Mil Platôs

Mil Platôs Gilles Deleuze
Félix Guattari




Resenhas - Mil Platôs


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caio.lobo. 22/02/2024

An an an an an é o que onde estou an an an
Que rizoma foi esse que tá no espaço? É uma vespa, é uma orquídea. Comecei certo, mas no platô errado, pois se é uma obra que pode ser lida como queiram, ler de trás para frente não foi possível:

?laer é etsisnoc euq o odut ;arofátem reuqlaup ed oãçiloba a é aicnêtsisnoc ed onalp o?

?real é consiste que o tudo ;metáfora qualquer de abolição a é consistência de plano o?

Agora melhorou.

O rizoma é uma batata, e essa batata cresce para todos os lados debaixo da terra. A árvore tem raízes, mas não tem caules. Tem só um caule e ainda cresce para cima. A batata cresce para os lados. A batata se multiplica, por isso do ditado ?batatinha quando nasce / Espalha rama pelo chão?. A batata também se expande, por isso do ditado ?batatinha quando nasce/ Se esparrama pelo chão?.

O rizoma toma formas diversas, seguindo uma vontade maquinal, cresce, se excita, dorme, recomeça, termina, se mata, fica ereto, cospe, retermina. É tão heterogêneo que se observarmos no mundo vemos que duas pessoas não falam a mesma língua. Nem eu falo a mesma língua ou dialeto do eu de amanhã. A personalidade muda, personalidade por segundos, assim como aquele demônio que Jesus expulsou: Legião. Depois de expulso os muitos foram para muitos porcos e se individualizaram, mas depois pularam no precipício. Esse precipício somos nós. E os milhares de porcos se tornaram multiplicidade novamente aqui dentro, pode nos chamar de espírito de porcos. Mas não são porcos domesticados, retilíneos; são porcos selvagens, são curvos, formam veredas, se trifurcam, polifurcam. Isso é ser esquizo, pois é desagregação do indivíduo estilhaçado, restam cacos de individualidade no chão. Não há coletividade e nem individualidade, há ½ indivíduo, 1/3 de indivíduo, 2/7 de indivíduo, 0,3248957... de indivíduo.

No princípio era o Um, depois o Dois. Dois brigaram, se casaram, entre tapas e beijos. Dessa vez nasce o três, mas é difícil encaixá-lo. Três é hierárquico, em uma linha alguém fica no meio; em um triângulo ou fica alguém na extremidade de cima, como o melhor, ou fica alguém na extremidade de baixo, como o pior. De fato, com quatro a coisa melhora, mas ainda dá para contar; e quando são muitos e incontáveis? E melhor, quando não dá para ver quando um termina e outro acaba? Tudo se desmancha. Não existe a fronteira nítida, uma linha, entre a Mata Atlântica e o Cerrado, há uma faixa de transição que a mistura dos dois, às vezes há Cerrado no meio da Mata Atlântica e á vezes o contrário. À vezes há Mata Atlântica no meio da Mata Atlântica, mas outra Mata Atlântica. De vez em quando não é uma e nem outra.

Mas antes do um já havia o rizoma, mas alguém resolveu resumir porcamente a multiplicidade. Mas Deleuze não chegou a pensar no Zero?

Como recuperar o rizoma? Fugindo! Há sempre uma Estrada dos tijolos amarelos, uma toca do coelho, um alucinógeno. Caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Essa é a linha de fuga. Assim se rompe o hímen da árvore e se começa um tempo de prazer dos orgasmos múltiplos. Seja devir-cadela, no cio se acasala, no não-cio não se acasala. A cadela não abe quem sãos os pais de seus filhotes, um nasce branco, outro nasce preto, outro nasce japonês. Depois a cadela não sabe nem quem são os seus filhos e acasala-se com todos eles, tornando-se avós de seus novos filhos. Por isso o rizoma tem memória curta, para que não se formem estruturas permanentes, genealogias, família.

Mas como tudo que cresce enlouquecidamente, há também cânceres, nódulos, nós. São microfascismos e todos são microfascistas, alguns são macrofascistas. Há fascista comunista, fascista liberal, fascista espartano, fascista igualitário, fascista democrático, fascista cadela.

Por fim, rizoma é um mapa, uma cartografia, não um globo. O mapa distorce, não há cartografia sem distorções, então precisamos estudar a realidade a distorcendo de diferentes maneiras para obter o mais número de distorções possíveis. Como construir um mapa: 1) abra o mapa; 2) estique os polos e deixe os países da Europa e da América do Norte maiores e o sul global pequeno; 3) agora inverta, estique o equador; 4) faça um corte na Sibéria; 5) coloque África no centro; 6) coloque o mar da China no centro; 7) coloque o mapa de ponta cabeça, agora o norte é o sul e o leste é o oeste; 8) faça diferentes mapas temáticos, países com tamanhos proporcionais à sua população, proporcionais à sua industrialização, faça fronteiras religiosas ou das placas tectônicas (as duas dividem e unem povos); 9) pinte como uma criança, como quiser, quem disse que o mar é azul e não cor de rosa como a pantera-cor-de-rosa, pinte como uma pantera-cor-de-rosa; 10) recomece.

Neste mapa podemos cavalgar pelos pampas, savanas e estepes. Corra em todas as direções e plante ervas daninhas para que possa colher arroz. A floresta exige subir em árvores, evite-as. Não é possível evitar. O capitalismo é um rizoma que ninguém sabe onde vai parar, há nele rizomas e árvores escondidos. Só dá para saber se é um rizoma de verdade se não tem começo e nem fim. Se o capitalismo acabar com o mundo não é rizoma, mas se for eterno é rizoma.

E o que é um platô. São perspectivas permeáveis, um platô se mexe, hoje ele está aqui, amanhã ali e aqui. Quem nunca viu uma montanha se mover? A montanha vai até você. Quem nunca viu a química gerando poesia? Só um químico e um poeta que não. Tem que ser nômade e não mônada pelas estepes dos platôs.

E o lobo mau? É um trauma? A chapeuzinho a perda da virgindade? A vovó a frigidez? Freud explica, mas não explica. São muitos lobos maus, au au. A vovó gosta do lobo mau, melhor o tanto mais, ui ui. O lobo mau só come a vovó que tem corpo com órgãos, a outra vovó que tem um corpo sem órgãos não é comida pelo lobo mau com a boca, mas é comida pelo corpo do lobo, e balança o rabinho. O rabinho se torna zona de prazer, desterritorialização, desejo espontâneo. Saia da dialética ?lobo mau x lobo bom?; ?vovó santa x vovó tarada?; há múltiplos lobos, múltiplas vovós. Às vezes a chapeuzinho vermelho é a personagem principal, às vezes é o lobo mau, às vezes é a vovó, às vezes o caçador, e há vezes que a cestinha é a personagem principal. As posições de central e periférico vão cambiando, se mesclando e se separando.

Como disse, não há divisas. Tudo é muito orgânico, muito plástico. Nada é absoluto, nem a relatividade, pois se a relatividade funcionasse sempre seria absoluta e já não seria mais relativa. Olha que perigo não saber quando a relatividade funciona ou não, é uma roleta russa, isso é muito divertido. Mas isso tudo não é bagunça, só é uma ordem que nunca compreenderemos, assim como a dos números primos. Fique calmo matemático, aqui temos sua reterritorialização. Queremos o retorno à sopa primordial, mas tomamos forma, agora nos dissolvemos. Você se torna parte do meu corpo, eu me torno parte do seu órgão sexual, servindo para teu prazer. Quando você se torna órgão sexual meu, sinto prazer quando no teu órgão tocam diversas mãos que não são minhas. A vespa também se torna órgão reprodutor da orquídea, e a orquídea parte do órgão digestório da vespa. Essa é apenas uma das múltiplas portas para o platô rizomático, portas essas que podem ser uma janela, uma parede, uma batata, um signo em significante, um e... e... e...
caio.lobo. 22/02/2024minha estante
Essa foi a resenha mais louca, obscena e obscura que já escrevi




Luciano 07/02/2023

O primeiro capítulo foi o que salvou pra mim
É a primeira vez que eu leio os autores diretamente. Como eu havia imaginado, não foi uma leitura muito fácil. Se fosse apenas pelo primeiro capítulo, eu daria uma nota bem maior. A noção de rizoma é interessantíssima e foi um conceito que me atravessou bastante (tanto academicamente quanto num nível pessoal). É algo que vou conseguir usar na minha pesquisa de doutorado mas também levar pra vida. O problema é que eu achei os dois capítulos posteriores extremamente enfadonhos. Parecia que os autores estavam simplesmente jogando os conceitos sem a preocupação de serem entendidos. Houve muita coisa que eu não entendi. De qualquer forma, o primeiro capítulo fez a leitura valer a pena e continuo curioso em relação aos próximos volumes.
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Gabriel 23/04/2013

Tendencioso
É chatíssimo, mas interessante no começo.
A questão é que o livro é um reflexo dos valores e posturas do individuo diante da sociedade, todo o discurso mascarado por uma questão intelectualizada no fundo revela uma condição de luta contra as hierarquias e qualquer tipo de ordem ou estrutura formal. O conceito de rizoma, que tenta diluir toda forma de árvore e portanto, hierarquias e sequencias, acaba tentando dissolver as implicações disso, e bem a cara do liberalismo super capitalista, tudo deve e tudo se pode, desde que encaixável... isso é a ausencia de regras e valores. Se você se identifica com isso, é um livro maravilhoso, vai te induzir a praticar mais. Entretanto, se você acredita que algumas coisas devem ter ordem e hierarquia, e que o rizoma não é uma divindade a ser adorada, então ele fica a desejar.
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Pseudokane3 09/09/2010

Masturbação demais... Com tudo o que isto implica!
Não sou contra a masturbação, contra a esquizofrenia voluntária ou contra a mixórdia referencial... Sou fã do filósofo Gilles Deleuze, ouso acrescentar, mas este livro incomoda negativamente mais do que diverte ou acrescenta ao nosso intelecto. Gostei do primeiro capítulo, onde se podem captar algumas definições essenciais da proposta temática do livro completo, mas... À medida que o livro avança, tudo soa tão forçado, artificial... O capítulo sobre as pegadas de lobos parece autocrítico a princípio, mas logo se revela enfadonho; e o terceiro capítulo é quase desagradável em suas pretensas desterritorizalizações de discursos lingüísticos conhecidos e/ou desgastados. Conclusão geral: é um livro que diverte, que nos faz gozar, mas extenua muito rápido para sua curta extensão!

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Igor.Kensuke 15/03/2023minha estante
Tenho a impressão de que Mil Platôs é um dos projetos mais pessoais de Deleuze, como se fosse uma realização total, artística, literária, filosófica,uma proposta de avançar uma nova sensibilidade intelectual, mais do que uma obra em si mesma. É de fato um rizoma exemplificado, jamais inteiramente estratificado.




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