Marlo R. R. López 15/10/2019"Rum", segundo romance escrito por Thompson e um dos últimos livros seus a ser publicado, é uma espécie de literatura beatnick tardia, uma obra que notabiliza as pessoas medíocres sem quaisquer pretensões na vida, os marginais alcoolizados e os desgraçados que vivem de subempregos - enquanto os ricaços, os peixes grandes, circulam ao redor fartando-se do mundo material e rindo da própria ação predatória em uma sociedade amoral destinada ao fracasso. E o resultado é que, enquanto os que estão na alta-roda da fortuna ganham a vida, os marginais que não têm onde cair mortos a vivem na pele, para o bem e para o mal.
No livro, Thompson narra a história de Paul Kemp, um jovem jornalista underground que decide abandonar Nova York e tentar a sorte em Porto Rico, uma ilha do Caribe onde um punhado de repórteres tocam um jornal à beira da falência sob o comando de um editor tão irascível quanto sóbrio e incapaz. Aos poucos, enquanto faz amizades e perambula por bairros decrépitos, de um lado, e luxuosos, de outro, enquanto cobre pautas as mais inúteis para o periódico em que trabalha, Kemp é lançado em uma rede de interesses e jogos econômicos entre os poderosos da ilha - observando, no processo, o assalto dos Estados Unidos a Porto Rico, uma invasão regada a especulação imobiliária e concessões à Marinha norte-americana, fazendo multiplicarem-se hotéis, cassinos e mansões ao longo das praias do pequeno país insular.
O livro tem o tom dos romances movidos a álcool, e não faltam ocasiões para bebedeiras sem fim e situações inusitadas que invariavelmente acabam mal para a maioria dos personagens. A escrita de Thompson é fluída e leve, pontilhada de reflexões interessantes sobre empregos sem futuro e o sentido da vida cotidiana em uma época em que o personagem principal parece estar começando a desistir de ser alguém realmente bem-sucedido.
Foi vergonhosamente adaptado para o cinema em 2011, dando origem a um filme que não conseguiu ser fiel ao humor sutil de espiral trágica do livro, transformando-se em uma comédia de baixíssima qualidade, com roteiro pausterizado, sem a inteligência e a ironia presentes no romance.