Fernanda Bunning 10/07/2017
Moccia como sempre maravilhoso
Bom, antes de mais nada gostaria de declarar a minha completa parcialidade com este livro. Simplesmente sou muito suspeita com livros envolvendo a Itália, especialmente os de Federico Moccia, escritor italiano que me conquistou irrevogavelmente há alguns anos quando li o livro “Três metros acima do céu”. Faz algum tempo desde o último lançamento do autor no Brasil, então não poderia ficar mais feliz quando a Editora Planeta anunciou o lançamento de “Um instante de felicidade”.
Nesse livro acompanhamos a jornada de adaptação de Nicco, que acabou de perder seu pai e enfrenta um término difícil com sua namorada, Alessia. E nessa realidade Nicco passa a assumir a responsabilidade pela casa e pela família, cuidando de sua depressiva mãe e de suas desajuizadas irmãs, enquanto se equilibra entre seu emprego como corretor e ajudando na banca de jornal.
"Que para cada coisa que você perde outra aparecerá..."
Mas nem só de dramas a vida de Nicco é feita. Seu melhor amigo, Ciccio traz diversão à sua vida, com seu jeito irresponsável, galanteador, meio louco e que não deixa de aproveitar a vida, ainda que nem sempre da maneira mais correta, o que o faz se envolver nas mais inusitadas e engraçadas situações. E graças a ele as coisas começam a mudar para Nicco quando os dois saem em um passeio por Roma e conhecem duas turistas americanas.
"-E por curiosidade, quanto você ganhou com isso?
- Nada. Eu fiz grátis... – Depois, ele levanta o olhar para o céu. – E foi um prazer fazê-lo... – E ergue também a voz. – É bom ter algum pequeno crédito, não? Pelo menos me apagam algum pecadinho...
- Eu não acredito que você negocia até com Deus!"
Enquanto percorrem as ruas históricas e pitorescas de Roma, Nicco se vê envolvido com Ann e os dois formam um casal muito improvável, até porque sequer falam o mesmo idioma, sendo muito interessante a maneira como aos poucos Nicco começa a enfrentar a vida sob uma nova ótica, caminhando rumo à superação do luto e do término.
"Cada dia. Isso, meu pai me fez sentir a importância de cada dia. Cada dia é diferente, cada dia tem valor, é único, mesmo que nós, às vezes, não levemos em consideração tudo isso."
Acredito que a surpresa no livro é que não se trata de um mais um romance açucarado, cheio de dramalhões, como o título e, até mesmo, a capa sugerem (Um pequeno parêntese aqui. Não gostei tanto dessa capa. Gosto muito do estilo da capa dos outros livros que já lançaram no Brasil e que seguem um padrão semelhante às capas estrangeiras. São muito mais bonitas, mas enfim, vamos ficar felizes por ter lançado, não é mesmo rs). É justamente o oposto. Existe o romance que rompe obstáculos, mas a história não depende do casal. É na verdade uma história de superação, repleta de ensinamentos que podem ser levados para a vida, abordando temas conhecidos de nossa realidade, como o luto, o término de relacionamentos e a dificuldade que temos para seguir em frente e nos adaptarmos a novas realidades.
"Você só fica bem assim quando não tem mil pensamentos, quando não se preocupa com nada, quando, sem um verdadeiro porquê, sente-se satisfeito e quando não tem nada para fazer depois. Então, respiro profundamente e sorrio. Olha, é um instante de felicidade. Mas chega logo um pensamento, basta um nada para que o momento passe. Não existe mais. Eu o perdi e já estou me perguntando quando o encontrarei novamente."
Sem dúvidas ajudou muito o livro ser narrado pela perspectiva do mocinho, ao invés da mocinha. Adorei a Ann e sempre que ela aparece consegue deixar a história ainda mais interessante. Foi ótimo ter essa visão de Nicco, que deixou a história ainda mais realista, com seus pensamentos, por vezes, mais ácidos e uma maneira diferente de passar pelos acontecimentos. Enquanto ele relata o presente, está sempre imerso em lembranças familiares e de Alessia, descrita por ele como sendo perfeita de modo que nos pegamos tentando entender o motivo do término, como se o término tivesse ocorrido com nós mesmos.
"Começo a sentir mais simpatia por Pepe e então sorrio para ele, concordo, finjo estar de acordo com ele, pois já sei que mais cedo ou mais tarde se encontrarão. Continuo sorrindo ainda, olho para Ernesto e já o vejo no hospital."
O livro tem tudo que eu mais gosto: a belíssima Itália com sua culinária maravilhosa, muita música e as melhores frases. Ele é praticamente um guia de Roma embalado nas melhores canções com os melhores pratos de acompanhamento. E não, isso não é exagero. O livro menciona diversos lugares em Roma, chegando até mesmo a citar endereços completos e o mesmo se repete com as comidas, deu até vontade de sair experimentando todos aqueles pratos, além de contar com inúmeros trechos de músicas contextualizando com cada cena. Como gosto muito de música adorei ver trechos de algumas de minhas canções preferidas ali.
"De qualquer maneira, e não se pode fazer nada, quando estamos de férias nos sentimos mais leves, é como se os nossos problemas tivessem ficado, de algum modo, em nosso país de origem. Um nova terra não hospeda nossas velhas preocupações."
É, sobretudo, a história de um amor que ultrapassa as barreiras idiomáticas e é a história do renascimento do personagem como uma nova pessoa, vivenciando a liberdade proporcionada pela quebra das correntes criadas por ninguém menos que ele próprio, e não há nada mais bonito que isso. E o autor, com sua escrita dotada de grande sensibilidade, conseguiu nos transportar diretamente para dentro da história e sentir todos esses sentimentos, nos fazendo esperar ávidos pelo final, que não deixou nada a desejar.
"E eu gosto deste seu beijo que parece não acabar nunca, que não enoja, não aborrece, não sacia nunca. Isso, me perco, com ela sei que nos entendemos, é um beijo em todos os idiomas do mundo."
É uma leitura leve, que traz mais sorrisos e reflexões para as nossas vidas, nos levando a pensar nos instantes de felicidade que surgem em nosso dia-a-dia e que nem sempre valorizamos. O livro também possui maravilhosas quotes, de modo que foi difícil não transcrever metade do livro nesta resenha hahaha. É uma homenagem ao amor, à vida e tudo o que nela há de melhor e, também, à Itália. Definitivamente esse livro merece ser lido, relido e transportado para a vida.
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