Euflauzino 15/03/2017O horror que nasce do cotidiano
Tenho um pouco de medo de falar sobre obras de autores nacionais, receio de afugentar o leitor ou um autor talentoso. E podem ter certeza, Vitor Abdala é um novo talento, um alento ao terror nacional.
Na mesma proporção tenho medo de resenhar contos porque nem sempre é possível encontrar algo que os unifique e falar de todos fica cansativo para quem lê.
Mas e quando os dois – contos e autor nacional? Bom, aí o medo cresce exponencialmente rumo ao pânico. De qualquer forma não poderia me furtar de dizer o que senti ao ler o livro Macabra mente (Ed. Do Autor, 102 páginas) do amigo Vitor Abdala.
Minha dificuldade com contos vem de longa data, desde livros do velho mestre Stephen King, a probabilidade de eu me apegar a todos é quase nula. Para minha grata surpresa, todos, eu disse todos os contos deste livro prenderam minha atenção, me fizeram virar as páginas rapidamente até seu final.
Evocando o terror de coisas improváveis – um disco de vinil, um peixe beta, uma foca – Vitor Abdala se coloca como um Clive Barker tupiniquim, cheio de criatividade, sem abrir mão da surpresa pelo que reside debaixo de nossa cama: medo, meDO, MEDO...
No primeiro conto, uma velhinha presciente e inofensiva leva o síndico, após muita insistência, a verificar um barulho (de cavar) na casa de máquinas acima da laje de seu apartamento. E lá vai ele pra lá (é como olhar se o bicho papão está escondido dentro do armário).
“Não havia porteiro depois das 22h naquele prédio, o que significava que, quando havia problema depois desse horário, era o próprio síndico que tinha que resolvê-lo”.
No segundo conto a coisa ameaça ficar um pouco mais apavorante. Um candidato que só aparece em tempos de eleição encontra um provável eleitor e não se acanha em pedir seu voto. Mas hoje é dia do ajuste de contas e em tempos de Lava Jato, isso pode custar muito caro, rs. Este é o conto de que mais gostei – visceral e arrepiante.
“O dono da casa sorriu com seus dentes metade amarelos, metade pretos. — Prazer, João. Um anjo me disse que o senhor vinha hoje.”
No terceiro conto, dois soldados da polícia, após uma abordagem mal sucedida, resolvem forjar um cenário em que um jovem passa de vítima a réu. Só se esqueceram de combinar os detalhes com ele.
“— O que a gente faz agora, caralho?
O soldado Eurico suava sob sua farda azul...
— O que a polícia sempre faz, porra. Pega a merda daquele revólver! – gritou de volta o sargento Nélio com quinze anos de polícia e dezenas de tiroteios no currículo.”
No quarto conto, um garimpeiro de discos resolve comprar um vinil sem identificação...
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