Pedro Bastos 22/11/2013Publicidade indireta para a Starbucks"Como a Starbucks salvou minha vida", apesar do título apelativo, tinha tudo para ser uma grande obra sobre a vida do executivo Michael Gates Gill. Publicitário bem-sucedido, o cara, aos sessenta e poucos anos de idade, se deparou vivendo a própria contradição do trabalho que tanto o deixava orgulhoso: acabou indo parar no olho da rua, demitido, "velho", "imprestável".
Esse choque de realidade na vida de Mike, que não só o despejou da alta sociedade bem como contribuiu para modificar a sua visão de mundo, foi muito bem explorado nos dois primeiros capítulos. O livro, neste sentido, parecia ser uma bela duma crítica à dinâmica do trabalho contemporâneo e à sua falta de respeito com os trabalhadores já não tão "produtivos", sobretudo no mercado privado.
No entanto, o que se viu no restante do livro, após a contratação de Mike na Starbucks, foi nada menos que uma descrição minuciosa de como funcionam os processos de trabalho na cafeteria, como se dá a gestão das filiais, como os "parceiros" se relacionam, o comportamento ético da gerente, os benefícios oferecidos, et cetera, e tudo sob uma perspectiva bastante cor-de-rosa, o que, seguramente, acabou parecendo uma ação publicitária indireta a favor da Starbucks.
Se a intenção do autor era mostrar como sua vida mudou graças ao "subemprego" como vendedor de café, esse objetivo acabou ficando em segundo plano, pois chamou muito mais a atenção, ao longo da história, as supostas mil e uma vantagens do trabalho na loja do que a superação de Mike em aceitar sua nova realidade cuja qual foi explicitada - e defendida - já nos primeiros capítulos. Em outras palavras, o clímax veio antes de tudo. Desperdício.
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