AleixoItalo 28/11/2020Em Pastoral Americana vemos como Roth implode uma típica família norteamericana perfeita, afundada em suas próprias expectativas. Algo semelhante ocorre em O Complexo de Portnoy, onde o objeto de estudo é um típico homem bem sucedido, escravo de seus traumas e perversões.
A trama acompanha Alexander Portnoy, de origem judaica, que vai de uma típica criança prodígio com futuro promissor até uma carreira bem sucedida, no divã de seu analista reclamando e botando pra fora todo seu ódio contra o mundo.
Machismo, erotismo e um ódio declarado contra os modelos ideais da sociedade são temas recorrentes em seus livros. Aqui Portnoy verte toda sua fúria contra a cultura judaica na qual foi criado, sua incapacidade de relacionar com não judeus (as shikses especificamente), suas perversões e sua agonia na incapacidade de ser uma criança normal.
Talvez a mensagem principal é mostrar como eventos aparentemente obsoletos do passado podem marcar para sempre a vida de uma pessoa. Fanatismo religioso, hipocrisia, preconceito e a superproteção da família (em especial sua mãe) marcam para sempre o que viria a ser Portnoy.
Mais do que isso, Portnoy escreve sobre o mundo masculino, não de uma maneira nobre, mas de modo atroz, sobre como a luxúria pode nos condenar e corroer por dentro. Sexualidade e desejo são forças poderosas no desenvolvimento humano e muitas vezes nos tornamos escravos de nossos instintos.
Polêmica e com fama de intragável, a literatura de Roth não é para acalentar e sim gerar reflexão. Roth escancara seus personagens para além da imagem perfeita que o mundo exige deles e exibe o espírito humano em sua mais crua amostra.