Otávio Augusto 25/03/2023Literatura polêmica me chama a atenção. Muitas vezes se trata de obra que atenta contra a moral, os bons costumes e a religião, ou seja, a ortodoxia do mundo. "O Complexo de Portnoy" não é diferente.
O meu primeiro contato com o autor se deu com "A humilhação", novela curta sobre a decadência de um homem. Achei-a excelente, concisa e poderosa. Então, senti vontade de ler seu livro mais polêmico. Apesar de ter visto resenhas antes da leitura, eu me surpreendi: a obra é muito mais do que uma epopeia da masturbação, como alguns o dizem.
Em suma, o livro é um longa sessão de psicanálise de Alexander Portnoy. Em seu relato, Portnoy discorre sobre o seu fracasso social, a sua incapacidade de se relacionar de maneira razoável e satisfatória com sua própria família, a qual o sufoca em tradições judaicas herméticas e ortodoxas; e com suas amantes, que são vistas como não mais do que objetos sexuais, alvos de sua libido e mente egocêntricas. Quando não consegue realizar seus desejos pela conjunção carnal, ele os alivia pela masturbação, símbolo máximo do seu individualismo.
O relato de Alex possui diversas características que engrandecem o romance. Uma delas é o fato do narrador não ser confiável. Alex é tão egocêntrico que seu relato assume uma prepotência enorme, a ponto de gerar um efeito cômico surpreendente; poucos livros me fizeram rir tanto quanto este. Em certos momentos, parecia que eu estava ouvindo um adolescente narrando suas novas aventuras sexuais fictícias para seus amigos ingênuos.
Por outro lado, o romance não se limita a essa visão narrativa. Além desse olhar autocentrado de Alex, ele também nos fornece um relato de cunho autodepreciativo e autocrítico; ele tem noção de sua mesquinharia, de sua solidão no mundo. Sabe que está fadado a viver às margens da sociedade, pois a vida padrão da burguesia judaica não é para ele. Na verdade, sua personalidade e "fracasso" de vida podem ser atribuídos, ao menos em parte, à criação restritiva que sofreu por parte de sua família. Já dizia Freud - e o livro é uma sessão de psicanálise, inaugurada por ele - que repressão demais poderia gerar neuroses. Nosso protagonista certamente se identifica com isso.
Por fim, é um livro que mostra como uma pessoa inteligente - Alex tem 158 de quoeficiente de inteligência - pode tomar rumos condenáveis e assumir uma personalidade detestável e avessa à sociedade e à religião, que é mostrada no romance como um instrumento de controle. Não é um livro perfeito; em alguns momentos eu achei um pouco repetitivo, mas certamente vale a leitura. Philip Roth sabe escrever sentimentos e cenas degradantes, decadentes e nojentas como poucos. Ler literatura fora do padrão também faz bem; amplia nossos horizontes.