/06/2017

Excelente!
O livro é mto bom... Os personagens são interessantes e bem construídos; a trama dá grandes reviravoltas e vc fica preso dentro da história, não querendo sair mais dela. Uma das melhores fantasias que eu já li. Ansioso pela continuação...
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