Ana 19/08/2021A arte de desaparecerEileen é um belo estudo de personagem. O livro é narrado em primeira pessoa e a gente realmente se sente imerso na mente de Eileen. Uma mente perturbada, que flerta coma sociopatia. O livro é tenso e a gente fica esperando uma tragédia acontecer a qualquer momento. A escrita é esplêndida. Se você gosta de livros que focam mais no enredo do que na escrita ou personagem, provavelmente você não vai curtir esse livro. Ele quase não têm enredo. Nada de fato acontece até o fim.
Eu vejo esse livro como um rito de passagem feminino, uma história de transformação. Eileen é uma mulher de 24 anos que ainda não se descobriu, que se apaga vestindo as roupas da mãe e assumindo diferentes personalidades de acordo com a situação em que se encontra. Mas, ela está ciente das expectativas sociais e morais com relação à mulher nos anos 1960. Espera-se que ela seja uma boa filha, espera-se que ela se case, espera-se que ela tenha bons hábitos de higiene, que se cuide e cuide da casa.
Eileen usa no rosto uma expressão que ela chama de a máscara da morte (em referência às impressões que eram tiradas dos rostos de pessoas mortas em máscaras de gesso desde a Idade Média até o século 19). Ela se auto deprecia e odeia tudo e todos ao seu redor. Nós como leitores temos o privilégio de ver o que acontece por trás dessa máscara. Por trás dessa máscara a gente vê que existe algo de errado com essa mulher. A máscara externa esconde um turbulência interna.
A tensão narrativa acontece porque a escrita transparece uma sensação de catástrofe iminente algo que vai transformar a vida de Eileen. Ela não é uma personagem feminina que admiramos ou da qual gostamos e isso é demais. Ela é desprezivel e escatológica em suas descrições e não pede desculpas por isso. Colérica, irada, irônica e cheia de um humor bastante negro. Eu não esperava mas dei muita risada com esse livro que é sombrio mas muito arguto.