Luiz.Goulart 07/09/2021Os judeus de Roth pedem passagemPhilip Roth foi um dos escritores mais prestigiados no mundo, o único americano em vida a ter suas obras completas publicadas pela Library of America, instituição que objetiva preservar a herança cultural americana. Oito dos seus livros foram adaptados para o cinema e o número de prêmios é respeitável, só tendo lhe faltado o Nobel, o que sempre motivou críticas unânimes à academia sueca.
O Complexo de Portnoy é a terceira obra de Roth e quando do seu lançamento, em 1969, foi uma bomba em termos de repercussão e polêmica. O livro levou o autor ao patamar dos grandes escritores e deixou-o milionário. Em 1972 o livro foi adaptado para o cinema
Toda a narrativa do livro é uma grande sessão de terapia do judeu americano Alexander Portnoy, — todos os protagonistas dos livros de Roth são judeus, como ele, espécies de alteregos — e aqui o narrador expõe ao analista suas pulsões sexuais incontroláveis e as obsessões com as quais não sabe lidar e que tenta, sem sucesso, reprimir.
Ao mesmo tempo o livro é obsceno e divertido e Portnoy tornou-se símbolo de uma cultura, um feito e tanto para um autor que ainda escreveria, com grande sucesso, dezenas de livros depois deste.
Quase meio século após seu lançamento, O Complexo de Portnoy mantém sua força, mesmo não chocando tanto como nos anos 70 e 80, quando a contracultura e a luta pelos direitos civis eram mais vibrantes.
Portnoy, o atormentado pelo seu forte Complexo de Édipo e culpa, não terá facilidade para se livrar das suas neuroses e da fortíssima influência da mãe judia — mãe judia é um clássico: "Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência que, no primeiro ano na escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada. Assim que tocava o sinal ao final das aulas, eu voltava correndo para casa, na esperança de chegar ao apartamento em que morávamos antes que ela tivesse tempo de se transformar. Invariavelmente ela já estava na cozinha, preparando leite com biscoitos para mim. No entanto, em vez de me livrar dessas ilusões, essa proeza só fazia crescer minha admiração pelos poderes dela”.
Com linguagem vulgar e narrativa sem cronologia, quase fluxo de pensamento, já que se trata de uma grande sessão catártica com um terapeuta, Roth não economiza nas tintas e percebemos um Portnoy repleto de autoironia, inteligência e sagacidade. Em certas passagens, como já foi relatado por vários leitores, fui tomado por gargalhadas. Despudorado e engraçado, esse livro conquista. Não pede licença nem perdoa.
Leia-o com deleite e sem culpa. Deixe toda culpa para o pobre Portnoy, pois ele já a tem de sobra.
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