bia prado 07/07/2019"É justamente por isso que você, não eu, é quem é responsável por suas expectativas e seus sonhos"Primeiro pensei que esse livro não era pra mim. Um homem judeu nos anos 50/60 falando pro psicólogo sobre suas inibições sexuais e perversões e como suas relações familiares praticamente ferravam com qualquer possibilidade de ter um êxito sexual, seja pelas expectativas deles, seja por uma questão de se encaixar em padrões e ser respeitável, não um safado; seja por seus traumas na infâncias quando estava descobrindo a sexualidade. No final, tudo se resumia ao fato de que ele tinha que reprimir seus desejos e essa castração o perturbava até quando adulto e, teoricamente, dono do próprio nariz. E o que isso teria a me interessar? Eu já passei por Bukowski e sinceramente não vi muito graça nesses homens brancos insaciáveis querendo foder diversas mulheres.
Em “O complexo de Portnoy” senti isso no começo. Ele é um burguesinho pervertido e nojentinho em muitas cenas. Se masturbando no ônibus, perseguindo mulheres, fazendo propostas sexuais a qualquer uma e nunca querendo sossegar o facho. Mas eu estava tentando achar algo de positivo nessa leitura, porque realmente estava muito curiosa para finalmente descobrir essa história e, na verdade, ele é bem divertido em certas partes. Me peguei rindo das situações em que Alex se coloca e de como ele simplesmente não consegue ter a liberdade sexual que tanto deseja sem sentir culpa. Tudo que ele fazia para buscar prazeres sexuais acarretava nele se dando mal ou machucado. Acho que ele até gosta desse sentido proibido e transgressor e pecador do sexo, isso o incita de certa forma, pois ele não quer ser reprimido e essa luta interna de valores do personagem acaba sendo cômica.
O livro foi muito chocante quando foi publicado em 1969 e talvez não choque tanto o leitor moderno como chocou no passado mas realmente é um livro meio absurdo. Eu lia umas coisas e não acreditava que ele consagrou o Philip Roth como um grande autor americano, esta sendo a primeira ou segunda obra mais importante de sua carreira. Alex assedia as mulheres. É machista, xenofóbico, racista, gordofóbico e, comicamente, é o comissário adjunto de Recursos Humanos de NY. Realmente é difícil defender esse homem.
Segui a leitura meio sem saber onde isso ia dar, mas ainda não sei se vou querer me livrar de meu exemplar. É importante considerar que é um livro que fala sobre tabus, religião, nossa percepção sobre a infância e como nos recordamos desses momentos, pois nossa memória é falha. Nossa própria percepção distorcida, ou a forma como aquilo nos afetou e afeta ainda hoje nos moldam como pessoas adultas. Mas, ao final, é um livro falocêntrico, que teve, sim, sua importância e influência, mas que também possui suas falhas.